Salários em atraso nas Lajes: “No Governo português, estamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance para resolver esta situação”
O ministro dos Negócios Estrangeiros aponta responsabilidades aos Estados Unidos, mas elogia a embaixada norte-americana. Sobre a passagem de caças F-35, em abril, Paulo Rangel promete esclarecimentos no Parlamento, mas rejeita falta de sintonia no Governo: "Houve um abuso de interpretação do nosso comunicado”
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Foi chamado ao Parlamento por causa da passagem na Base das Lajes dos caças F-35. Já conseguiu apurar o que é que se passou com a falta de procedimento sobre a comunicação prévia?
Como eu vou ao Parlamento, lá darei as explicações. Aliás, o PSD fez questão, eu pedi mesmo ao PSD que fizesse questão de o fazer. Pronto, sinceramente. Aqui a questão mais importante é o processo que está em curso no Médio Oriente, em que nós temos que apoiar muito o plano Trump, porque é a única via que temos para depois chegarmos a uma solução de médio prazo. É fundamental. Portugal contribuiu muito para isto. Eu tenho ouvido para aí algumas pessoas a dizerem “Ah, e o reconhecimento da Palestina aqui, agora, podia ser só agora?” Eu estou a dizer o seguinte: estive com o ministro saudita em Riade esta semana e estive com o ministro turco Hakan Fidan, muito importante nas negociações, para trazer o Hamas para este consenso. O facto de estes países ocidentais, juntamente com uma série de países árabes, terem assinado a Declaração de Nova Iorque, que levou àquele ato de reconhecimento, foi fundamental para darmos este passo. Ninguém se esqueça que Starmer [primeiro-ministro britânico] anunciou o reconhecimento com o Presidente Trump sentado ao seu lado, obviamente disse que discordava, mas sentado ao seu lado, não o fez sozinho. Isto quer dizer que houve aqui um caminho que foi construído por parceiros ocidentais, pelos parceiros do Golfo e que desembocou nesta oportunidade única que temos — que é extremamente frágil: correr bem ou correr mal. Nós temos muita experiência disso, porque estamos a viver assim desde 1948, com avanços e recursos e com momentos muito difíceis e terríveis de guerras e este momento agora, de Gaza, também muito difícil. A questão dos reféns, felizmente, foi agora resolvida, também era um problema gravíssimo que tínhamos todos nas nossas mentes. Solidariedade com os israelitas que foram objeto desse massacre e depois também com o excesso que houve com o povo palestiniano em Gaza. Portanto, sinceramente, Portugal teve aqui um papel discreto, mas efetivo. Um dia escreverei sobre isso. Não posso dizer mais agora, mas, para mim, o fundamental não é estar aqui agora à volta das flotilhas para trás, flotilhas para a frente, se é isto, se é aquilo. Não é isso, é: vamos apoiar o plano Trump, vamos estar disponíveis para colaborar naquilo que for necessário, vamos facilitar aquilo que é extremamente difícil de obter, que é um cessar-fogo consistente, que nos permita mudar o destino daquelas populações que estão ali a sofrer tanto e que com um conflito que não tem solução há décadas.
Não houve aqui uma falta de sintonia por parte do Governo português com várias vozes a falarem sobre esta questão?
Não é verdade, não houve nenhuma. Isso foi um abuso de interpretação do nosso comunicado, e foi mesmo um abuso, mas, enfim, eu não vou falar sobre isso porque não é aqui que eu vou falar, não vou dar importância a esse assunto. Vamos concentrar-nos em apoiar o plano Trump, os países Egito, Catar, Arábia Saudita, Jordânia, Turquia, que estão muito empenhados em levar isto para a frente. Israel também precisa muito da nossa ajuda, vamos todos colaborar para conseguir uma solução de cessar-fogo, cessação das hostilidades, não haver mais estas matanças que o Hamas continua a fazer, não haver também reações de Israel que podem pôr em perigo este processo nesta altura, vamos trabalhar para isso, isso é que é importante para acabarmos com esta crise.
Outra questão em cima da mesa, também relativa à Base das Lajes, tem a ver com os salários em atraso. O próprio governo regional, que é liderado pelo PSD, já pediu uma intervenção sua junto da Administração norte-americana…
Não precisava de pedir porque nós estamos sempre em cima destes acontecimentos e estamos em diálogo intenso com as autoridades americanas. Esta não é uma questão nova: já aconteceu várias vezes com vários governos regionais e com vários governos nacionais. Estamos todos a trabalhar: o Governo Regional dos Açores, os partidos na oposição... estamos todos empenhados em que essa questão se resolva o mais depressa possível. Não é a primeira vez que isto acontece, infelizmente, porque isto tem a ver com as regras de funcionamento da aprovação dos orçamentos nos Estados Unidos, que criam isto em todo o mundo. Neste momento o problema que temos na Base das Lajes, que diz respeito a cinco dias de salário em atraso, está a existir em todas as bases americanas no mundo inteiro. Mas, efetivamente, os Estados Unidos têm aqui responsabilidades, a embaixada norte-americana tem sido inexcedível e nós estamos em contacto com eles. Portanto, sinceramente, julgo que as questões se resolverão o mais depressa possível. Mas há uma coisa que é certa: o Governo português, e não tenho dúvidas, todos os outros, estamos a fazer tudo o que está ao nosso alcance para resolver esta situação.