“Antes das campanhas, Luís Montenegro é sempre visado pessoalmente e a resposta do eleitorado é claríssima”
Na Grande Entrevista TSF-JN, Paulo Rangel afirma que o país quer estabilidade, seja nas autarquias, no Governo ou nas Presidenciais: “Vai ser uma corrida difícil, mas vai ser Luís Marques Mendes a tomar posse”
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Há uma semana, nas autárquicas, o PSD conseguiu recuperar a liderança da Associação Nacional de Municípios, doze anos depois. No entanto, perdeu ainda algumas câmaras importantes, como capitais de distrito, que foram ganhas pelo Partido Socialista. Que leitura é que faz destes resultados? A governação pesou, de certa forma, neste resultado?
Em primeiro lugar, eu queria dizer que são resultados, ótimos, quer dizer, de facto, foi uma vitória em toda a linha e, portanto, evidentemente, que nas eleições autárquicas há sempre surpresas e há sempre perdas e ganhos. Agora, de facto, ganhar as cinco maiores câmaras do país, ganhar câmaras como, por exemplo, Guimarães, Beja, enfim, que são câmaras, em Beja nunca tínhamos sido poder autárquico, ou o Sobral de Monte Agraço, enfim, para usar um exemplo um pouco mais pequeno, ganhar câmaras como Baião, por exemplo, ou Guimarães, que eram bastiões do Partido Socialista há décadas.
E com efeito simbólico, no caso de Baião…
No caso de Baião, com efeito simbólico, já agora também São João da Madeira, porque parece que o antigo líder do Partido Socialista e que foi responsável pelas escolhas autárquicas também veio fazer leituras nacionais, evidentemente que é uma vitória, não é robusta, é robustíssima, quer dizer. Claro, a governação terá algum efeito? Terá porque, nomeadamente o primeiro-ministro Luís Montenegro antes das campanhas eleitorais, não sei porquê, é sempre visado pessoalmente e a resposta do eleitorado é claríssima, é que a governação está a ser uma governação boa, os candidatos que nós apresentamos são candidatos credíveis, uns com obra feita, por exemplo, se pensarmos em Gaia, em Sintra, em Lisboa, evidentemente, onde, aliás, o resultado foi muito, muito, muito claro e é expressivo ao contrário do que se dizia. Mas eu isso tinha dito ao Carlos Moedas: 'Olha, não te preocupes com isso porque eu tenho a certeza que o eleitorado de Lisboa vai reconhecer o trabalho que foi feito.' E foi isso que aconteceu, o caso de Cascais também é evidente. Noutros, enfim, a verdade é que toda a gente dizia que Aveiro e Braga eram, estavam ali com pontos de interrogação, ora a verdade é que ao fim foram vencidos por nós, portanto sinceramente eu acho que o PSD reforçou a sua maioria no governo, nas eleições legislativas de maio, nas regiões autónomas onde continua a ter, quer na Madeira, quer nos Açores, resultados expressivos e depois nas eleições locais, sendo o governo que normalmente é penalizado.
O tal cartão amarelo?
O que tal cartão amarelo é exatamente ao contrário, porque os portugueses querem estabilidade. Nas grandes autarquias em que ganhamos, o candidato tem muita importância, sem dúvida, mas aí sabemos, porque estamos a falar de 500, de 350 mil, de 250 mil pessoas, portanto estamos a falar de universos eleitorais onde obviamente a escala nacional também tem um peso, os portugueses estão a dar um sinal, querem estabilidade, isto é muito importante. Nós vamos ter eleições presidenciais e, portanto, evidentemente que é importante para o próximo ciclo que se compreenda que os portugueses querem que o governo trabalhe. Se quiser, para usar uma expressão um pouco mais, digamos, de campanha eleitoral, os portugueses querem que “se deixe o Luís trabalhar”. Isto é uma coisa evidente.
Disse que antes das eleições surgiram novamente casos sobre o primeiro-ministro e que as eleições são como que uma validação, um segundo aval depois das legislativas e face ao caso Spinumviva. É a isso que está a referir-se?
Eu já vi isto, sabe que eu tenho memória política, apesar de ser muito novo na altura, mesmo do 25 de Abril e eu sou capaz de escrever por memória. E, no caso de Sá Carneiro foi a mesma coisa, foi atacadíssimo, com Mota Pinto é a mesma coisa, quer dizer, isto não é uma coisa nova, não é uma coisa que surgiu agora, às vezes os média falam como se tivessem descoberto uma grande coisa. Não, isto é recorrente, a tentativa de descredibilizar aqueles políticos que estão a fazer um trabalho de verdadeira mudança. As pessoas que querem os seus problemas resolvidos estão com o Governo que está a resolver os problemas, não está atrás da espuma dos dias, não está atrás desta campanha para aqui e daquela para acolá, não vive na bolha. O Governo não vive na bolha. Há outros que vivem na bolha, mas no Governo não vive. E, portanto, sinceramente, as pessoas reconheceram isso. Acho que isso tem uma leitura nacional, para mim é evidente, mas obviamente também tem muito trabalho local. Não vale a pena estarmos aqui a dizer quem ganhou ou quem deixou de ganhar as eleições porque isso é um facto público e notório, até com algum estrondo, isto é, com uma força e uma robustez que obviamente dá um grande ânimo ao Governo e a quem é membro do Governo.
No Porto, Pedro Duarte venceu sem maioria absoluta, mas quer governar sozinho, sem acordo, tal como fez Luís Montenegro. Acha que é a melhor estratégia para a Invicta?
Eu conheço muito bem o Pedro Duarte, ele foi meu aluno no primeiro ano em que eu dei aulas e conheço-o desde sempre. Sinceramente, eu não via melhor candidato para o Porto. Quando digo o melhor candidato não é só do PSD. O Porto precisa de um estímulo de modernidade. O Porto teve um ciclo de Rui Rio, que foi um ciclo de pôr a casa em ordem e que teve, por exemplo, um papel determinante nesta ascensão do turismo, a importância que deu ao aeroporto, a importância que deu à reabilitação da baixa, estava a pensar antes do tempo. Depois veio o Rui Moreira cujo trabalho autárquico eu também elogio. Não era o candidato PSD, mas, na verdade, não posso deixar de elogiar porque ele foi capaz de pegar na administração rigorosa de Rui Rio e de dar-lhe uma projeção cultural, uma projeção de relançamento da marca da cidade, que foi muito importante. Relembro especialmente um dos pensadores, juntamente com o Rui Moreira, dessa reforma, que era o Paulo Cunha Silva, que foi um vereador da cultura absolutamente excecional e que é um grande amigo de quem sinto muita falta. Mas Pedro Duarte é de facto uma nova geração. Pedro Duarte é o homem da inteligência artificial, é o homem da era digital e depois tem um estilo sóbrio que condiz um pouco, se quiser, com aquela austeridade da canção de Rui Veloso sobre o Porto, enfim. Essa tem um lado um bocadinho ainda pardacento, para usar, enfim, a letra do Carlos Tê, mas, na verdade, ele tem essa sobriedade tipicamente, eu diria, do Porto, mas tem, ao mesmo tempo, essa modernidade e essa visão.
Insisto na questão: seria preferível haver um acordo para garantir estabilidade na coordenação do Porto?
Não, sinceramente, nós estamos a governar em condições que são análogas àquelas que vai ter o Pedro Duarte, ou que tem alguns paralelos, enfim, tudo é diferente e a governação de uma autarquia depende muito mais do Presidente da Câmara do que depende das maiorias também. Os Presidentes da Câmara têm competências próprias, o Executivo tem mais importância do que têm as Assembleias Municipais, faz parte da estrutura e, se quiser, da estrutura constitucional do Governo das Câmaras Municipais. Portanto, a margem de manobra do Presidente da Câmara, que, aliás, no fundo, é eleito diretamente, porque é sempre o cabeça da lista, da lista ganhadora, é totalmente diferente do que acontece com o Governo, em que as coisas não são assim. Portanto, desde logo isso dá uma capacidade de atuação a um Presidente da Câmara e à sua equipa muito maior do que tem num governo nacional. Isso é a primeira questão e isso é assim mesmo e é assim que se deseja que seja, porque obviamente se está a tratar do dia a dia das pessoas e o impacto nas suas vidas direto é enorme. Depois, obviamente, que eu acho que ele tem todas as condições para governar dessa maneira, negociando em cada coisa e se há pessoa que tem capacidade de diálogo e capacidade de incorporar ideias positivas dos outros é o Pedro Duarte. O Pedro Duarte tem esse perfil também de ser uma pessoa, como, aliás, se viu no seu discurso de vitória. Já agora, devo dizer também, que basta olhar para os 16 anos que foi Presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia, Luís Filipe Menezes, com um estilo pessoal bastante diverso, a verdade é que também tem essa capacidade. Porque eles estão a pensar no bem das populações, são pessoas que têm isso no seu ADN e, portanto, evidentemente, sinceramente essa questão será uma questão que aflorará aqui ou lá, aqui ou ali, haverá momentos com certeza em que será mais difícil fazer, passar esta ou aquela medida, mas eu não tenho dúvida alguma de que o modelo de governação que o Pedro Duarte escolheu é aquele que é melhor para a cidade e vai ter resultados sem dúvida nenhuma. Nas autarquias, as lógicas são bem diferentes da lógica nacional e, portanto, também isso obviamente põe sobre os vereadores da oposição, sobre os deputados municipais das oposições, um peso que não lhes será perdoado se eles também não tiverem esse espírito de cooperação e eu tenho certeza que terão. Sinceramente conhecendo quer a lista do PS, quer o cabeça da lista do Chega, não tenho dúvidas que haverá um espírito de cooperação com a cidade e com o Pedro Duarte.
Falou da questão de Gaia, onde foi candidato à Assembleia Municipal. Luís Filipe Menezes, que já tinha cumprido quatro mandatos, regressou agora e não foi caso único no país de autarcas que regressaram para voltar a assumir as presidências das câmaras. O que é que estas escolhas nos dizem sobre renovação política do PSD? Com tanto passado, faz sentido dizer que Gaia regressa ao futuro?
Claro, isso foi o lema que eu, aliás, introduzi, é o regresso ao futuro. É preciso conhecer Luís Filipe Menezes, é preciso perceber o caráter visionário que ele teve. Luís Filipe Menezes salvou Gaia, em 97, da terceiromundização e ele evitou problemas que hoje existem, por exemplo, na cintura de Lisboa e que na cintura do Porto não existem. E não existem porque houve uma pessoa com uma visão enorme que, não só foi ao encontro das necessidades dos mais vulneráveis, dos mais pobres, dos excluídos, daqueles que estavam em bairros em risco de implodir, como soube aproveitar uma costa marítima única, aproveitar o rio e todas as suas virtualidades e aproveitar uma coisa que é singular no contexto nacional e singular, se quiser, até no contexto internacional, é que tem duas cidades, Gaia e Porto, cujos centros estão completamente ligados, porque elas em tempos foram uma única cidade, antes de Mouzinho da Silveira, por exemplo. E Luís Filipe Menezes, basta ouvi-lo, nós já estamos a ver o século XXII quase. Ele de facto tem capacidade de projeção daquilo que são as necessidades do momento e aquilo que é o lançamento de um município no futuro.
E para falar no futuro próximo, temos o Orçamento de Estado em cima da mesa. A abstenção exigente, como lhe chamou o PS, retira drama a esta discussão do Orçamento de Estado ou advinha eventualmente que um entendimento entre PS e Chega para o aumento permanente das pensões possa causar algum drama nessa discussão?
Eu sinceramente queria desdramatizar a discussão do Orçamento. Deixe-me em primeiro lugar dizer que o Governo fez aqui um exercício de grande responsabilidade e fazer um elogio de enorme admiração ao ministro Miranda Sarmento. Queria deixar aqui essa nota, porque todas as pessoas que preparam o Orçamento nunca viram, nem no ano passado, nem neste ano, uma forma tão metódica que não leva ninguém a fazer noites e noites como era histórico, que, aliás, depois também punha os jornalistas a trabalhar noites e noites e noites.
Desta vez até anteciparam o dia…
Sim, claro, até se podia ter antecipado, no meu ponto de vista, devia-se ter antecipado mais, porque o Orçamento estava praticamente pronto desde o fim de semana. Portanto, não há nenhuma razão. E também se fez disso um caso, isso é extraordinário. Isto foi uma forma de exercício democrático. Sinceramente, eu apelo à responsabilidade. Aparentemente a liderança do Partido Socialista demonstrou essa responsabilidade, porque sabe, e já sabia, no fundo, antes das eleições, que os portugueses não querem instabilidade. Esta é a grande mensagem que nós temos que pensar, mesmo agora para a campanha presidencial. É fundamental que se compreenda que os portugueses querem estabilidade e querem que o governo faça a sua política, apresente os resultados e depois estarão dispostos para julgá-lo. Eu tenho a certeza é que nós estamos a governar muitíssimo bem e que os portugueses nos vão dar, como deram agora nas eleições autárquicas, mais legitimidade no futuro. Mas o que eu estou a dizer é, os portugueses o que querem é governem, resolvam os problemas principais do país e ponham-nos em vias de resolução, o caso da habitação exige algum médio prazo, mas há medidas urgentes. Portanto, eu queria aqui dizer sinceramente, eu acho que o Orçamento tem de deixar de ser esse momento quase de drama. O Orçamento é um instrumento de trabalho fundamental, com certeza, para a política do dia a dia, mas não é o alfa e ómega da vida dos portugueses.
Estou a recordar-me do que escreveu António Costa no prefácio do livro que vai ser lançado de Vital Moreira, a defender um orçamento enxuto, onde fiquem de fora outras matérias…
Foi o que aconteceu aqui. Mas, sinceramente, esse prefácio de António Costa é altamente polémico, eu estou totalmente contra a visão, mas isto falo agora, não como membro do governo, nem sequer como, militante do PSD. Eu tenho imensa coisa escrita, no plano académico e científico, alguma até recente, de 2023, e digo, bastante profunda, enfim, falo em causa própria. Sou totalmente contra este esvaziamento da figura presidencial, acho que isso é um erro completo, é uma leitura errada daquilo que foram estes 50 anos e daquilo que é a vontade dos portugueses. Portanto, sobre esses escritos de António Costa posso até concordar com esse contributo para uma certa, digamos, normalização do orçamento e da forma como ele é visto no ciclo político anual. Mas esta ideia de parlamentarização do regime parece-me errada, eu acho que o regime precisa também de uma representação com um momento, digamos, unipessoal, que faz as pessoas refletir, que obviamente às vezes também cria algumas entorses no sistema, mas também tem muitas coisas positivas. Eu julgo que se pode melhorar a engenharia constitucional, não há nenhuma urgência, eu até sou em alguns casos favorável a uma maior capacitação do Presidente da República e digo isto agora, como analista do sistema, queria que se percebesse isto, eu não faço ideia se o PSD, enfim, conheço bem as posições do PSD sobre o sistema de governo, mas não faço ideia se numa revisão constitucional seria seduzido por alguma destas coisas. Eu serei sempre contra isso e serei porque acredito fielmente que o nosso sistema de governo é um sistema equilibrado, que pode oscilar em momentos, enfim, de maior ou menor intervenção presidencial, é evidente que se um governo é minoritário a intervenção do Presidente é mais relevante do que quando ele tem uma maioria absoluta, seja de coligação, seja de um só partido, isso faz parte das dinâmicas dos sistemas semipresidenciais. Mas eu ao contrário do que defendeu o Vital Moreira e do que parece agora, enfim, por razões que não compreendo bem quais são, defender António Costa, que, aliás, não devia ter razões de queixar o Presidente da República, que foi bastante, diria eu, tolerante e até, enfim, simpático com a sua governação. Porventura, em alguns casos até demais, mas isso faz parte também. Vivíamos aí crises importantes, aquela crise da pandemia, obviamente exigia uma solidariedade institucional e política muito, muito grande, portanto, e não foi um ano, foram três anos quase à volta disso, depois que rebentar da guerra da Ucrânia, portanto, enfim, talvez fosse injusto estar a dizer que houve alguma...
Mas vê alguma ingratidão por parte de António Costa?
António Costa está sempre a intervir, não é? Até nas questões locais, portanto, enfim, está lá no Conselho Europeu, mas de vez em quando gosta de vir aqui fazer valer a sua influência, o que eu não acho mal, antigos primeiros-ministros intervirem, acho muito bem.
Como Pedro Passos Coelho?
E como o professor Cavaco Silva, que até é antigo Presidente, também acho muito bem. Mário Soares fez assim, foi antigo primeiro-ministro e antigo Presidente e foi altamente ativo. Isso faz parte, são senadores da República, nós temos de os ouvir... Depois podemos concordar ou não, eu aqui estava a concordar com uma parte e a discordar completamente com a outra. Portanto, é uma coisa que eu acho que é um grande benefício que o país tem, que os senadores da República, aqueles que deram um grande contributo, conhecem bem as instituições, têm experiência, possam de vez em quando intervir e fazer valer as suas opiniões também e partilhá-las com, acho que é uma responsabilidade que eles têm. O mesmo vale para Durão Barroso.
Para fecharmos o capítulo do Orçamento, acredita ainda que o Chega possa viabilizar esta proposta?
Sinceramente, eu não vou entrar agora nessa especulação. Acho que aos partidos da oposição se pede uma grande responsabilidade e perante este exercício que o governo fez, que é um exercício de facto de uma grande seriedade e muito construtivo, eu acho que eles darem esse sinal só os beneficiaria, mas não me compete a mim falar pelo interesse partidário dos partidos da oposição, eles que julguem o que para eles é melhor.
Na Lei de Estrangeiros, o Presidente da República deixou um recado dizendo que a nova versão da lei só responde “minimamente” ao que era exigido…
Sinceramente acho que se está a fazer disso também, mais uma vez, uma grande agitação marítima numa coisa que é apenas a maré alta e a maré baixa. O Presidente da República levou a anterior versão ao Tribunal Constitucional e não levou esta, portanto é porque ele não tem dúvidas sobre a constitucionalidade. Ele diz que cumpre, pronto, enfim, depois escolheu esta formulação e eu respeito sempre estas formulações. Eu compreendo muito bem o papel que tem o Presidente da República e as coisas que diz e faz, agora sinceramente neste caso o que me parece claro é que ele perante uma versão da lei entendeu que devia pôr uma questão ao Tribunal Constitucional, perante esta entendeu que não devia pôr, porque considerou que estão cumpridos esses requisitos. Ponto final, portanto, está cumprida, porque a política geral do país. Quem a define é o governo. Tem um limite que é a Constituição, se o Presidente da República considera que a Constituição foi cumprida, nós estamos muito satisfeitos com aquilo que estamos a fazer na área da Lei dos Estrangeiros e da imigração. Essa é uma questão fundamental para a qual muita gente andou distraída, infelizmente, o governo herdou uma herança pesadíssima, com consequências muito sérias sobre o país em geral, sobre a perceção das populações, decerto, mas também sobre efeitos reais, nas escolas, nos hospitais. Olhe para a Dinamarca, tem um governo socialista que tem uma política de imigração que, essa, eu acho injusta para os migrantes, até acho que vai longe demais, mas porque estão a responder a perguntas da população. Isto é assim em toda a Europa. As pessoas não enlouqueceram de repente, as pessoas não estão contra os migrantes, mas querem uma imigração regulada e é isso que nós queremos e esta Lei dos Estrangeiros tem esse papel. Eu, que sou um grande estudioso das questões de Direito Constitucional, critico a anterior a decisão do Tribunal Constitucional. Eu acho que os juízes não compreenderam bem que a Constituição não é apenas o que está escrito, a Constituição é “norma, facto e valor” no contexto em que nós estamos, elas têm que ser interpretadas de uma forma que atenda ao momento em que nós estamos, por isso é que há um Tribunal Constitucional. Se fosse uma coisa literal, evidentemente não era preciso nenhum Tribunal Constitucional e, portanto, sinceramente sou crítico disso, estou muito satisfeito com a atual versão. Ela não só cumpre a Constituição como está em linha com aquela que é a política do governo e o governo está aqui a resolver este problema. Houve aqui uma incúria total do governo socialista. Não vale a pena agora o Partido Socialista vir dizer o que quiser, o governo socialista, pura e simplesmente, não quis enfrentar esta questão, pelo contrário, agravou-a, extinguiu o SEF que foi, enfim, eu diria um crime político cujo preço ainda estamos a pagar e pagaremos, portanto, quer dizer, ou nós aceitamos esta realidade, ou então metemos a cabeça na areia e fazemos conta que ela não existe, pronto, acho que isso será pior, sinceramente.
Mas independentemente da utilidade e da bondade da proposta, olhando para as leis de Estrangeiros e da Nacionalidade, não podemos dizer que o Chega tem sido de facto o parceiro preferencial da AD?
Não, não é questão de ser parceiro preferencial, quer dizer, sinceramente aqui, este problema existe ou não existe? Isto é que é a questão. Vale a pena fazer campanhas eleitorais. Eu, em maio, fiz 14 grandes feiras no distrito do Porto e toda a gente me falava nesta questão. Aliás, eu cheguei várias vezes a mandar as minhas impressões para aquele núcleo duro que estava a comandar a campanha, a dizer “eu estou absolutamente espantado” porque eu já tinha esta perceção e tinha esta compreensão e fui sempre muito solidário e, aliás, grande, digamos, apoiante da política que o governo definiu nesta matéria. E, portanto, este é um problema que existe, isto aqui não é uma questão de Chega ou de não Chega. Quem acha que isto é uma questão de Chega verdadeiramente não percebeu nada. Quando dizem “vem aí o fascismo”, por amor de Deus, nós estamos em 2025, nós não estamos nos anos 30 do século XX, estamos num outro mundo e num mundo que tem problemas efetivos. Nós precisamos de mão de obra estrangeira, não tenho dúvida sobre isso, portanto ninguém está, e eu no Ministério dos Estados Estrangeiros estou muito consciente disso, é um problema demográfico que tem a Europa e que tem Portugal em particular até mais grave que na generalidade dos países europeus, agora, sinceramente, isto significa que tem de ser regulado, senão nós criamos imensos problemas às sociedades e as sociedades reagem e, ou os partidos do centro compreendem isto bem e com as suas propostas moderadas, equilibradas, procuram resolver este problema ou então, efetivamente, ficarão os extremos a falar em todo o lado. Os eleitores sinceramente é que eu acho que não enlouqueceram, as lideranças podem introduzir nuances, podem corrigir processões, podem corrigir abordagens populistas, claro que sim, por isso é que o Governo da AD é um governo da moderação e foi isso que os portugueses têm vindo a reconhecer.
O ministro Leitão Amaro afirmou esta semana ter a expectativa que a Lei da Nacionalidade possa ser aprovada, na próxima semana. As alterações introduzidas são suficientes para ultrapassar as críticas dos parceiros da CPLP, está preparado para ouvir queixas?
Quanto à Lei da Nacionalidade, valia a pena ir ver a Lei da Nacionalidade de alguns dos países da CPLP, porque eles, nem de perto, nem de longe, têm uma visão tão generosa como tem esta versão. Valia a pena fazer isso porque de facto, isso é uma questão, eu sinceramente não vejo assim críticas por aí além, eu em particular reúno com estes ministros e com primeiros-ministros e com Presidentes de vários países da CPLP a toda a hora, portanto e sinceramente, e tenho falado com todos, do Brasil a Timor-Leste.
E não houve queixas?
Não, claro que há, há debates, mas isto é uma relação que se gere perfeitamente, não há nenhum clamor que há aqui um grandessíssimo problema, nós temos uma abordagem prioritária, preferencial aos países de expressão portuguesa, não tenho dúvidas sobre isso, aliás se falar com toda a sociedade civil, eu julgo que a abertura aí também é enorme, portanto nós temos de facto é que ter regras e temos de garantir que as cumprimos e especialmente que combatemos alguma da fraude que há às regras existentes, que também existe e que é difícil e que acontece com todos os países. Sinceramente a nossa proposta é moderada, não tem nenhuma, não tem nada especial e valia a pena fazer o trabalho de casa e ver qual é, os regimes são muito diferentes desse país para o país da CPLP, portanto são diferentes, não estou a dizer que estão todos na mesma situação, mas alguns deles, para dar a nacionalidade ao cidadão português vai ter que percorrer um calvário bem grande, coisa que na nossa legislação não é assim, mesmo nesta versão atual onde eles têm, como eu digo, um tratamento preferencial.
Já aqui falámos de Presidenciais, o PSD lidera sozinho ou em coligação, o governo nacional, os governos regionais, locais… E a Presidência da República? Acredita que os portugueses vão manter todos os ovos no mesmo cesto?
Eu acredito que sim. Essencialmente pelo perfil do candidato que nós apoiamos, que não é nosso, porque felizmente tem apoio em muitas franjas da sociedade portuguesa, quer à esquerda, quer à direita, e especialmente até de independentes sem uma identificação partidária óbvia. Precisamos de estabilidade e precisamos de bom senso. Há uma coisa que Luís Marques Mendes garante a todos os portugueses, é que é um homem moderado, é um homem equilibrado, é um homem justo, é um homem com bom senso. Na presidência da República é fundamental garantir isso. Com esse perfil, é uma pessoa que os portugueses conhecem. Os portugueses sabem como é que ele pensa, sabem como é que ele atuou quando era governante, como é que tentou, por exemplo, acordos de regime quando foi líder político na oposição. Não foi um líder político do bota abaixo e do dizer só mal. É alguém com capacidade de fazer pontes, muito prestigiado na sociedade portuguesa. Estou absolutamente convicto de que ele vai ser eleito presidente de todos os portugueses. E que aí, tal como aconteceu com Marcelo Rebelo de Sousa, tal como aconteceu com Cavaco Silva, até vai, digamos, autonomizar-se do seu partido de origem e evidentemente julgar de uma forma imparcial e independente. Não tenho dúvidas sobre isso porque toda a sua vida foi até muitas vezes contra a corrente. Ele preferiu perder algumas eleições a transigir nos seus princípios. E isto é algo que obviamente é um ativo fundamental para alguém que se quer candidatar ao lugar de chefe de Estado.
Mas existe uma dispersão dos votos também no campo social-democrático…
Vale a pena olhar para o historial das eleições presenciais. A maior cisão que o PSD teve, que se deu em 78, as chamadas Opções Inadiáveis, em que saíram figuras como Magalhães Mota, como Jorge Miranda, como, enfim, muitos outros. Tinha muito a ver com o apoiar ou não apoiar a presidência Eanes. Depois, por exemplo, quando chegou à questão de Freitas do Amaral, várias pessoas até acabaram por sair do PSD e depois mais tarde serem quadros do Partido Socialista por causa de Cavaco Silva, no Congresso da Figueira de Voz, ter lançado aquele movimento que depois levou a essa jornada épica que eu me lembro, tinha 18 anos na altura, o Para a Frente de Portugal. Portanto, isto é um clássico e o mesmo vale para o Partido Socialista e vale para outros. Obviamente que ninguém exige que todos os militantes do PSD, numa espécie de rebanho enorme nacional, se ponham todos ao lado daquele candidato que o PSD tem como candidato que quer apoiar, mas que não é do PSD porque Marques Mendes, felizmente, tem essa capacidade de ir muito mais longe. Nas eleições presidenciais existe sempre essa dinâmica e isso é até sincero. Eu vou dizer aqui uma coisa que é politicamente incorreta, mas que é a minha crença. Eu até acho que isso é salutar. Muito embora eu tenha muita pena que alguns dos militantes do PSD, que são militantes com grande valor, estejam nesta candidatura naquela e não naquela em que, eu diria, uma esmagadora maioria do partido se revê, mas que também não quer que seja uma candidatura do partido porque se quer ganhar as eleições, precisa dos votos dos outros.
A segunda volta vai ser inevitável? Quem tem mais possibilidades de lá chegar? Já agora, como é que veria a possibilidade de um militar na reserva desempenhar o mais alto cargo da Nação?
Eu não vou aqui agora fazer análise política e prospetiva, porque essa, então, ainda é mais difícil do que a análise. Há uma coisa que eu estou absolutamente convicto, Marques Mendes vai à segunda volta. Eu acho que vai haver segunda volta, isso sinceramente. Essa parte da análise ainda posso fazer, porque acho que é demasiado evidente que estamos numa fragmentação que pode levar, o que torna essas eleições especialmente interessantes, sem dúvida que as eleições presidenciais mais interessantes que tivemos, foram, enfim, as primeiras também foram interessantes. Agora estamos, outra vez, num ciclo diferente, porque também é um ciclo, já não, dos pais fundadores da República, já não está cá nenhum, nesta corrida, não é? isto é mesmo um novo ciclo. É um ciclo pós, digamos, revolução.
Quanto à questão de ser um militar, sinceramente, isso para mim não me faz confusão absolutamente nenhuma. Pode ter a certeza que não quero, sabem muito bem quem quer que eu ganhe, mas, quer dizer, todos os portugueses têm direito a ser candidatos, e isso é uma posição que eu tenho de princípio qualquer um, seja qual seja a sua proveniência. Portanto, se veio da carreira militar, se veio da carreira judicial, se veio da carreira diplomática, isso não há de ser uma diminuição. Claro que tem que estar na reserva, é evidente, porque isso faz parte da própria condição militar, pronto, mas parece que esse requisito está preenchido, portanto, o direito à candidatura existe e deve ser. Depois pode-se dizer, eu gosto de um perfil menos militarista, gosto de um perfil menos autoritário ou menos hierárquico ou menos, mas cada um tem a sua história e tem coisas para contar e todos os candidatos que eu estou a ver, enfim, em princípio têm um passado que já é mais ou menos conhecido, em alguns casos do que noutros, noutros é menos conhecido, noutros é mais conhecido, mas que também diz alguma coisa sobre os candidatos e, portanto, os portugueses aí estarão para julgar. Do meu ponto de vista eu devo dizer o seguinte, vai ser uma corrida difícil, mas vai ser Luís Marques Mendes, o Presidente da República, no dia 9 de março de 2026, a tomar posse. Estou absolutamente confiante disso porque eu conheço e conheço os portugueses. Agora, ninguém pode dar a coisa por garantida, até por haver segunda volta. É fundamental, fazer o trabalho de casa. Acho que não há nenhum dos candidatos neste momento que ache que tem a questão garantida e, portanto, todos vão trabalhar muito para poderem chegar à segunda volta e depois para poderem ganhar na segunda volta.