“Qual é a ideologia?” Aljezur elege autarca independente apoiado pelo PSD que já foi presidente da câmara pela CDU e PS

Foi uma vitória por maioria absoluta, que há quatro anos ficou distante apenas por 78 votos. Desta vez, a distância para o Partido Socialista ultrapassou os 700 votos e o Movimento Independente de Cidadãos Renascer obteve 56,86% da votação. Numa terra que contou com 2914 votantes, não é pouco.

Manuel Marreiros é o rosto deste movimento, mas ao longo dos anos já lhe couberam vários fatos. Desempenhou o cargo de presidente da câmara municipal de Aljezur, primeiro com o apoio da CDU entre 1989 e 2001. Voltou a ser eleito nos dois mandatos seguintes (entre 2001 e 2009), apoiado pelo Partido Socialista. Em 2009, os eleitores escolheram-no para presidente da Assembleia Municipal, também pelo PS.

Muitos anos depois vence novamente, desta vez apoiado pelo PSD. Manuel Marreiros assegura que nestas eleições a ideologia política não interessa. “Qual é ideologia?”, questiona. “As pessoas é que votam em mim desde sempre, eu não pedi o apoio do PSD, nunca fui filiado em partido nenhum”, garante.

O autarca viu-se envolvido num processo judicial que se arrastou até 2018 por licenciamento de obras no empreendimento de Vale da Telha. Foi condenado pelo crime de prevaricação a quatro anos e três meses de prisão, com pena suspensa e a perda de mandato, quando já não assumia o cargo de presidente da Assembleia Municipal de Aljezur. Mas nem esta decisão do tribunal pesou na escolha dos eleitores da terra. "A expressão dos candidatos nas eleições autárquicas é muito diferente das eleições legislativas”, garante. “Quando era eleito pela CDU, a CDU tinha 11% e eu quase 50%“, recorda. “Os eleitores escolhem aquelas pessoas que acham melhores”, explica. “ Às vezes enganam-se, mas pronto”, diz a rir.

Manuel Marreiros explica a sua vitória porque nos últimos quatro anos os socialistas não estiveram à altura do cargo. ”Se tivessem cumprido o programa eleitoral talvez isto não tivesse acontecido”, salienta. Conta que o PS falhou na habitação e na educação, afirma que os serviços não funcionam, “há uma anarquia em muitas coisas e as pessoas sentem isso”.

Argumentos que lhe deram a vitória na câmara de Aljezur que, 16 anos depois, volta a ter o mesmo autarca que desempenhou o cargo de presidente da Câmara Municipal durante 20 anos.