Com acordo ainda por fechar, e várias vozes que se opõem a um entendimento à esquerda, a Comissão política do PS discute esta quinta-feira o resultado das conversas com bloquistas e comunistas. Presença de Bloco e PCP num governo liderado pelo PS divide socialistas.
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As negociações estão quase fechadas e a solução de governo à esquerda já foi apresentada por António Costa ao presidente da República, mas, sem acordo finalizado, e com a reunião da Comissão Política à porta, aumenta a pressão para que o líder do PS revele os pormenores do entendimento com PCP e Bloco de Esquerda.
Ouvidos pela TSF, vários socialistas, que participam mais logo no encontro da direção alargada do partido, consideram que o secretário-geral socialista já devia ter detalhado sobre o "nível de acordo" alcançado e quais as cedências feitas, até ao momento, perante as exigências de comunistas e bloquistas, mas também que deve clarificar qual o grau de compromisso em matérias como a política económica e internacional, devendo mesmo apresentar uma garantia de que os compromissos internacionais - em relação à União Europeia e à Aliança Atlântica - são mesmo para cumprir.
Com as reuniões técnicas ainda em andamento, algumas vozes manifestam apreensão pela falta de esclarecimentos prestados por António Costa, e querem ver, preto no branco, os pormenores do entendimento que, por agora, ainda está por finalizar.
Uma das fontes, favorável às negociações à esquerda, sublinha que o acordo só deve ser firmado "se fechado por quatro anos" e com a garantia de que Bloco de Esquerda e PCP também se "responsabilizam" e entram num futuro governo liderado pelo Partido Socialista.
Uma outra fonte, próxima de António Costa, considera que a questão da constituição do executivo é "secundária", mas defende que a solução "mais equilibrada" seria um acordo, por escrito, para um "apoio parlamentar sólido", mas com um governo "só do PS", para evitar fraturas no partido, mas, acima de tudo, para acautelar a "resposta dos mercados".
A mesma fonte salienta que desde que as "linhas essenciais" do programa eleitoral do PS "não sejam adulteradas", as críticas pela aproximação à esquerda vão acabar por esbater-se dentro do partido, considerando que "a surpresa inicial de alguns deu lugar à reflexão" e que, nesse sentido "os críticos se moderaram".
Opinião diferente tem uma outra fonte contactada pela TSF que defende que o acordo, que diz ser de "alto risco", só deve acontecer com comunistas e bloquistas no executivo, sublinhando que, apesar de confiar na "boa fé" de ambos os partidos, a garantia de que Bloco e PCP não fogem ao entendimento, só será conseguida através da presença no Conselho de Ministros.
Praticamente certo é que , com as negociações em andamento, António Costa vai chegar ao encontro desta quinta-feira sem o acordo fechado e com muito por explicar, mas também que o secretário-geral do PS deve sair da reunião com novo mandato da Comissão Política, desta vez para formalizar o acordo com o Bloco e Esquerda e com o Partido Comunista.