No Parlamento, o coronel de Infantaria Alves Pereira assinalou que "ninguém pode dizer que desconhecia as fragilidades" do perímetro. Efetivo de oito homens "deveria contar com outros meios".
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O coronel de Infantaria Alves Pereira, que comandou o Regimento de Paraquedistas entre 2013 e 2016, disse na audição da comissão parlamentar de inquérito ao furto de material militar em Tancos, que havia "deficiências" no perímetro dos Paióis Nacionais que "eram recorrentes", sendo que essa situação era, inclusive, "motivo de conversa" entre os militares.
"A situação dos Paióis era uma situação recorrente, alargou-se durante um período muito grande e, na minha opinião excessivo. Havia deficiências que eram recorrentes, que apareciam nos relatórios dos meus homens - a mim e ao regimento -, que eram transmitidas ao escalão superior e eram as mesmas do período anterior ao qual tínhamos cumprido missão, que distava três meses dessa data", disse aos deputados.
Segundo o militar, a falta de condições de segurança era "motivo de conversa" entre os militares, com o coronel Alves Pereira a sublinhar: "Se era um assunto sério? Era. Se havia preocupação? Havia", adiantando que seria "errado" que estas questões "fossem olvidadas" pelos superiores hierárquicos.
"Ninguém pode dizer que desconhecia essas fragilidades", disse ainda o antigo comandante do Regimento de Paraquedistas - uma estrutura que, "de tempos a tempos", fazia trabalho de segurança dos paióis, mas que não que não se encontrava nessas funções em junho de 2017, quando se deu o furto de material militar.
Perante os deputados, o coronel Alves Pereira sublinhou ainda que o efetivo de oito homens que estaria nos Paióis Nacionais para assegurar a segurança do perímetro era "justo e suficiente", mas salientou que esse número seria, no entanto, curto, no caso de os meios auxiliares estarem "obsoletos". O que era o caso.
"Não podemos dizer que o número de oito homens permita grande folga, mas é o efetivo justo e suficiente. Contudo, poderá tornar-se curto se a missão não contar com outros meios, que não estão a funcionar em pleno ou que estão obsoletos", acrescentou o militar, que deu como exemplo as falhas nos sensores de movimentos. "Uma área tão grande, com meios de videovigilância obsoletos, criava dificuldades", reconheceu o coronel, que pedia "atenção redobrada" aos militares e que releva: "Não houve nenhum relatório que dissesse que o efetivo era manifestamente insuficiente".
Ainda assim, lembra, durante os três anos em que comandou o Regimento de Paraquedistas, diz, em relação aos Paióis Nacionais, não se lembrar de "violações do perímetro graves" ou de "situações graves". "Lembro-me de episódios ridículos, como, por exemplo, ter entrado uma cabra", disse, lembrando, no entanto, que não só as condições de segurança não eram as melhores: "As condições de habitabilidade quando lá entrei [em 2013] eram deploráveis".
Quanto ao furto de material militar, é "sério" porque, segundo o coronel Alves Pereira, pode produzir danos assinaláveis".
Coronel admite "mal-estar" no Exército na sequência de exonerações
Na audição, questionado pelos deputados, o coronel Alves Pereira comentou ainda as exonerações temporárias de cinco comandantes , em 2017, logo após o furto de material militar em Tancos, que foram feitas pelo então chefe do Estado-Maior do Exército, o general Rovisco Duarte.
"Que houve mal-estar relativamente à demissão dos cinco coronéis, posso constatá-la. Se o facto de haver dois oficiais-generais que pela sua demissão agravaram essa situação? Não tenho dados", afirmou.
A decisão do chefe do Estado-Maior do Exército de exonerar cinco comandantes motivou polémica no Exército, com dois tenentes-generais a deixarem funções. Na altura, o tenente-general António de Faria Menezes pediu a exoneração do comando das Forças Terrestres. Também o tenente-general Antunes Calçada acabou por sair, pedindo a passagem à reserva por "divergências inultrapassáveis" com o general Rovisco Duarte.
Na última semana, noutra das audições no âmbito da comissão parlamentar de inquérito, o coronel Ferreira Duarte, um dos cinco comandantes que foi exonerado temporariamente na sequência do roubo de material militar em Tancos, já tinha afirmado que as exonerações fizeram parte de uma "estratégia de comunicação" do antigo chefe do Estado-Maior do Exército, o general Rovisco Duarte, para "prestigiar a organização".
A comissão de inquérito ao furto de material militar em Tancos tem previstas audições a 63 personalidades e entidades. Decorre durante 180 dias, até maio de 2019, e é prorrogável por mais 90 dias, para que se possa chegar a conclusões