No parlamento, o antigo Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas disse que houve "falhas" dos militares na noite do assalto, mas também "cumplicidade". Exonerações de Rovisco Duarte não foram decisão acertada.
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Numa audição em que afirmou que "houve falhas de quem estava de serviço" e em que admitiu que "houve cumplicidade de alguém" no furto de material militar, o general Pina Monteiro que, no momento do assalto, em junho de 2017, ocupava o cargo de Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA), negou ter conhecimento de qualquer pressão política para que o Exército decidisse exonerar comandantes.
Poucos dias após o desaparecimento de material militar, o então Chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), general Rovisco Duarte, decidiu avançar para a exoneração de cinco comandantes de unidades ligadas à segurança em Tancos por não querer "entraves às averiguações". Uma decisão pouco acertada, considera o general Pina Monteiro.
"Teve sobre si um peso que eu não gostava de ter ido. Ele [o general Rovisco Duarte] pensou em tudo o que poderia fazer de melhor para fazer face à situação", disse o general Pina Monteiro sobre uma decisão que considera, no entanto, ter sido "singular, solitária e controversa". "Não faria nada daquilo. Nem de uns nem de outros", acrescentou, referindo-se também ao facto de dois tenentes-generais terem apresentado demissão por "divergências" com o CEME.
Perante os deputados, o antigo Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas rejeitou ainda qualquer tipo de "pressão política" para que se avançasse para exonerações. "Não conheço pressões nenhumas e não acredito que o ministro [da Defesa, Azeredo Lopes] andasse a dizer para fazerem isto ou aquilo", salientou, numa audição em que defendeu não ter sentido também qualquer pressão por parte do primeiro-ministro ou do presidente da República: "O que encontrei foi uma grande preocupação", garantiu.
Ainda sobre o assalto, o general Pina Monteiro afirma que "não podia ter acontecido" e que é necessário "tirar ilações" do sucedido. "Foi um murro no estômago, mas que se sentiu na cabeça e no coração", disse, replicando as palavras ditas há cerca de dois anos, quando, em Bruxelas, ao saber do assalto, afirmou tratar-se de um "soco no estômago".
"Dói. Afetou a credibilidade", reconheceu durante as mais de três horas de audição.
Sistema de videovigilância "completamente obsoleto"
Referindo-se às condições físicas dos Paióis Nacionais de Tancos, aos deputados o antigo CEMGFA disse também que, após várias inspeções, desde o ano de 2013 que era dado como certo que o sistema de videovigilância em Tancos estava "completamente obsoleto".
Quanto à rede que existia em redor dos Paióis Nacionais, era "uma rede de vigilância e não de defesa", disse o general que rejeitou, no entanto, que a falta de modernização do perímetro de Tancos tenha resultado de "restrições orçamentais".
Outro dos dados assinalados pelo ex-CEMGFA foi sobre a recuperação das armas: "Não tive conhecimento, mas fiquei satisfeito. Só não fiquei satisfeito mais tarde, se as circunstâncias foram aquelas", sublinhou, numa referência a uma alegada encenação do reaparecimento do material militar que, no seu entender, não comportava "riscos significativos mesmo que caíssem num grupo terrorista".
A comissão parlamentar de inquérito ao furto de material militar em Tancos tem previstas audições a 63 personalidades e entidades. Decorre durante 180 dias, até maio de 2019, e é prorrogável por mais 90 dias, para que se possa chegar a conclusões