Tarrafal produziu “canções de liberdade” que devem prosperar num futuro “onde não caibam campos de morte lenta”
Marcelo Rebelo de Sousa vê o campo de concentração do Tarrafal como um exemplo para “um futuro de liberdade”.
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Portugal, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Angola. Três chefes de Estado e um ministro da Defesa para assinalarem os 50 anos da libertação dos presos políticos do campo de concentração do Tarrafal. A opressão deve servir de alerta para o futuro, mensagem de Marcelo Rebelo de Sousa, que pede também aos jovens que não confundam liberdade com ditadura.
As cerimónias contaram com discursos dos representantes dos quatro países que tiverem nacionais na prisão do Tarrafal, durante a ditadura. Seis dias depois do fim da ditadura em Portugal, a 1 de maio de 1974, os presos políticos libertaram-se.
Primeiro, o descerramento da placa evocativa de “homenagem aos que neste campo padeceram” e de “saudação à vitória da liberdade, da dignidade e da democracia”. Marcelo Rebelo de Sousa colocou ainda uma coroa de flores no memorial das 38 vítimas mortais, “aos que aqui deram a vida pela liberdade”.
O campo de concentração recebeu mais de 500 presos políticos, primeiro antifascistas, depois anticolonialistas, mas a opressão deu também lugar a “poesia e canções de liberdade”, como destacou Luís Fonseca, porta-voz dos presos políticos.
“No chão bom do Tarrafal, fomos encarcerados para que nos retirassem os ideais da liberdade. Em vez disso, este chão produziu solidariedade, produziu generosidade, produziu pensamento, produziu poesia, produziu novas canções da liberdade”, disse.
E as canções de liberdade devem ser levadas à letra, na opinião do Presidente da República, que deixa alertas para o futuro. O campo do Tarrafal e as opressões que se viveram, testemunhadas simbolicamente por Marcelo Rebelo de Sousa, devem servir para deixar “o passado no passado”.
“Aqui sabemos o que é a opressão. Aqui vemos os sinais visíveis do que é a repressão sanguinolenta. Aqui podemos testemunhar o que não queremos que seja o presente e que não queremos que seja o futuro”, acrescentou o Presidente da República.
Além de Marcelo Rebelo de Sousa, também o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, e vários autarcas portugueses marcaram presença nas cerimónias, pelo que para o Presidente é sinal de que “o povo português assume em plenitude a rejeição deste passado e a construção de um futuro diferente”.
“Queremos, sim, um futuro de liberdade, em que não caibam campos de morte lenta como este”, atirou, pedindo aos jovens, que nasceram em liberdade, para que não confundam “liberdade com ditadura”.
Antes de Marcelo Rebelo de Sousa falou o Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, também apontando o Tarrafal como exemplo para “o futuro que não se quer”. Para fechar a cerimónia, o anfitrião Presidente de Cabo Verde, José Maria Neves, olhou para as crises atuais.
“O aumento das vagas migratórias com as pessoas a fugirem por falta de recursos e de dignidade significa um recuo e que simbolicamente novas prisões se estão abrir, indicando um caminho do retrocesso oposto ao do desenvolvimento”, alertou.
Até porque, tal como disse Marcelo Rebelo de Sousa, no presente e no futuro devem existir apenas “campos de liberdade, de democracia, de paz e de futuro para todos nós”: “Não mais campos como este”.