No parlamento, o coronel Hilário Peixeiro assinalou que os problemas nos equipamentos de vigilância eram reportados aos superiores. Militares revelaram "discordância" no momento em que coronel foi exonerado.
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O coronel de Infantaria Hilário Peixeiro, que comanda o Regimento de Paraquedistas desde novembro de 2016, referiu, esta quinta-feira, na comissão parlamentar de inquérito ao roubo de material militar em Tancos, a existência de "pouco recursos humanos" e "carência de recursos materiais" para realizar a vigilância dos Paióis Nacionais de Tancos.
"Nos relatórios que fizemos, não há registo de intrusões, mas as deficiências foram sendo relatadas", disse aos deputados o coronel que comanda o Regimento de Paraquedistas desde novembro de 2016 e que foi um dos cinco comandantes temporariamente exonerados pelo então Chefe do Estado-Maior do Exército, general Rovisco Duarte, na sequência do furto, em junho de 2017, para não perturbar as averiguações internas sobre o furto de material militar.
Segundo o militar - cuja unidade que comandava, à data dos acontecimentos, não tinha ninguém destacado para a segurança dos paióis -, as condições dos sistemas complementares de vigilância, como equipamentos de videovigilância, não eram as melhores, com "tudo avariado e fora de serviço", o que "causava muito incómodo". Além disso, desde que entrou para o comando, assistiu a uma "tendência decrescente de pessoal, que passados dois anos se confirma".
"A pressão [para melhorar as condições de segurança em Tancos] foi feita sob a forma de apresentação de relatórios e de ilustrar evidências, e tinha sensação de que, dentro da minha unidade, eu precisava de ter o SICAV [sistema de vigilância eletrónico] instalado", disse, antes de adiantar: "As deficiências eram reportadas diretamente ao meu escalão superior e eram de toda a espécie".
Aos deputados, o coronel Hilário Peixeiro disse ainda que teve "alguma esperança" de melhoria de condições no perímetro dos paióis e que havia "expectativa" e "confiança na cadeia de comando", ressalvando ainda que o facto de a vigilância ser repartida por quatro unidades, entre as quais o Regimento de Paraquedistas, "não criava dificuldades" e que "não ter meios complementares dificultava ainda mais".
Quanto ao assalto de junho de 2017, revelou que soube "apenas no dia seguinte", considerando que se tratou de "uma intrusão, uma oportunidade que alguém soube aproveitar". Se teve ou não a cumplicidade de alguém do Exército, diz não ter dados que o possam confirmar.
Exoneração após o furto gerou "desconforto e discordância" entre militares
Sobre a exoneração temporária de que foi alvo, após o furto de material militar, sublinha que lhe foi comunicada por Rovisco Duarte. "Disse-me muito rapidamente que tinha de ser assim", afirmou o militar, que prosseguiu: "Quando me recebeu - e aos restantes oficiais -, pediu-me desculpa pelo impacto familiar e disse-me que não tinha nada contra o meu trabalho na unidade, mas que era a bem da garantia de isenção e transparência durante o tempo em que estivessem a decorrer as averiguações".
"Creio que não foi uma cortina de fumo para enganar o poder político", acrescentou. Quanto à reação dos restantes militares à decisão de Rovisco Duarte, revela, "houve desconforto e discordância", falando o militar de uma quantidade "enorme" de "mensagens de apoio e solidariedade".
CDS-PP pede nova audição. PCP quer mais relatórios
À margem da comissão parlamentar, o CDS-PP entregou um requerimento em que solicita a audição do tenente-coronel António José Fernando Marques Tavares, um oficial que, em 2006, terá aprovado a "redução do efetivo" responsável pelas rondas de segurança para oito militares.
Além disso, os centristas entregaram um outro requerimento onde pedem os relatórios de posse de cinco comandantes do Regimento de Infantaria 15, do Regimento de Paraquedistas, do Regimento de Engenharia 1 e da Unidade de Apoio da Brigada de Reação Rápida.
Quanto ao PCP, solicita dois "relatórios adicionais" realizados pelo coronel Vasco Pereira, antigo comandante do Regimento de Paraquedistas, sobre as "condições e insuficiências existentes" nos Paióis Nacionais de Tancos.
A comissão de inquérito ao furto de material militar em Tancos tem previstas audições a 63 personalidades e entidades. Decorre durante 180 dias, até maio de 2019, e é prorrogável por mais 90 dias, para que se possa chegar a conclusões