"Rio não tem que fazer de mim um Cristo da política. Sairei pelo meu próprio pé"
Na primeira entrevista sobre a situação interna do PSD desde que Rui Rio chegou à presidência do partido, Hugo Soares assume que abdica de um lugar nas listas de deputados, caso Luís Montenegro perca esta batalha. À TSF, avisa, no entanto, que a elaboração de listas tem regras e que não pode ser Rio a escolher os nomes, um a um.
Corpo do artigo
Foi o único deputado do PSD que compareceu no Centro Cultural de Belém no dia em que Luís Montenegro desafiou Rui Rio para a realização de diretas antecipadas no PSD. Hugo Soares é, desde há muito, um dos indefetíveis de Montenegro. Substituiu-o na liderança da bancada do PSD. E é agora uma espécie de braço direito político do homem que quer ser presidente do partido. Fala, pela primeira vez, à TSF, da situação no partido, para atacar Rui Rio, elogiar Luís Montenegro e para mostrar desprendimento em relação ao lugar de deputado que ocupa.
Que imagem é que acha que os portugueses têm neste momento do PSD?
Creio que a imagem que o PSD está a dar aos portugueses é a de um partido com vitalidade, um partido que tem à sua disposição, neste momento, duas pessoas que podem disputar as eleições com o Dr. António Costa. Cada um com o seu projeto alternativo. Creio que estas circunstâncias são perfeitamente normais e devem ser encaradas com naturalidade na vida de um partido. Há uma liderança eleita e alguém que se disponibiliza aos militantes - e ao país - para fazer melhor do que tem vindo a ser feito até à data. É com naturalidade que isto deve ser encarado e os portugueses certamente olham para o PSD como um partido que se quer organizar para ser a alternativa que o país precisa.
https://d2al3n45gr0h51.cloudfront.net/2019/01/hugosoares10_psd_esta_a_dar_imagem_de_vitalidade_20190115014052/hls/video.m3u8
A quatro meses de eleições, interrompendo o mandato de um presidente eleito?
Ninguém interrompeu o mandato de ninguém...
Tentou pelo menos...
Também ninguém tentou interromper o mandato. O que houve foi um desafio claro para que houvesse uma clarificação de estratégia dentro do PSD. Se há alguém com legitimidade para o fazer é precisamente Luís Montenegro, que, no Congresso de há um ano, disse que discordava desta estratégia e que, se a sua avaliação viesse a estar correta, diria a seu tempo o que teria para dizer. Ele fez isso mesmo: esperou o tempo que achava que devia esperar. A gestão do tempo político é legítima para toda a gente. Durante muitos anos, Rui Rio foi sempre desafiado a candidatar-se à liderança do PSD e nunca o fez. Fê-lo quando entendeu que o devia fazer. Luís Montenegro fez exatamente o mesmo. Não apresentando uma candidatura, mas desafiando o presidente do partido a convocar eleições diretas, num cenário que nós conhecemos no PSD que, se calhar, é esse que importa discutir, face à irrelevância do Partido Social Democrata, infelizmente, no panorama politico hoje em dia.
"O PSD tornou-se irrelevante"
https://d2al3n45gr0h51.cloudfront.net/2019/01/hugosoares09_o_psd_tornou_se_irrelevante_20190115014034/hls/video.m3u8
Vamos discutir exatamente isso: é justo dizer-se que os resultados do PSD nas sondagens não são apenas responsabilidade do Rui Rio? Ou seja, que neste contexto politico - e até económico - seria difícil fazer melhor oposição a António Costa e que os críticos internos, por outro lado, também não deram a Rui Rio um minuto de sossego?
Creio que é injusto dizer que os críticos internos não deram um minuto de sossego. Mas é muito justo dizer que é possível fazer muito melhor. Se não fosse, não estaria aqui a ter esta entrevista e Luís Montenegro - e tantos outros militantes do partido - não teriam uma posição semelhante àquela que Luís Montenegro quis protagonizar na última semana. Repare, o PSD, neste momento, tornou-se irrelevante do ponto de vista político. Todos os estudos de opinião - e eles são a única base cientifica que nós temos para poder avaliar aquilo que é a adesão dos portugueses do ponto de vista eleitoral ao Partido Social Democrata - estão em mínimos históricos, abaixo dos 25%. Nós, que andamos na rua e fazemos política com as pessoas - que é como ela deve ser feita - sabemos aquilo que ouvimos junto dos empresários, das pessoas. No fundo, hoje discute-se mais se o Partido Socialista deve ter uma maioria absoluta, ou se, por outro lado, deve continuar a governar com o Partido Comunista Português e com o Bloco de Esquerda. Ora, o PSD deixou de ser o bloco alternativo. É contra este estado de coisas - de um PSD que tem que ser maioritário, porque o país precisa dele -, que Luís Montenegro apresentou a sua disponibilidade para ir a votos. E eu reconheço que seria uma solução muito melhor que a atual liderança do partido. Se o Dr. Rui Rio usasse toda a força que tem tido para combater internamente o PSD com o Dr. António Costa, nós não estaríamos nesta situação hoje. Diria mais: se o discurso que o Dr. Rui Rio proferiu contra Luís Montenegro, se o tivesse feito contra o Dr. António Costa, tenho a certeza absoluta que não estaríamos aqui hoje a ter esta conversa.
E se os críticos do PSD tivessem usado a mesma força que usaram contra Rui Rio, o PSD não estaria também melhor?
Acha que eu sou um crítico da liderança do PSD?
Estou a falar dos críticos em abstrato...
Vou-me colocar nessa posição...
Mas respondo a essa pergunta: o Hugo Soares é considerado um crítico da liderança do PSD...
O Hugo Soares terá feito na Assembleia da República, no Orçamento do Estado, o discurso mais forte contra o Governo que a bancada proferiu. De resto, aplaudido pelos meus pares na Assembleia da República. E pergunto: isso significa que eu me escondi do combate político? Eu nunca me neguei a fazer absolutamente nada do que me foi pedido, pelo contrário, tenho escrito semanalmente na minha região artigos de opinião a combater o Governo socialista. Nunca ninguém me viu publicamente a combater o presidente do meu partido. Por isso é que acho que há um equívoco nisto tudo. O equívoco é que não foram os críticos internos - a existirem - que condicionaram a liderança do Dr. Rui Rio. O Dr. Rio procurou sempre dividir o partido. Não teve capacidade de liderança, de união do partido, e isso foi visível sempre nas suas atitudes críticas relativamente ao próprio PSD e aos seus militantes. Ora, esse estado de coisas resulta, evidentemente, numa falta de adesão do eleitorado no PSD. Quem tem um líder que não acredita no seu partido não pode querer que esse seu partido tenha o reconhecimento dos militantes.
https://d2al3n45gr0h51.cloudfront.net/2019/01/hugosoares08_nunca_me_viram_criticar_rui_rio_20190115014108/hls/video.m3u8
O Hugo Soares foi um dos que incentivou Luís Montenegro a avançar? Ou no lugar dele teria gerido o calendário político de outra forma?
Esta reflexão, que o Dr. Luís Montenegro deu a conhecer ao país, é muito pessoal. Não tive nenhuma conversa com ele, incentivando, ou desincentivando. Creio que ele tomou essa decisão no recato do seu pensamento e daquilo que ele considera ser importante para o país. É evidente que, se me perguntar se uma qualquer estratégia taticista não seria de deixar - como ele teve ocasião de dizer - arder em lume brando uma liderança que se prevê que tenha um resultado catastrófico em eleições, isso sim, seria taticista. Seria até, provavelmente, confortável para Luís Montenegro aguardar pelas eleições legislativas e depois dizer "eu cá estou." Ora, quando se vê um carro que caminha contra uma parede, devemos tentar evitar que ele bata na parede. E é isso que está a acontecer no PSD. Dada a relevância que o PSD tem para o país, Luís Montenegro entendeu que esta era a altura de dizer "eu estou aqui, se o partido quiser."
Preferia que ele se tivesse candidatado há um ano?
https://d2al3n45gr0h51.cloudfront.net/2019/01/hugosoares04_conversa_das_listas_anda_perto_da_patetice_20190115013804/hls/video.m3u8
Não tenho que preferir, ou deixar de preferir. Se Luís Montenegro fosse candidato há um ano, eu teria apoiado Luís Montenegro, teria votado nele. Essa questão para mim, não se coloca. É a questão da gestão do tempo político, que ele próprio terá ocasião de explicar - ou até já explicou, porque é que não foi candidato há um ano e só agora se apresenta a eleições. O que eu quero é que se encare todo este processo com naturalidade e se perceba porque é que isto acontece. Isto acontece porque o partido não está em condições de ser uma alternativa de Governo. O país precisa do PSD.
Alguns dos que apoiam Montenegro querem mais espaço de intervenção política
https://d2al3n45gr0h51.cloudfront.net/2019/01/hugosoares07_quem_esta_com_montenegro_espera_ter_mais_espaco__20190115014019/hls/video.m3u8
Luís Montenegro e os seus apoiantes - neste caso o próprio Hugo Soares - têm sido acusados de estarem mais preocupados com os seus lugares, do que propriamente com o país. Tem medo de perder o seu lugar de deputado?
Não vou entrar numa discussão personalizada que muitos dirigentes à volta do Dr. Rui Rio - e o próprio - têm utilizado no PSD. Ainda hoje, todas as críticas, ou defesas que aparecem do Dr. Rui Rio, não são políticas, são sempre pessoais, a quem apresenta uma alternativa. Tivemos o exemplo de uma vice-presidente do partido, aqui nesta rádio , que insulta gratuitamente Luís Montenegro. Eu até compreendo, com franqueza: não me espanta que a Dra. Elina Fraga, critique e insulte militantes e dirigentes do PSD. Ela que apresentou uma queixa-crime contra todos os membros do Governo anterior - um Governo do PSD - e agora é vice-presidente do partido. Portanto, eu até percebo essa lógica, mas não é a nossa. Acusar a candidatura de Luís Montenegro, que renunciou ao mandato no Parlamento e dizer que ele está a "correr por lugares", é algo que eu não queria classificar como patético, mas que anda lá perto da patetice, anda.
Como, por outro lado, dizer que Hugo Soares está a instigar, ou a deixar de instigar Luís Montenegro, por causa do lugar de deputado, é não conhecer a pessoa em causa. Parece-me uma lógica completamente invertida: o partido tem regras e as regras são para se respeitar. As listas de candidatura às eleições europeias e às legislativas têm sempre uma intervenção das concelhias e das distritais. O que se quer é que este presidente do partido escolha cada uma e cada um dos candidatos às próximas eleições? Vai inverter toda a história do partido e é ele que vai escolher um a um, os candidatos a deputados?
Vamos ser muito francos: não tenho dúvidas que algumas pessoas que estão a apoiar Luís Montenegro, entendam que com ele têm mais espaço de participação política, do que com o Dr. Rui Rio, é perfeitamente normal na política. Mas, também não escondo que, do lado do Dr. Rui Rio, deve haver muitos que querem que ele continue, para terem esse espaço que nunca tiveram. Mas isso é normal. Agora, não vão esperar de mim que faça essa troca de acusações em público. É, do meu ponto de vista, altamente, prejudicial para o PSD.
A este propósito, queria dizer que esta é a primeira vez que me pronuncio publicamente sobre a situação interna do PSD, desde que o Dr. Rui Rio ganhou eleições. Até à presente data, estive do lado da liderança do partido a combater o Partido Socialista, discordando muitas vezes da estratégia e de opções concretas desta liderança. Mas disse-o sempre nos órgãos próprios do partido. Ninguém me viu na praça pública a dizer mal do meu partido, ou do presidente do meu partido. Isso não significa que, tendo tido a oportunidade, nos espaços próprios, eu não tenha dito aquilo que considerava que via mal e que era muito.
https://d2al3n45gr0h51.cloudfront.net/2019/01/hugosoares05_escolha_de_deputados_tem_regras_20190115013917/hls/video.m3u8
"Não serei um Cristo da política portuguesa. Sairei pelo meu pé"
Para fechar este capítulo dos lugares de deputados: aceita integrar as listas de deputados se Rui Rio continuar líder do PSD?
Se essa é uma questão decisiva para que se perceba que Hugo Soares não está nesta lógica de denunciar o que está mal no partido por outro motivo que não seja permitir que o PSD se possa voltar a afirmar como alternativa ao Governo, estou muito à vontade para dizer que o Dr. Rui Rio não tem que fazer de mim nenhum Cristo da política portuguesa. Sairei pelo meu próprio pé das listas, não sendo candidato novamente. Isso não me prende nada à questão essencial, que é a de um PSD mais forte, um PSD que traga uma nova esperança, para que os portugueses possam ver-nos como uma alternativa ao Governo. Isso é que é importante.
https://d2al3n45gr0h51.cloudfront.net/2019/01/hugosoares06_sairei_pelo_meu_proprio_pe_20190115013843/hls/video.m3u8
"Montenegro pode ganhar a António Costa"
Vamos então partir do pressuposto que há diretas no PSD - já que essa hipótese não está totalmente afastada, apesar de Rui Rio a ter rejeitado - e que Luís Montenegro as ganha. Acha que com Montenegro na presidência do partido, é possível ganhar a António Costa?
Se não achasse, não apoiava Luís Montenegro neste caminho. Creio que aquilo que têm sido os últimos três anos de governação demonstra também a necessidade de um novo Governo. Os tempos mais remotos demonstram à sociedade a falta de capacidade reformista do Dr. António Costa. Este é um Governo completamente preso, agrilhoado, diria, ao Bloco de Esquerda e ao Partido Comunista Português, por força de uma única razão: a manutenção no poder do Dr. António Costa. E isso tem levado a que não se tenha feito no país - por força de uma ideologia marcadamente de esquerda, estatizante e, muitas vezes, conservadora - o que o país precisa para evoluir, permitindo que a governação se ajuste às necessidades do agora, e não das gerações futuras. Ora, uma liderança do PSD que protagonize um novo ciclo, que defenda uma diminuição de impostos a favor das empresas, que aposte num ciclo de políticas para o Interior e que não o veja sempre como um parente pobre da política portuguesa; uma liderança que olhe para os jovens e que lhes dê uma alternativa num sistema de ensino exigente, uma política que reforme efetivamente a Segurança Social, que aposte na meritocracia na administração pública, que olhe para os novos desafios das eras digitais do mercado eletrónico, creio que tudo aquilo que são diferenças marcantes que estão na génese do PSD, são suficientes para podermos disputar as eleições com o Dr. António Costa.
E é esse o programa de Luís Montenegro? Porque os críticos têm perguntado onde é que está o programa dele. Que ideias alternativas é que ele tem?
O que acho curioso é que esses críticos são os que nunca votaram no PSD. Quando vejo, com todo o respeito pelas pessoas em causa, o Dr. Seixas da Costa, o Dr. Pedro Adão e Silva, a Dra. Fernanda Câncio serem os principais críticos de Luís Montenegro e os principais apoiantes do Dr. Rui Rio...
...posso-lhe falar-lhe também do Dr. Francisco Pinto Balsemão, que considerou patética esta iniciativa de Luís Montenegro...
...e eu respondo ao Dr. Balsemão. Isto leva-me a dizer que, durante todo este tempo, as pessoas que mais apoiam o Dr. Rui Rio no espaço público são aquelas que sabem que o Dr. Rui Rio dá jeito ao Dr. António Costa. O Dr. Francisco Pinto Balsemão, eu não o ouvi dizer isso, mas, se disse...
...considerou patética, no conteúdo, esta iniciativa de Luís Montenegro. Ele usa essa expressão.
Não o ouvi. Tenho muito respeito pelo Dr. Francisco Pinto Balsemão. Ele, de resto, foi mandatário do Dr. Rui Rio e é nesse enquadramento que eu vou interpretar essas declarações. Como lhe disse, deste lado, se é que assim se pode colocar as coisas, não vai haver uma lógica do insulto pessoal mas uma lógica de apresentação de ideias. Creio que quem ouviu a intervenção de Luís Montenegro, pedindo e desafiando o Dr. Rui Rio para eleições, ficou com uma ideia muito clara do elenco de desafios e propostas que ele considera que o país tem, e que merece. E, portanto, creio que havendo uma mudança de liderança no PSD, há sempre condições porque é por isso que nos batemos: ganhar as eleições ao Dr. António Costa. Há uma coisa que eu sei: é que com Luís Montenegro tenho sérias dúvidas que tivéssemos neste momento 23 ou 24 % nos estudos de opinião.
"Não me peçam para ficar calado"
Se, pelo contrário, a moção de confiança de Rui Rio for aprovada no Conselho Nacional desta semana, os críticos internos - o Hugo Soares, nomeadamente - vão remeter-se ao silêncio?
Não me recordo de estar remetido ao silêncio, ou de não ter ajudado esta direção. Sá Carneiro dizia: "Peçam-me tudo, mas não me peçam para estar calado." Garanto-lhe uma coisa: sobre que pretexto for, nos órgãos próprios, no sítio certo, continuarei a dar a minha opinião sobre a estratégia do partido. Agora, estarei ao lado da liderança, como sempre estive. Se o Dr. Rui Rio convocasse eleições diretas - como Luís Montenegro o desafiou - e se ganhasse essas eleições, ele saía reforçado para o resto do mandato que tem até às eleições legislativas. E essa foi uma das coisas que pesou na vontade de clarificar a situação interna. Mas, repare, o que não pode acontecer - e que me custa com franqueza - são os ataques pessoais: durante a semana, ouvimos um conjunto de pessoas a acusar Luís Montenegro de golpista, que é uma coisa extraordinária. Só se for aquilo que eu costumo dizer em brincadeira que é "um golpe às claras." Alguém que dá uma conferência de imprensa perante o país, desafia o presidente do partido para eleições diretas com um universo de todos os militantes do partido, ser acusado de golpista, acho curioso. Não contem comigo para que entre nessa lógica do insulto fácil. Isso sim dá um triste espetáculo para os portugueses.
Se a moção de confiança for aprovada, Luís Montenegro tem condições para se voltar a candidatar à liderança?
Se ele tiver esse entendimento no futuro, porque não?
"É preciso decoro"
Vamos então ao dia e à hora que foi marcada para esse Conselho Nacional. Quinta-feira, cinco da tarde. Isto para si tem uma leitura política?
Tem, claro. Coloco a questão ao contrário: houve alguma vez na história do Partido Social Democrata um Conselho Nacional à semana, a meio da tarde?
https://d2al3n45gr0h51.cloudfront.net/2019/01/hugosoares01_conselho_nacional_as_17h_mostra_desrespeito_20190115014029/hls/video.m3u8
Qual é que acha que é o objetivo?
Não sei qual é o objetivo. Sei o que acontece com a marcação deste Conselho Nacional: em primeiro lugar mostra, mais uma vez, por parte do Dr. Rui Rio e da direção nacional do partido, um total desrespeito pelos deputados eleitos pelo PSD na Assembleia da República. Os deputados do PSD têm dirigentes distritais e concelhios que, por eleição direta ou por inerência, são membros efetivos do Conselho Nacional. Com a escolha desta hora, o Dr. Rui Rio impossibilita os deputados de participarem num Conselho Nacional decisivo para o futuro do PSD nos próximos anos.
Um dirigente de Setúbal, de Leiria, de Aveiro, de Coimbra ou do Algarve, que trabalhe - porque não são profissionais da política e ainda bem, o PSD é isso mesmo, são pessoas da sociedade civil, essa é que é a força do PSD - como é que eles podem estar presentes no Conselho Nacional? Às cinco da tarde, no Porto? Se bem que eu não tenho nada contra o local, se fosse em Lisboa, a dificuldade para as pessoas do Norte do país era exatamente igual, o que está em causa é a hora do Conselho Nacional, a meio da tarde. As pessoas vão faltar ao trabalho para ir votar na moção de confiança do Dr. Rui Rio?
Creio que só pode haver um propósito, com toda a franqueza, que é evitar uma participação efetiva dos militantes - dos conselheiros nacionais - nesta decisão. Já houve uma primeira decisão, que foi trocar 100 mil para ouvir 136. Essa foi a primeira decisão do Dr. Rui Rio. Ou seja, o Dr. Rui Rio, que tantas e tantas vezes se apregoou contra o aparelho partidário, preferiu ouvir o órgão máximo do aparelho partidário - e eu nunca censuro o Conselho Nacional, que é o órgão representativo dos seus militantes - mas, a verdade é que Rui Rio preferiu ouvir o Conselho Nacional a ouvir as bases do partido. Agora parece que já não quer ouvir os 136. Parece que todos os dias quer diminuir o universo das pessoas que vão aprovar a moção de confiança. A dada altura, com alguma graça, apetecia-me dizer que mais valia vir a Comissão Política Nacional, e aí, se calhar, fazia o pleno. Se calhar nem aí. É preciso ter um bocadinho de decoro.
https://d2al3n45gr0h51.cloudfront.net/2019/01/hugosoares02_rio_quer_evitar_que_os_militantes_votem__20190115013818/hls/video.m3u8
Voto secreto? "Não há outra maneira"
A questão do voto secreto muito relevante para quem apoia Luís Montenegro? Espera que surja um requerimento nesse sentido?
Acho que não é importante para Luís Montenegro nem para Rui Rio. Primeiro, porque Luís Montenegro fez um desafio ao presidente do partido para eleições diretas, não o desafiou para uma luta num Conselho Nacional, onde ele nem sequer tem lugar e nem sequer pode falar. O Dr. Luís Montenegro não é membro do Conselho Nacional. O Conselho Nacional é a luta do Dr. Rui Rio porque foi ele que a escolheu. Agora, se me pergunta se o voto secreto é importante, eu diria que nem coloco essa questão. Acho tão normal que a votação se proceda por voto secreto que, manifestamente, nem percebo essa questão que está agora a acontecer no espaço público. Não pode ser de outra maneira. As pessoas têm que ser livres de expressarem pelo voto, de forma transparente, democrática e confidencial aquilo que entendem sobre o partido. Só assim se evitam as pressões, as lógicas maniqueístas e só assim é possível que o Conselho Nacional possa pronunciar-se em liberdade total.
https://d2al3n45gr0h51.cloudfront.net/2019/01/hugosoares03_voto_secreto_nao_pode_ser_de_outra_maneira_20190115013953/hls/video.m3u8
Pelas vossas contas, acham possível derrotar Rui Rio neste Conselho Nacional?
Vai achar estranho, mas não tenho contas. Não tenho mesmo. Continuo a dizer que não estou no jogo do Conselho Nacional. É importante que isto fique claro: fui o único dirigente nacional do partido que esteve na apresentação da candidatura do Dr. Luís Montenegro - como vários órgãos de comunicação social anotaram. Não o fiz numa lógica de hostilidade ao Dr. Rui Rio. Se quisesse proteger o meu "lugarzinho", como eles dizem, não tinha aparecido. Estive com ele sozinho naquele dia porque entendi que o Dr. Luís Montenegro faz isto pela positiva, apresenta-se como candidato a primeiro-ministro para desafiar o Dr. António Costa porque o PSD precisa de ser alternativa ao Dr. António Costa.
O que vai acontecer no Conselho Nacional é importante para o futuro do partido. Se a moção for aprovada o Dr. Rui Rio continua como líder partidário. Se não acontecer, haverá eleições no PSD e, aí, o Dr. Luís Montenegro apresentar-se-á como candidato. Agora, essa é uma questão do Dr. Rui Rio. Os conselheiros nacionais que decidam. Contas, não tenho efetivamente. Mas, acredito que haja muito boa gente a fazê-las.
Mas se a moção de confiança for chumbada, Rui Rio tem condições para se apresentar a diretas?
Essa é uma questão demasiado extemporânea para ser levantada. Só o Dr. Rui Rio saberá. Não creio sequer que seja uma questão importante agora.
"PSD é um partido de centro-direita"
Do ponto de vista ideológico, Hugo Soares considera-se mais à direita que Rui Rio, ou mais alinhado ao centro?
Considero-me sempre à direita deste Partido Socialista. Este PS é um partido que se acantonou à extrema-esquerda. E o PSD - vamos ser claros -, nessa discussão ideológica, é um partido centro-direita. Sempre foi. É um partido que disputa o eleitorado ao centro com o Partido Socialista, onde se coloca de forma muito pragmática. É um "catch-all party": tem gente mais conservadora, mais liberal, gente mais à esquerda e, portanto, o PSD é um partido do centro da política portuguesa que quer disputar eleições para ganhar e transformar o país
Mas não enfia a carapuça dos que acusam os críticos de Rui Rio de quererem encostar o PSD à direita? Nomeadamente Manuela Ferreira Leite?
Não. Porque não me identifico nada com isso. Tenho uma posição muito contrária. Acho que o PSD deve colocar-se no centro político para ganhar eleições com coragem. Creio que o presidente do PSD, que tantas vezes se tem dito e afirmado muito corajoso, tem falhado precisamente na coragem. Quando não faz combate político ao Partido Socialista, quando nunca - ou quase nunca - se dirige frontalmente ao seu adversário que é o Dr. António Costa. E falhou agora, quando não teve a coragem de ouvir as bases do meu partido.
TSF\audio\2019\01\noticias\15\15_janeiro_2019_entrevista_anselmo_crespo_a_hugo_soares_psd_