"Falha que devia envergonhar todos." Aumento de mortes em casa reflete "falta de cuidados paliativos"
À TSF, o presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares afiram que, "por todas as razões, os doentes estão melhor nos seus domicílios, particularmente em situações de fim de vida".
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A Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) disse esta quarta-feira que o número de pessoas internadas "não tendo uma razão clínica para tal" tem aumentado e considerou, por outro lado, que os resultados do estudo da investigadora de Bárbara Gomes sobre o número de mortes em casa durante a pandemia refletem a falta de apoio de cuidados paliativos: "É uma falha que nos devia envergonhar a todos."
"Temos a ideia clara de que a dificuldade das famílias em trazer as pessoas para casa é crescente. Falta apoio, falta informação sobre como cuidar as pessoas quando regressam aos seus domicílios", apontou o presidente APAH, Xavier Barreto, em declarações à TSF.
"Mas mais do que isso, este resultado reflete uma dimensão ainda mais preocupante que é a falta de apoio de cuidados paliativos. Os cuidados palitativos não chegam a todos os doentes em tempo útil. É uma falha nos devia envergonhar a todos", acrescentou.
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Para Xavier Barreto, "é preciso apostar mais na contratação de médicos, de enfermeiros, de técnicos, assistentes sociais, técnicos de saúde" e, "por todas as razões, os doentes estão melhor nos seus domicílios, particularmente em situações de fim de vida", concluiu.
A investigadora da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra Bárbara Gomes divulgou um estudo que mostra que a percentagem de pessoas que morreu em casa aumentou em 23 países de um grupo de 32 analisados. Portugal faz parte de uma "minoria de países" em "contraciclo".
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Ouvida pela TSF, a presidente da Associação Nacional de Cuidados Paliativos (APCP), Catarina Pazes, admitiu que não ficou surpreendida com as conclusões do estudo e condenou "a falta de atenção muito grave" nesta área.
Os profissionais de saúde que escolhem trabalhar nos cuidados paliativos não têm nenhum tipo de incentivo para nela se manterem. Pelo contrário, são até quase que aliciados a sair para outro tipo de equipas e de organizações", disse Catarina Pazes.
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"Há regiões do país que não têm uma única resposta neste nível e em nada tem sido feito para que estas respostas se desenvolvam", sublinhou.
Catarina Pazes não tem dúvidas de que "a maior parte das pessoas preferiria manter os cuidados na sua casa, em vez de ter que ser internado num hospital".