25 Abril: Cavaco centra atenções na AR, Vasco Lourenço junta milhares no Carmo
As comemorações dos 40 anos do 25 de Abril dividiram-se hoje de manhã entre a tradicional sessão solene, na Assembleia da República, e o Largo do Carmo, onde milhares de pessoas se juntaram à celebração da Associação 25 de Abril.
Corpo do artigo
No parlamento, onde discursaram os partidos e a presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves, foi o discurso do Presidente da República, Cavaco Silva, que, como habitualmente, concentrou atenções.
O chefe de Estado voltou a apelar a entendimentos partidários nas questões essenciais do país, dizendo que este é o tempo de abandonar a «política de vistas curtas ditada pelo taticismo» e sublinhou: «Sempre que estivemos unidos, estivemos mais próximos dos ideais de Abril».
Por outro lado, Cavaco Silva alertou que os desafios de Portugal para o futuro «não se esgotam na dimensão orçamental», e pediu prioridade na ação governativa à questão do desemprego, uma atenção especial à situação dos reformados e a valorização dos funcionários públicos.
As leituras do discurso presidencial foram diversas: se PSD e CDS salientaram o apelo ao compromisso, o PS disse que a maioria não compreendeu as críticas do chefe de Estado ao Governo no plano social e na reforma do Estado.
A algumas dezenas de metros e à mesma hora, discursava o presidente da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço, que escolheu falar no Largo do Carmo depois de não ter havido consenso entre os partidos para que um representante dos capitães de Abril falasse na sessão solene no parlamento.
«Ou muda urgentemente de política e inverte o caminho de submissão, austeridade e empobrecimento do país, ou este Governo tem de ser apeado sem hesitação», declarou Vasco Lourenço, numa cerimónia em que estiveram presentes Mário Soares, Manuel Alegre e o coordenador do BE João Semedo.
Mário Soares justificou a sua presença no Largo do Carmo dizendo que esta foi a «única e verdadeira» comemoração dos 40 anos do 25 de Abril e criticou que os militares não tenham podido falar no parlamento.
Nos outros discursos da sessão solene, os partidos de esquerda saudaram os ideais de Abril mas não deixaram de evocar, de forma crítica, a atual situação do país, com o secretário-geral do PS, António José Seguro, a criticar a «mão invisível ultraliberal» e a nova «cortina de ferro» europeia que divide norte e sul.
«Essa mão empobreceu os portugueses, aumentou as desigualdades e está a destruir a classe média», apontou António José Seguro, que pediu, em contraponto, «uma democracia de confiança, onde a política e negócios não se misturem e a justiça não prescreve para os poderosos».
O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, descreveu o 25 de Abril de 1974 como o processo «mais moderno e avançado» da história contemporânea de Portugal, mas criticou igualmente o Governo, que acusou de «dar cabo do presente».
Na mesma linha, o Partido Ecologista "Os Verdes", pela voz do deputado José Luís Ferreira, criticou as «injustiças» atuais na sociedade promovidas pelos «catequistas da austeridade» e o BE, pela deputada Mariana Mortágua, pediu que se aproveite o dia de hoje para dizer que o país «não é hipotecável nas mãos dos credores».
A maioria preferiu salientar o aproximar do período pós-'troika', com o líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, a dizer que, 40 anos após o 25 de Abril, Portugal está a libertar-se «de uma ditadura diferente», da asfixia financeira, enquanto o CDS-PP, através do porta-voz Filipe Lobo d'Ávila, sustentou que o país está prestes a «resgatar a liberdade».