A Associação Renovar a Mouraria já não consegue responder aos pedidos de tantos migrantes que chegam à freguesia. Por isso, vai abrir uma Casa de Estar, para tentar acudir a todos os que precisam de ajuda.
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As portas azuis escondem uma pequena casa cheia de cor e objectos com história: tambores usados numa oficina de percussão, um piano que foi oferecido no primeiro aniversário da associação Renovar a Mouraria, instrumentos de cozinha, algumas mesas e cadeiras, uma folha de papel onde se lê, em inglês, "nenhum ser humano é ilegal". Neste espaço, vai funcionar a Casa de Estar da Mouraria, um projecto que nasceu de uma necessidade, explica Inês Andrade, uma das fundadoras da associação. "A procura de pedidos de apoio é cada vez maior, a todos os níveis. Além do aumento da procura, é a gravidade das situações, o que faz com que as pessoas estejam, efectivamente, desamparadas nas questões estruturantes para uma vida minimamente digna."
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À beira de completar 15 anos, a associação Renovar a Mouraria nota que, hoje, a situação "é pior". Inês Andrade conta que "atendemos dezenas de pessoas por semana e não conseguimos dar resposta a todas as solicitações. O repto que fizemos a nós próprios foi mesmo: vamos abrir a porta e toda a equipa, de todos os projectos, vai fazer o que puder e está aqui em turnos rotativamente, para que as pessoas não saiam sem resposta, porque é doloroso ver os rostos de tristeza das pessoas que chegam aqui e não conseguem sequer um vislumbre de uma solução às vezes para coisas muito simples".
A habitação continua a ser o principal problema na freguesia, onde chegam cada vez mais migrantes. Faltam casas e há também moradores alvo de despejo. A Casa de Estar quer ser um espaço de convívio, "acolhedor e quentinho", onde as pessoas se sintam realmente em casa. No espaço exterior, haverá um jardim, com hortas, num convite aos trabalhos manuais, mas "se quiserem estar aqui, simplesmente a ler", as portas também estarão abertas. Inês Andrade lembra que, com a crise na habitação, muitas casas são demasiado pequenas, sem espaço para socializar, e há também quem procure a associação apenas "porque precisa de companhia, de não se sentir sozinho".
A Casa de Estar terá técnicos de apoio social e jurídico. Vai estar aberta nos dias úteis, das 10h às 18h, mas na inauguração, este sábado, estará de regresso a Contaria, uma actividade de contos tradicionais que fez sucesso durante quatro anos. No dia 18, haverá uma ronda pelos Direitos Humanos, na qual "vamos fazer música e andar pelo bairro, a conhecer as tasquinhas". Entre os dias 13 e 17, a Casa recebe oficinas de cartazes, que poderão depois ser usados numa instalação. Inês Andrade deixa o convite para uma casa que está sempre aberta, porque "só faz sentido com pessoas. Venham, toda a gente é bem-vinda".
A autora não escreve segundo as normas do novo Acordo Ortográfico