Miguel Costa Matos, líder da Juventude Socialista, desvaloriza as críticas sobre as celebrações dos 50 anos do partido.
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Há um jardim em Lisboa que pode servir de ponto de partida para olhar o presente e o futuro de um dos partidos mais antigos da democracia portuguesa. Desde 2018, o jardim do Campo Grande é também o Jardim Mário Soares. Uma homenagem ao primeiro-ministro, ao Presidente da República. Mas também ao homem que, antes de tudo, foi um dos pais do Partido Socialista.
Com um pé no passado e os olhos no futuro, este jardim é o ponto de partida para um dos mais jovens deputados socialistas projetar os próximos anos do PS. Miguel Costa Matos é desde 2020 líder da Juventude Socialista (JS), mas a entrada na política ativa deu-se ainda antes. Chegou ao Parlamento em 2019, com 25 anos.
Hoje, com 28 anos, e no dia em que o partido a que está oficialmente ligado desde os 14 anos assinala cinco décadas de vida, Costa Matos vê Mário Soares em muito do PS de hoje. "O partido tem hoje ainda muito de Mário Soares. Uma figura com um enorme humanismo, coragem. Uma figura pragmática. E isso é o PS. É um partido que, perante a realidade, encontra soluções", afirma.
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Em cinquenta anos, muitos são os protagonistas que já marcaram a história socialista. No início do ano, o atual secretário-geral, António Costa, pediu mais rigor na escolha de quem veste a camisola socialista. ""Nunca devemos esquecer todos aqueles que temos de honrar e respeitar. A escolha de presidentes de juntas de freguesia, de membros do Governo, temos de ser muito mais exigentes. Temos mais de 50 anos de património que temos de saber honrar", referiu Costa no final de uma reunião da Comissão Nacional do partido.
Miguel Costa Matos admite que os erros de casting existiram." Se o PS conseguiu a confiança de ter uma maioria absoluta, a maioria das juntas e das câmaras é porque o partido tem feito alguma coisa para merecer a confiança das pessoas. Isso em parte tem que ver com a integridade das pessoas. Naturalmente que em alguns casos acontecem erros. Erros que são nossos, que escolhemos as pessoas. Erros das pessoas quando fazem o que não deviam", reconhece o deputado.
Sócrates deve "reconciliar-se com as próprias ideias"
A JS foi fundada em 1975. Desde então, já muitas ideias e propostas surgiram e ficaram pelo caminho. Publicamente, Miguel Costa Matos já afirmou que a "jota" não serve só para distribuir panfletos. "Temos a sorte de ter um secretário-geral e um primeiro-ministro que nos ouve", elogia o dirigente socialista. Costa Matos defende que a JS já deixou a sua marca na governação. "A lei de bases do clima tem o rigor e a ambição que tem muito por causa da Juventude Socialista", dá como exemplo. Mas o deputado deixa o recado. "Atenção: há muito para fazer. Temos muito para somar ao futuro do Partido Socialista", alerta.
Nos últimos dias surgiram as críticas de históricos do PS, que já não se reveem no partido do presente. Na semana passada, Ascenso Simões, antigo dirigente socialista, escreveu no semanário Expresso que "o PS de hoje quase não existe. Ou só existe a partir do poder e para o poder". Já António Campos, um dos fundadores do partido e braço direito de Mário Soares nos primeiros tempos de PS, escreveu uma carta a António Costa a explicar porque vai faltar à festa de aniversário do partido, tendo afirmado na semana passada à revista Sábado que "a atual direção do partido desconhece os princípios e os valores fundadores do PS". Miguel Costa Matos não concorda.
"É natural que o partido se foque na tarefa de governar. Mas o partido está vivo. Não acho que essas críticas sejam fundadas. Se o partido quer ter futuro tem de ouvir, manter-se fiel aos seus princípios e tem de renovar a sua capacidade de transformar o país", resume o líder da JS.
De fora das celebrações vai também estar José Sócrates. Costa Matos rejeita que a decisão de não convidar o antigo secretário-geral e autor da primeira maioria absoluta da história dos socialistas - o partido já disse que só convida os antigos secretários-gerais que são membros do partido - mostre um PS amargurado com o passado. ."O PS tem de convidar os seus militantes. Foi José Sócrates quem decidiu afastar-se. Há um velho ditado que diz que só faz falta quem está. Se foi o próprio José Sócrates que não quis estar no PS, espero que saiba reconciliar-se com as suas próprias ideias."