O projeto Scholas Occurrentes está a criar um mural de três quilómetros, em Cascais. A última pincelada será dada pelo papa Francisco.
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Os pincéis e pequenas latas de tinta espalham-se pelo chão e pelas mesas, no Centro logístico de Cascais.
O pavilhão está cheio com cerca de 70 jovens, com os dedos sujos de tinta, debruçados sobre as grandes telas estendidas na horizontal. São todos voluntários de Cascais, que participam no projeto da Scholas Occurrentes para criar um mural com três quilómetros, celebrando a visita do papa Francisco, na altura da Jornada Mundial da Juventude (JMJ).
Ateu, Afonso, de 19 anos, explica que gosta de participar em projetos e este, sendo "muito ambicioso", tem a "motivação extra" de ser apresentado ao papa. "Respeito o que o papa representa e o poder que tem. Claro que é um evento católico, mas acima de tudo, é um evento que junta pessoas de todo o mundo e de culturas diferentes e poder partilhar experiências com outras pessoas é uma experiência enriquecedora".
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Maria Leonor participa pela primeira vez. "O que interessa mesmo não é o facto de (o desenho) ser perfeito. É o facto da vontade da pessoa se juntar a este projeto. Com a ajuda dos amigos também é bastante mais fácil. Acaba por ser um trabalho bastante pacífico", afirma a jovem de 14 anos.
Entre os voluntários, Charuto, nome artístico de Miguel, é dos mais velhos. Ensina a pintar em "lares, escolas, bairros sociais", onde "cada um faz um desenho e no final de toda a tela pintada, eles vão ver a história que está escrita". Nos desenhos para o papa, o tema gira em torno da "carência, as dificuldades. Por exemplo, os deficientes pintaram a dizer que precisam de autocarros e de rampas".
O projeto Scholas Occurrentes foi criado pelo papa Francisco, em 2001, quando era ainda bispo em Buenos Aires. Estendeu-se depois, a vários países, tendo começado em Portugal em 2019. O Scholas Occurrentes promove a cultura do encontro entre estudantes através da arte, do desporto e da tecnologia, mas chega também aos mais velhos e carenciados nas prisões, escolas, lares e bairros sociais. O diretor do Scholas Occurrentes em Portugal, Francisco Martin, realça que o objetivo é "gerar mudança na educação, para criar uma nova cultura que tente dar sentido à vida dos jovens", que por vezes, sentem "muita vergonha". "Tiveram problemas de violência doméstica, temas de abuso e que acabam por sentir-se sem confiança e intimidadas para continuar a ter uma vida diferente."
A criação do mural trouxe a Portugal, o jovem espanhol Rafa. Veio de Granada, apenas por duas semanas, e ao contrário de muitos espanhóis, não virá a Lisboa durante a JMJ. Rafa elogia o mural "único. É um projeto muito único" que pode servir de inspiração para criar um mural em Espanha, mas fica-se pela parte artística. Assim, não estará presente quando o papa Francisco visitar a Scholas Occurrentes, nem no momento em que o chefe da Igreja católica vai dar a última pincelada no mural que pretende ser o maior do mundo.