O lar de idosos de Vila Boim, em Elvas, arranjou uma solução para os utentes receberam rápidas visitas dos familiares em tempo de pandemia. Preparou uma varanda virada para rua, onde os idosos, equipados de máscaras e mãos desinfetadas, podem conversar alguns minutos com filhos e netos. Basta fazer marcação prévia. A modalidade já dura há três semanas.
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Ricardo Faritas acabou de chegar de Setúbal e está ansioso por voltar a ver a mãe cara a cara. Dois meses depois de apenas falar com Ana Gaspar por videochamada. "Já são muitas saudades. Falamos pelas redes sociais, que é melhor do que o telefone, mas nada tem a ver com este contacto pessoal, sobretudo para ela", desabafa à TSF.
Já está equipado de máscara junto à fachada do edifício, em frente a uma varanda no rés-do-chão onde a mãe vai ser conduzida por uma auxiliar dentro de instantes.
"Lá vem ela. Está muito bem e gosta de conversar", aponta Ricardo, no preciso momento em que a porta se abre e aparece sorridente Ana Gaspar. "Está tudo bem?", começa por perguntar ao filho que reside com a família em Setúbal, mas que, antes da pandemia imposta pela Covid-19, todos os meses visitava a mãe, pelo menos, uma vez. "O pequenino já anda?", insiste, reportando-se a um bisneto. "Ainda não, mas já gatinha", responde Ricardo.
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Para quem esteve dois meses longe do filho há que aproveitar o tempo para pôr a conversa em dia. Ana garante que tem dormido bem, porque ocupa os dias a fazer renda, primeiro com trabalhos para as auxiliares do lar e agora para a creche. "Há quem leve o dia a dormir, mas eu não consigo, porque depois não durmo de noite."
O filho Ricardo Faritas aplaude a ideia das visitas à varanda, aproveitando uma ideia da direção da Associação de Assistência de Vila Boim, segundo a qual os idosos são autorizados e irem por uns instantes àquele espaço do edifício, enquanto os filhos e netos ficam na rua de Borba, cumprindo o distanciamento. "Ao fim de tanto tempo valeu mesmo a pena, apesar de não podermos dar beijinhos e abraços. Fica para a próxima", resignava-se Ricardo.
O presidente da direção do lar, José Malhado, admitia que esta solução foi inspirada no namoro à antiga. "Dantes eram os pais dentro de casa e os filhos à janela. Agora é ao contrário", comparava o dirigente à TSF, admitindo que a varanda estava inutilizada, mas, afinal, percebeu-se que podia ajudar a aliviar a saudade entre familiares dos 25 idosos que frequentam a instituição.
"Limpámos tudo, colocámos uns cadeirões e consegue-se ter aqui um bocadinho de confraternização, que é muito importante para estas pessoas não estarem tanto tempo sem verem os filhos, os netos ou irmãos", resume.
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