"Aborrece-me a desculpa das sobras, porque não há." Desvios de vacinas tinham de ser "antecipados"
Ana Rita Cavaco considera que o caso de utilização de vacinas em casos não prioritários reflete falta de planeamento e de antecipação de cenários e sustenta que é necessário um órgão fiscalizador, fora da área da saúde.
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"Aborrece-me esta desculpa das sobras, porque não há sobras." Ana Rita Cavaco garante, ouvida no Fórum TSF, que, no que toca ao desvio de vacinas contra a Covid-19 para grupos não prioritários, o problema é outro: no momento da administração - isto também é antecipável -, trabalha-se com "agulhas e seringas diferentes". É possível extrair cinco ou seis doses da ampola, "todos sabemos isto", explica a bastonária da Ordem dos Enfermeiros. "Quando eu envio uma lista para uma instituição de saúde, para vacinar aquelas pessoas, é óbvio que eu tenho de ter nomes supletivos, porque naquele dia eu posso efetivamente ter mais algumas doses", evidencia Ana Rita Cavaco, que fala em "nomes de prioritários e não de chicos espertos".
"É assim que se trabalha" para se poder administrar todas as doses do frasco, e isso é "responsabilidade dos órgãos de gestão", vinca.
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A representante do coletivo de enfermeiros garante ter ouvido com atenção as palavras do coordenador da task force responsável pelo plano de vacinação. "Confesso que fiquei muito surpreendida quando o ouvi dizer que o sistema está feito para vacinar as pessoas e não para perseguir outros tantos. Nós já estávamos à espera de que isto pudesse acontecer." Ana Rita Cavaco salienta que a utilização indevida de vacinas já aconteceu noutros países da Europa, mas que, nesses casos, "as pessoas demitiram-se". A bastonária lembra que apenas a diretora da Segurança Social de Setúbal apresentou a demissão no caso português.
No sábado, o conselho diretivo do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) "aceitou o pedido" do diretor regional no Norte, que colocou o lugar à disposição após autorizar a vacinação contra a Covid-19 de profissionais de uma pastelaria no Porto.
O diretor regional do INEM no Norte, António Barbosa, assumiu no sábado que tinha autorizado a vacinação de 11 funcionários de uma pastelaria próxima, tendo rejeitado que se tratasse de favorecimento, mas sim para evitar o desperdício das doses de vacina.
Este caso expõe a falta de planeamento, de acordo com a bastonária. Planear é "antecipar cenários", pelo que Ana Rita Cavaco defende o controlo por parte de uma entidade externa para compreender se os que constam das listas são ou não os prioritários. "Tem de haver um mecanismo de controlo", reafirma.
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