Abusadores na Igreja "têm de ser afastados das suas funções, quaisquer que elas sejam"
No Fórum TSF, Nuno Caiado considera que os católicos que se mobilizaram, em 2021, para "exigir ao episcopado português" uma investigação independente "tinham toda a razão".
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Depois de conhecidas as conclusões do trabalho da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais em Crianças na Igreja Católica, o tema subiu a debate no Fórum TSF desta terça-feira. Nuno Caiado, o primeiro subscritor de uma carta enviada, em 2021, à Conferência Episcopal Portuguesa, para pedir uma investigação independente, defende que os mais de cem abusadores que ainda estão no ativo devem ser suspensos.
"É difícil ter uma missão cumprida quando se sabe que há ainda abusadores que estão ao serviço da Igreja, mas o relatório veio dar razão àqueles católicos que, em novembro em 2021, se mobilizaram para exigir ao episcopado português esta investigação. Pelos vistos tinham toda a razão", considera Nuno Caiado, sublinhando que "a reposta mais simples e correta é afastá-los".
"A questão que se põe como o fazer. Havendo suspeições minimamente fundamentadas, há que suspendê-los. Havendo uma comprovação, mesmo que ela não seja jurídica, os abusadores têm que ser afastados das suas funções, quaisquer que elas sejam e quaisquer que eles sejam. Não tenho qualquer dúvida sobre isso", sustenta.
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Relembrando as declarações do padre Filipe Diniz, responsável pela pastoral juvenil, que disse que o relatório sobre os abusos sexuais não deveria afetar a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), Nuno Caiado não concorda e fala numa "insensatez terrível".
"Evidentemente que isto deve impactar a JMJ. Este tipo de negacionismo sub-reptício é a continuação da tragédia, temos que perceber que isto é uma tragédia real para uma imensidade de vítimas e é também uma tragédia imensa para o interior da Igreja", reforça.
Marcelo Rebelo de Sousa recebeu, durante a tarde de segunda-feira, em Belém, o relatório sobre os abusos sexuais na Igreja Católica, das mãos da comissão independente. O Presidente da República sublinhou a "imperiosidade da Igreja Católica" e concordou em alargar a prescrição dos crimes para os 30 anos da vítima.
A Comissão Independente validou 512 dos 564 testemunhos recebidos, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de vítimas da ordem das 4815.
Estes testemunhos referem-se a casos ocorridos no período compreendido entre 1950 e 2022, o espaço temporal que abrangeu o trabalho da comissão.
O sumário do relatório, contudo, revela que "os dados apurados nos arquivos eclesiásticos relativamente à incidência dos abusos sexuais devem ser entendidos como a 'ponta do iceberg'".