Marcelo diz que Igreja tem de "mudar de vida" e agir "rapidamente e exemplarmente"
O Presidente da República defende criação de nova comissão para investigar abusos sexuais na Igreja e não só.
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Marcelo Rebelo de Sousa defende que a Igreja tem de agir "rapidamente e exemplarmente" e "tirar lições para o futuro" depois das revelações do relatório final que dá conta de pelo menos 512 casos de abusos sexuais de menores ligados à Igreja, dos quais 25 foram enviados para o Ministério Público,
A "instituição que se confronta com este tipo de relatório é levada mudar de vida, é inevitável", disse o Presidente da República em declarações aos jornalistas à margem da iniciativa "Músicos no Palácio de Belém".
"Seria muito estranho que, como consequência daquilo que se publicou, (...) não se tirassem lições para o futuro", - no que toca à "responsabilidade, no afastamento daqueles que podem ter uma atuação reincidente, no funcionamento das estruturas da instituição", defende
E também deve haver consequências para quem ajudou a encobrir os abusos? "A Igreja como instituição tem de repensar a sua atuação do futuro", responde o Presidente, já que "em muitos casos não se teve a noção, noutros casos teve a noção mas subavaliou (achou que era um fenómeno isolado ou que não tinha a gravidade que tinha), noutros fenómenos demorou muito a reagir e noutros casos ainda está a querer compreender o que se passou".
Questionado sobre se o número de casos o surpreendeu, já que em outubro do ano passado afirmou não considerar "particularmente elevado" o número provisório de 400 casos, o chefe de Estado aponta que os testemunhos recolhidos podem ainda estar aquém da realidade.
"Este número é bem superior ao número anterior, e para o tempo em que trabalhou a comissão, significa que pode ser apenas uma parte do fenómeno e não a totalidade do fenómeno."
Questionado qual deve ser o caminho a seguir, o Presidente da República defende que "seria bom" adotar a recomendação da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica de criar uma nova comissão, ligada ao Estado, para continuar a investigar este tipo de crimes.
"Existe uma ideia de impunidade ou de não-denúncia em atividades variadas", ligadas a várias instituições, aponta Marcelo Rebelo de Sousa. "Essa cultura cívica é essencial que seja ultrapassada."
O chefe de Estado disse estar em "total sintonia" com a Comissão Independente sobre a mudança da lei em relação à prescrição dos crimes de abusos sexuais, mas ressalvou que "a última palavra é do Parlamento".
Sobre o impacto da divulgação deste relatório para a Jornada Mundial da Juventude, diz que é preciso "separar as duas coisas", até porque se trata de um evento cujos participantes vêm sobretudo do estrangeiro, mas tudo dependerá da "reação da Igreja"
"Em muitos países as igrejas tiveram a iniciativa de enfrentar o fenómeno e agir rapidamente e exemplarmente", outros demoraram muito tempo e o impacto para a opinião pública foi completamente diferente, nota. "Era preferível que fosse o primeiro o caminho em Portugal."
"Que a Igreja tem um dever ético de responder, isto é, de se responsabilizar e que ontem foi assumido, é assim. Que esse dever ético abrange o apoio psicológico, continua a ser muito importante para muitas as vítimas anos e anos e anos depois, não há dúvidas. Que em vários países houve indemnização, também se sabe, portanto vamos esperar pela posição da Igreja."