O bacalhau e o peru não têm lugar na mesa de Natal dos vegetarianos. Desde os pratos que podem cozinhar à melhor forma de lidar com as famílias que rejeitam outros padrões alimentares, Gabriela Oliveira explica à TSF como se vive uma época festiva 100% vegetal.
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O aroma a açúcar e a canela mistura-se com o barulho das conversas. É à volta da mesa de Natal que as famílias trocam ideias e evocam memórias, enquanto saboreiam a tradição. Na casa de Gabriela Oliveira, jornalista e autora de livros de cozinha, o cenário não é diferente, mas o bacalhau e o peru não entram nos pratos da consoada.
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Vegetariana há mais de 20 anos e vegana há sete, Gabriela Oliveira já ouviu muitas vezes a pergunta "Mas, afinal, o que é que comes no Natal?" e tem a resposta na ponta da língua: "pratos saborosos e muitos saudáveis".
"É bastante fácil converter pratos tradicionais na versão 100% vegetariana. Uma das formas mais fáceis é substituir o típico bacalhau por uma proteína de origem vegetal, como é o caso do tofu (alimento produzido a partir dos grãos de soja), que deve ser de qualidade, refrigerado e que se encontra facilmente nos supermercados."
Para a véspera de natal, Gabriela Oliveira sugere dois pratos simples: tofu com broa ou tofu à lagareiro.
"O tofu com broa tem a base de cebola, alho francês e tofu e depois leva uma camada de broa crocante por cima. É um prato fácil de preparar, até com antecedência, e vai ao forno na altura em que os convidados chegam. Para o tofu à lagareiro, colocamos as batatinhas com pele bem lavadas no forno, salpicadas com sal, um fio de azeite e dentes de alho laminados. Cortamos um bom tofu em fatias e temperamos com alho, pimentão-doce, orégãos, manjericão seco e pimenta preta. Envolvemos bem e levamos ao forno cerca de 20 minutos até ficar bem douradinho e saboroso e acompanhamos com couve portuguesa salteada. Fica uma delícia."
Já no dia de natal, a autora troca a carne assada por "um rolo de seitan recheado com legumes e cogumelos estufados ou, por exemplo, um rolo de lentilhas e beringela envolto em fatias de beringela que também vai ao forno, acompanhado com batata assada e com um molho especial."
A maior parte dos doces de natal podem também ser adaptados substituindo o leite por bebidas vegetais (de soja, amêndoa, aveia, etc.) e os ovos por "linhaça moída ou sementes de chia misturadas com água morna".
"Habitualmente, faço um bolo rainha que leva frutos secos e que é adoçado com tâmaras. Para além disso, podemos fazer as rabanadas ou as fatias douradas no forno para ficarem mais saudáveis, utilizar diferentes tipos de adoçantes. Depois há outros tipos de doces: a aletria, o bolo de frutos secos, o bolo de chocolate, o bolo de bolacha."
Nesta época festiva, mesmo os familiares da autora que comem carne no resto do ano abrem uma exceção e cedem às tentações vegetarianas, mas há algumas famílias que podem não aceitar tão bem escolhas alimentares diferentes do padrão. Nestes casos, a autora de "Cozinha Vegetariana Para Festejar" aconselha paciência e perseverança.
"Eu acho que temos que ser coerentes com os nossos princípios e mesmo nesta época mostrar que continuamos a querer ser vegetarianos. Se o local onde vamos não tiver essa hipótese de prato vegetariano somos nós a levar e, já agora, é bom mostrar o melhor que há da culinária vegetariana nesses momentos. Se um jovem vai a uma ceia de natal com outros familiares pode levar o seu prato vegetariano e também mostrar que é saboroso e que é interessante. Há certas alturas em que é preferível não estar a justificar porque é que se é vegetariano."
Gabriela Oliveira acredita que os tempos estão a mudar e que, com o tempo, a maior parte das famílias acaba por aceitar as opções dos membros vegetarianos: "Num primeiro momento pode haver um choque na família, pode haver resistência dos mais velhos, mas depois com o tempo vão perceber que é algo que vai durar e que é melhor adaptarem-se. Muitas vezes, são os pais e os avós que procuram informação e que tentam ajudar os mais novos nesse processo de reaprender a cozinhar e de dar também um miminho vegetariano ao neto e ao filho quando vai lá a casa."
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