Carlos Moedas afirma "compreender" os motivos da renúncia e, por isso, aceitou o pedido de demissão. O autarca lisboeta destaca ainda a "forma profissional e corajosa com que no momento mais duro do mandato, [...] o atual conselho de administração defendeu os interesses da empresa"
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O conselho de administração da Carris demitiu-se em bloco esta quarta-feira, após o acidente no elevador da Glória, que provocou 16 mortos e duas dezenas de feridos.
Em comunicado, a Câmara Municipal de Lisboa adianta que Carlos Moedas esteve reunido esta quarta-feira com o presidente da administração da empresa, Pedro de Brito Bogas, que renunciou ao cargo. O autarca afirma "compreender" os motivos apresentados e, por isso, aceitou o pedido de demissão.
A renúncia ao cargo é ainda "extensível a todos os restantes elementos do conselho de administração da empresa".
O presidente do executivo lisboeta destaca, na nota, a "forma profissional e corajosa com que no momento mais duro do mandato, na sequência do trágico acidente do Elevador da Glória, o atual conselho de administração defendeu os interesses da empresa e, apesar de terem colocado o lugar à disposição desde a primeira hora, aceitaram manter-se em funções".
A atual administração assume, assim, a gestão da empresa até à escolha do novo presidente e respetivos membros.
Pedro de Brito Bogas já tinha, contudo, colocado o lugar à disposição, mas, na altura, o presidente da câmara de Lisboa recusou, sustentando que "ninguém ia fugir".
"Carlos Moedas reforça e assume a preocupação de querer restabelecer o mais depressa possível a total confiança e credibilidade de uma empresa fundamental para a cidade de Lisboa", lê-se na nota.
A renúncia acontece na sequência das conclusões do relatório preliminar do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF), divulgado na segunda-feira, relativamente à tragédia com o elevador da Glória, que ocorreu no dia 3 de setembro e provocou 16 mortos e duas dezenas de feridos, entre portugueses e estrangeiros de várias nacionalidades.
A investigação conduzida ao acidente do Elevador da Glória detetou falhas e omissões na manutenção do ascensor, bem como a falta de formação dos funcionários e de supervisão dos trabalhos efetuados pela empresa prestadora do serviço.
O (GPIAAF) diz que as inspeções previstas para o dia do acidente com o elevador da Glória "estão registadas como executadas, embora detenha evidências de que não foram feitas no período horário indicado na correspondente folha de registo".
"Durante o período de operação do ascensor por várias vezes um trabalhador do prestador de serviços observou os veículos e falou com os guarda-freios", refere a investigação, dando conta da existência de um plano de manutenção diária, semanal, mensal e semestral.
Segundo os investigadores, "embora as ações de manutenção contratualmente previstas e planeadas estivessem a ser registadas como cumpridas em sistema de registo próprio, ao qual a Carris tem acesso direto, foram recolhidas evidências de que tal registo não corresponde às tarefas que efetivamente foram executadas".
"Há evidência de execução de tarefas críticas de forma não padronizada com parâmetros de execução e validação díspares", lê-se no relatório preliminar.
O GPIAAF conta que, no dia do acidente e no anterior, o cabo não foi observado no fosso, nem tal estava previsto nos procedimentos de manutenção, "embora o caderno de encargos seja contraditório em relação a este aspeto específico".
O descarrilamento do Elevador da Glória, em Lisboa, a 3 de setembro, causou 16 mortos e quase duas dezenas de feridos, entre portugueses e estrangeiros de várias nacionalidades.