À TSF, o sindicalista Manuel Leal admite que as conclusões dos relatórios preliminares do acidente com o Elevador da Glória "levantam sérias dúvidas em relação a essa questão"
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A Fectrans assume que não consegue garantir que as regras de segurança da Carris sejam apertadas, mas ressalva não ter "qualquer dúvida" de que os trabalhadores oficinais operam com "elevado grau de profissionalismo". Esta afirmação surge numa altura em que a investigação ao acidente do elevador da Glória, em Lisboa, detetou - além de falhas e omissões na manutenção do ascensor - que os veículos elétricos da Carris estão "sem supervisão independente", nem sujeitos a "quaisquer regras que não definidas pela própria empresa".
Questionado pela TSF, a propósito das questões levantadas pelos técnicos do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) em relação às condições de segurança dos elétricos históricos ou modernos, o sindicalista Manuel Leal diz que as notícias que têm vindo a público tornam difícil a resposta à pergunta sobre as regras de segurança da empresa.
"Essa é uma questão que parece difícil da nossa parte responder, até porque naquilo que tem vindo a ser escrito e dito, e inclusivamente reforçado pelos relatórios preliminares em relação a esta tragédia, levantam sérias dúvidas em relação a essas questões", sublinha.
Já quanto ao facto de não haver qualquer tipo de supervisão independente, Manuel Leal assegura que os trabalhadores não terão dificuldade em concordar com os técnicos do GPIAFF.
"Se os técnicos afirmam essa necessidade, que é compreensível, da nossa parte não temos qualquer problema em apoiar essa visão dos técnicos", assume.
Ressalva, contudo, não ter "qualquer dúvida" de que todos os trabalhadores oficinais da Carris operam, dentro das suas capacidades de dar resposta, com "elevado grau de profissionalismo" - ainda que reconheça que estão em número insuficiente para realizar a manutenção e reparação dos veículos que é necessária.
Assegura assim que, caso seja proposto que uma entidade externa ateste este mesmo argumento, a Fectrans está "de acordo e sem qualquer reserva".
Em causa estão as conclusões do relatório preliminar do acidente, divulgado na segunda-feira, pelo GPIAAF, que adianta que as inspeções previstas para o dia da tragédia em Lisboa "estão registadas como executadas, embora detenha evidências de que não foram feitas no período horário indicado na correspondente folha de registo".
"Durante o período de operação do ascensor por várias vezes um trabalhador do prestador de serviços observou os veículos e falou com os guarda-freios", refere a investigação, dando conta da existência de um plano de manutenção diária, semanal, mensal e semestral.
Segundo os investigadores, "embora as ações de manutenção contratualmente previstas e planeadas estivessem a ser registadas como cumpridas em sistema de registo próprio, ao qual a Carris tem acesso direto, foram recolhidas evidências de que tal registo não corresponde às tarefas que efetivamente foram executadas".
"Há evidência de execução de tarefas críticas de forma não padronizada com parâmetros de execução e validação díspares", lê-se no relatório preliminar.
O GPIAAF conta que, no dia do acidente e no anterior, o cabo não foi observado no fosso, nem tal estava previsto nos procedimentos de manutenção, "embora o caderno de encargos seja contraditório em relação a este aspeto específico".
O descarrilamento do Elevador da Glória, em Lisboa, a 3 de setembro, causou 16 mortos e quase duas dezenas de feridos, entre portugueses e estrangeiros de várias nacionalidades.