Elevador da Glória: Fectrans aponta dedo a “modelo errado” e diz que responsabilidade já vem de longe
A entrega da manutenção dos elevadores a uma empresa externa, segundo o sindicato, está na base do acidente que causou 16 mortos e duas dezenas de feridos
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A Fectrans considera que as informações que constam no relatório preliminar do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) ao acidente ocorrido com o elevador da Glória, em Lisboa, a 3 de setembro, vem levantar as questões apontadas pelo sindicato logo após o descarrilamento.
Em declarações à TSF, Manuel Leal, representante do sindicato, considera que o modelo de gestão da Carris, o desmantelamento das suas oficinas e a externalização de serviços está na base da situação. “No processo de destruição do setor oficinal da Carris, levado a cabo entre os anos 2005 e 2007, mais de 300 trabalhadores das oficinas, na altura exatamente aqueles com mais anos de experiência, foram levados à rescisão dos seus contratos de trabalho”, aponta.
”Com isto, comprometeu-se a capacidade que as próprias oficinas da Carris tinham na fabricação de peças de origem, que já na altura não existiam, e da própria reparação das peças que eram feitas nas oficinas da Carris”, explica. Manuel Lemos considera que “o modelo de gestão deve ser profundamente reavaliado”.
“Entendemos que este modelo da externalização de serviços é completamente errado”, acusa.
O relatório preliminar do GPIAAF afirma que o cabo que unia as duas cabinas do Elevador da Glória e que cedeu no seu ponto de fixação da carruagem que descarrilou não respeitava as especificações da Carris, nem estava certificado para uso em transporte de pessoas.
Questionado sobre se, perante estas informações, os dirigentes da empresa deveriam demitir-se, Manuel Leal não quer apontar o dedo a ninguém e sublinha que a responsabilidade já vem de longe.
“Se as responsabilidades hoje indicarem que, ao nível do Conselho de Administração da Carris e ao próprio nível da Câmara Municipal, estas responsabilidades têm de ser assumidas pelos detentores destes cargos. Para nós, elas vão efetivamente além destas pessoas”, considera.
“Outros conselhos de administração e outras gestões ao nível da Câmara Municipal seguiram exatamente o mesmo tipo de modelo que nós vivamente contestamos e, sempre, desde a primeira hora, tomámos posição contra”, critica.