Falhas na manutenção do Elevador da Glória: "É preocupante pensar que há pessoas que dizem que fizeram algo e não fizeram"
À TSF, João Massano, bastonário dos Advogados, defende ser necessário garantir que as inspeções são feitas com a "consciência" do risco em que "podem incorrer as pessoas" que circulam neste tipo de infraestruturas públicas. Em causa está a investigação conduzida ao acidente do Elevador da Glória
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O bastonário da Ordem dos Advogados, João Massano, afirma ser "preocupante" a falta de rigor com que são feitas algumas tarefas de manutenção em equipamentos públicos.
Em causa está a investigação conduzida ao acidente do Elevador da Glória, em Lisboa, que detetou falhas e omissões na manutenção do ascensor, bem como a falta de formação dos funcionários e de supervisão dos trabalhos efetuados pela empresa prestadora do serviço.
"Imaginemos que as pessoas que estão a fazer a manutenção dos elevadores dos nossos prédios ou de outro local público, colocam como tendo feito inspeções que não fizeram", exemplifica.
Para João Massano, é "preocupante poder pensar que existem pessoas que dizem que fizeram algo e não fizeram" em infraestruturas públicas.
O bastonário considera, por isso, ser necessário garantir que estas inspeções são feitas com a "consciência" do risco em que "podem incorrer as pessoas" que circulam neste tipo de infraestruturas públicas.
"Um tema que me preocupa bastante é a consciencialização das pessoas quando estão a realizar as suas tarefas e, por exemplo, não se distraírem com o WhatsApp ou coisas do género", defende.
O Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF) diz que as inspeções previstas para o dia do acidente com o elevador da Glória “estão registadas como executadas, embora detenha evidências de que não foram feitas no período horário indicado na correspondente folha de registo”.
“Durante o período de operação do ascensor por várias vezes um trabalhador do prestador de serviços observou os veículos e falou com os guarda-freios”, refere a investigação, dando conta da existência de um plano de manutenção diária, semanal, mensal e semestral.
Segundo os investigadores, “embora as ações de manutenção contratualmente previstas e planeadas estivessem a ser registadas como cumpridas em sistema de registo próprio, ao qual a Carris tem acesso direto, foram recolhidas evidências de que tal registo não corresponde às tarefas que efetivamente foram executadas”.
“Há evidência de execução de tarefas críticas de forma não padronizada com parâmetros de execução e validação díspares”, lê-se no relatório preliminar.
O GPIAAF conta que, no dia do acidente e no anterior, o cabo não foi observado no fosso, nem tal estava previsto nos procedimentos de manutenção, “embora o caderno de encargos seja contraditório em relação a este aspeto específico”.
O descarrilamento do Elevador da Glória, em Lisboa, a 3 de setembro, causou 16 mortos e quase duas dezenas de feridos, entre portugueses e estrangeiros de várias nacionalidades.