A defesa de Armando Vara vai pedir a nulidade do despacho do colectivo de juízes que aceitou juntar ao processo novas escutas, considerando que há regras que não foram cumpridas.
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À saída da sala de audiências, após terminar a nona sessão do julgamento que está a decorrer no tribunal de Aveiro, o advogado Tiago Rodrigues Bastos disse que «há naturalmente uma discordância».
«As regras são de que devo arguir a nulidade do despacho proferido, depois em função da decisão que o tribunal tome, logo vemos o que vamos decidir», disse aos jornalistas.
Apesar de não ter «nenhum problema com a junção dessas escutas», o advogado diz não concordar com a decisão dos juízes.
O colectivo de juízes que está a julgar o caso aceitou, esta terça-feira, juntar ao processo novas escutas envolvendo o ex-ministro Armando Vara, que o Ministério Público (MP) pretendia ver transcritas e usadas como prova no julgamento.
O juiz presidente Raul Cordeiro considerou «fundada» a pretensão do MP, acrescentando que o requerimento merece acolhimento «com vista à descoberta da verdade e boa decisão da causa».
Em causa estão as escutas de duas conversas telefónicas onde Armando Vara fala sobre a eventual demissão do então presidente da CP, Cardoso dos Reis, e que, segundo a acusação, provam a capacidade do ex-ministro para influenciar o processo de decisão junto de responsáveis governativos.
Durante a sessão de hoje, o tribunal ouviu o perito da Polícia Judiciária (PJ) Vítor Marques, responsável pelo relatório de perícia financeira e contabilística, feito com base na análise às contas bancárias de natureza particular dos vários arguidos.
Ao longo de cerca de quatro horas, o perito respondeu às questões do procurador do MP Marques Vidal e dos advogados de defesa, procurando esclarecer os movimentos de dinheiro entre Manuel Godinho e os vários arguidos no processo.
Segundo o responsável, o que sobressai desta análise é que «houve a transformação de muitos cheques em numerário». Vítor Marques adiantou que, entre 2001 e 2003, foram emitidos vários cheques ao portador, que foram levantados por Maribel Rodrigues, funcionária de Manuel Godinho e co-arguida, no valor total de cerca de 920 mil euros.
«Não faço ideia porque se transforma tanto cheque em numerário», afirmou o perito, admitindo que pudesse ser uma forma para «se perder o rasto ao dinheiro».
A inquirição do perito da PJ foi interrompida cerca das 18h00 e vai prosseguir esta quarta-feira de manhã.