Autoridades da região querem transvases do Alqueva ou de outras barragens a norte e mais uma dessalinizadora.
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O alerta foi deixado em uníssono, tanto pelo presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL), como do presidente da Comissão de Coordenação da Região Algarvia (CCDRA) num seminário sobre água e sustentabilidade. O autarca considera que o Estado está a reagir tarde aos problemas da seca que se faz sentir no Algarve e é preciso equacionar outras soluções, além das que já estão pensadas.
"Aquilo que estamos a decidir hoje, já decidimos tarde e é preciso antecipar os próximos 20 anos", adverte António Miguel Pina. "É preciso estudar a possibilidade de usar a água que cai no Norte, para que possa ser utilizada no Sul", sugere. Na opinião do presidente da AMAL, o Algarve "hoje pode abdicar um pouco da sua agricultura", mas não o pode continuar a fazer no futuro.
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No mesmo encontro, o presidente da CCDRA lembrou que no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) estão previstos 200 milhões para fazer face à seca, com medidas que possibilitem a eficiência hídrica na região. Nomeadamente, a construção de uma dessalinizadora que, no máximo, terá uma capacidade para 24 hectómetros cúbicos e irá levar uma fatia desse montante. No entanto, na melhor das hipóteses, ela só estará concluída em 2026 resolverá apenas parte da escassez de água na região. Na opinião de José Apolinário é necessário ir mais além.
"Parece-me evidente que temos de criar consensos para uma segunda dessalinizadora de nível médio na região e encontrar fontes de financiamento", afirmou.
O presidente da Comissão de Coordenação defende que se comece a pensar igualmente em trazer água do Alqueva, projeto que já estava pensado há muitos anos, aquando da revisão do Plano Regional de Ordenamento do Território (PROT), e que nunca avançou. Apolinário lembrou que "é a mesma bacia hidrográfica e, portanto, o tema da articulação entre Alqueva e [a barragem de] Odeleite já estava identificado em 2007", acentuando que " é necessário que exista solidariedade interregional".
Numa região que tem apenas água para mais seis meses (as barragens terão nesta altura pouco mais de 40 hm3 de volume útil e anualmente os consumos urbanos no Algarve rondam os 80 hm3), o presidente da AMAL avisa: "Pensem bem no desaire económico que é se no próximo agosto tivermos de racionar água e não estamos longe disso."
Presente no encontro, o vice-presidente da APA não se quis comprometer com as reivindicações das entidades públicas do Algarve. Pimenta Machado afirmou apenas que "não há tabus, estamos abertos a discutir outras soluções". No entanto, acentuou que, "primeiro é necessário concentrarmo-nos em trabalhar e executar os projetos que desenhámos em 2019", referindo-se às iniciativas que estão previstas avançar no PRR. O dirigente da APA lembrou que o início deste ano hidrológico (que começou em outubro) "é o pior ano de sempre" e que "há dez anos que chove abaixo da média" na região do Algarve.
O PRR tem previstos cerca de 200 milhões para o Plano de Eficiência Hídrica na região e prevê, entre outras, obras para a redução das perdas de água no setor urbano e agrícola, para a utilização de águas residuais tratadas, e na dessalinização da água do mar.