Gestor da rede de radares confessa que gostava de ter visto a substituição acontecer durante o verão, mas os procedimentos legais atrasaram o processo.
Corpo do artigo
Com Portugal continental a atravessar um período de chuva intensa devido à passagem da depressão Aline, dois dos cinco radares que o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) tem espalhados pelo continente e ilhas estão em processo de substituição.
Os equipamentos de Loulé e Coruche já começaram a ser desmontados depois de terem chegado ao fim da vida útil típica, situada entre os 20 e 25 anos, e o IPMA conta que dentro de quatro a cinco semanas já estejam de novo operacionais.
17195811
O meteorologista Vítor Prior, que gere esta rede de radares, falou com a TSF a partir de Coruche, um dos locais que está a ser alvo de intervenção, para explicar que já tinha chegado a altura da "remodelação total" destes radares e que tal implica "a sua substituição".
O objetivo do instituto, garante, é que o processo seja rápido: "O desmantelamento do radar antigo [de Coruche] começou há cerca de 15 dias e aquilo que está previsto é que dentro de mais ou menos três a quatro semanas o novo radar esteja já instalado e, não direi em funcionamento operacional imediato, mas já com alguma informação."
TSF\audio\2023\10\noticias\19\vitor_prior_1_situacao
Em Loulé "a situação é exatamente a mesma". O radar já começou a ser desmantelado, "o novo deverá chegar dentro de uma, no máximo duas semanas, e também dentro de cinco ou seis semanas" o equipamento mais recente já deverá estar instalado.
Entretanto, os meteorologistas recorrem tanto a imagens de satélite "em tempo real" como a ajudas que vêm do outro lado da fronteira, da Agencia Estatal de Meteorología (AEMET) de Espanha, em especial para compensar a abrangência do radar de Loulé.
"Temos informação dos radares de Espanha e, portanto, há uma cobertura completa do Alentejo e do Algarve, não tanto da parte Atlântica", assinala Vítor Prior, que destaca o protocolo luso-espanhol que permite esta troca de informação.
TSF\audio\2023\10\noticias\19\vitor_prior_2_alternativas
Questionado pela TSF sobre se essas informações são suficientes para prevenir e detetar eventuais problemas e, a partir daí, informar as autoridades, o meteorologista garante que são pelo menos "suficiente" para "garantir que é informação de qualidade" para dar "à população em geral e ao sistema de Proteção Civil".
"Melhor, melhor seria termos os nossos radares a funcionar, mas é aquilo que temos", reconhece.
A substituição destes radares já devia ter acontecido durante o verão - ou pelo menos o IPMA "gostaria muito que já tivessem sido substituídos e era o que estava previsto" -, mas o gestor da rede assinala também que o processo teve de cumprir os trâmites legais da contratação pública.
"Foi feito um concurso público Internacional, há concorrentes, há análise das propostas, há reclamações, há audiências, há Tribunal de Contas, há essas coisas todas que não podemos ultrapassar", um conjunto de circunstâncias que adiou o processo. "É evidente que gostávamos que fosse mais cedo", mas agora, aponta também, "só temos de esperar mais quatro ou cinco semanas para voltarmos a ter a informação do radar".
TSF\audio\2023\10\noticias\19\vitor_prior_3_pq_agora
Ainda assim, a substituição não precisava de ter acontecido mais cedo, porque o "tempo de vida dos radares é desta ordem de grandeza, têm um tempo de vida de entre 20 a 25 anos. Portanto, estava na altura".
E afinal, como se lê e para que serve um radar? "Dá informação numa escala de cores", explica, e "se toda a mancha de 300 km à volta do radar for azul, é uma situação em que não há sistemas com precipitação associada".
Se começarem surgir "manchas", nessas zonas "estão a ser desenvolvidos sistemas que dão origem a precipitação" e é a partir do acompanhamento dessas cores que se pode monitorizar "os sítios onde chove".
Assim, torna-se possível ver "em tempo real, porque a informação é praticamente de cinco em cinco minutos, se esses sistemas se estão a desenvolver ou se estão a perder atividade". Pode consultar aqui as imagens dos radares portugueses.
Além dos dois radares que estão a ser substituídos, o IPMA tem ainda equipamentos destes em Arouca, no Porto Santo e na ilha Terceira e está previsto que as verbas do Plano de Recuperação e Resiliência permitam instalar outros dois nos Açores.