Antigos ministros da saúde defendem recurso ao privado para resolver problemas do SNS
Recorrer mais ao setor privado é apontado por Luís Filipe Pereira, do PSD, e Adalberto Campos Fernandes como uma das possíveis soluções para colmatar os problemas estruturais do SNS.
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Os antigos ministros da saúde Luís Filipe Pereira, do PSD, e Adalberto Campos Fernandes, do PS, olham da mesma forma para os constrangimentos que desde o fim de semana afetam as algumas urgências de ginecologia e obstetrícia do país.
Luís Filipe Pereira garante que este é um problema estrutural, não pontual, pelo que acredita que o plano de contingência que o Governo vai apresentar para os três meses de verão não será solução.
"É mais um plano... A meu ver, o que está a acontecer no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e que se vai agravar, na minha opinião, se nada for feito de fundo, é que vão existir mais planos de contingência", condena.
António Costa já afirmou várias vezes que o número total de médicos desde 2014 aumentou, mas este reforço nos recursos humanos "não foi gerido nas especialidades de modo a que os serviços de apoio à população fossem comprometidos", considera Luís Filipe Pereira.
"Temos mais listas de espera para cirurgias de sempre, um número recorde de pessoas sem médico de família e cerca de quatro milhões de pessoas recorrem ao setor privado para terem cuidados de saúde (...) isto num país em que a Constituição dá o direito a todas as pessoas de terem cuidados gratuitos no SNS."
O antigo responsável pela área da saúde considera que estes são problemas incontornáveis, pelo que defende uma reforma profunda do SNS com medidas concretas e urgentes.
"Temos que dar autonomia às unidades [de saúde] permitir que as direções de cada hospital, por exemplo, possam ter liberdade para resolver os seus problemas. Isto não se faz de forma excessivamente centralizada, como tem sido o caso. A resposta pública tem de ser articulada com a resposta privada, o Estado pode, e deve, contratualizar serviços para a população no setor privado e setor social."
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A posição do antigo ministro da saúde do PSD é partilhada por Adalberto Campos Fernandes: é inadmissível que os cidadãos sejam penalizados por um SNS condicionado, pelo que é preciso fomentar a colaboração dos setores privado e social.
O ex-ministro da saúde no primeiro Governo de António Costa considera também que classificar como "constrangimentos' o que se esta a passar nas urgências de obstetrícia é um engano.
"Não podemos andar, quando surge uma dificuldade, de contingência em contingência", aponta.
"Há um problema com a demografia médica, conhecemo-lo há muitos anos; há um problema com a alteração da composição do sistema, que tem hoje uma relação entre público, privado e social que não tinha há 40 anos; há uma dimensão demográfica do país caracterizada pelo profundo envelhecimento e pelo empobrecimento."
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Adalberto Campos Fernandes lembra ainda que o aumento do número de médicos dos últimos anos não resolve, por si só, os problemas dos cidadãos.
"O hospital de Santa Maria até pode ter dois mil médicos, mas se não tiver anestesistas os blocos operatórios não funcionam", exemplifica. "A profissão médica é muito complexa, são mais de 40 especialidades, as competências são muito diversas e portanto é um trabalho de equipa multidisciplinar cheio de interdependência."