Associação de empresários cria manual para combater preconceitos na contratação de pessoas com deficiência

Adelino Meireles/Global Imagens (arquivo)
A associação Empresários pela Inclusão explica que "os jovens com deficiência continuam a enfrentar obstáculos significativos no acesso ao emprego", lembrando que em 2020 "a taxa de desemprego neste grupo atingia 20,3%, quase o dobro da registada na população sem deficiência (11,8%)"
Corpo do artigo
A "falsa crença" de que as pessoas com deficiência não são trabalhadores produtivos é um dos receios que impedem a contratação destas pessoas e contra a qual a associação Empresários pela Inclusão criou um manual com estratégias para empregadores.
De acordo com a associação Empresários pela Inclusão (EPIS), os "jovens com deficiência têm mais dificuldade de integração no mercado de trabalho", o que leva a associação a defender mudanças organizacionais com a ajuda de um guia prático para empregadores públicos e privados.
Aponta que "os jovens com deficiência continuam a enfrentar obstáculos significativos no acesso ao emprego", lembrando que em 2020 "a taxa de desemprego neste grupo atingia 20,3%, quase o dobro da registada na população sem deficiência (11,8%)".
"No setor privado, apenas 0,65% dos trabalhadores (15.317 em mais de 2,3 milhões) tinham deficiência e, na função pública, a percentagem não vai além dos 3% (22.238 em mais de 742 mil trabalhadores) ", refere a EPIS.
Em declarações à agência Lusa, a diretora financeira e responsável por projetos especiais da EPIS explicou que o manual "Vencer os Desafios da Inserção Profissional de Jovens com Deficiência - Boas Práticas no Terreno", pretende ser uma ferramenta de trabalho para empregadores públicos e privados, com pistas e exemplos concretos, simples e práticos para "melhorar os processos de seleção, recrutamento, integração e desenvolvimento da carreira destes jovens com deficiência".
Segundo Susana Lavajo, o principal receio dos empregadores reside na "falsa crença que as pessoas com deficiência não conseguem ser produtivas ao desempenhar as suas funções", receios que a responsável considera "infundados".
Defendeu que "estes jovens têm um valor económico real" e que "são perfeitamente capazes de desempenhar muito bem todas as tarefas", desde que tenham as "condições necessárias para cumprir as funções".
Susana Lavajo explicou que o manual procurou "equilibrar evidência literária com experiência prática" e deu vários exemplos do que pode ser melhorado, apontando que "há boas práticas de fácil implementação".
"Por exemplo, a sensibilização das equipas internas, o uso de linguagem inclusiva na comunicação, a promoção de pequenas adaptações no ambiente físico, e estas adaptações inclusivamente podem ser feitas usando a perspetiva do próprio candidato a ser integrado", apontou.
Outras sugestões passam por "dar instruções claras em formatos acessíveis" ou "ter na própria empresa um colaborador de referência que funcione como um mentor ou como um ponto de apoio para o candidato".
"A valorização das competências individuais, ou seja, o ir dando feedback construtivo, o reconhecimento do trabalho realizado, quer dizer, há uma série de práticas que podem ser feitas no mercado de trabalho, na integração profissional, que têm um baixo custo, mas têm depois um impacto elevado na motivação e na retenção destes jovens nas equipas", defendeu.
Susana Lavajo apontou que é também importante envolver as equipas nos processos de seleção e integração destes jovens e que as empresas devem "apostar em ferramentas tecnológicas mais acessíveis, de acordo com as deficiências em causa", para que cada jovem "possa desempenhar a função que lhe foi atribuída".
Para a responsável, a inserção dos jovens com deficiência no mercado de trabalho é uma questão de justiça social, de equidade e de cidadania, mas também de reconhecer o potencial e as competências de cada um e a mais valia que isso traz para a sociedade e para os próprios jovens.
Apontou, por isso, que o objetivo da EPIS é ajudar a diminuir a elevada taxa de desemprego entre estes jovens, contribuindo para que consigam mais do que "passar de programas de formação para programas de formação" ou de entrevistas em entrevistas.
Susana Lavajo adiantou ainda que a EPIS tem enviado o manual para as empresas e estão a organizar reuniões de apresentação para dar orientações às entidades empregadoras.
