Para combater a inércia da população, ginásios e instrutores particulares começaram a fazer vídeos e transmissões nas redes sociais a partir das próprias casas. Um deles está em Ovar, a cidade isolada pelo cerco sanitário.
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"Estamos em modo de contribuição". É assim que o instrutor de fitness Rui Silva, 34 anos, descreve as aulas gratuitas que dá, desde há duas semanas, em direto no Facebook . De segunda a domingo, "sempre às 18h00", o personal trainer e a mulher apresentam-se ao mundo para partilhar exercícios físicos a partir da sala do apartamento onde vivem, em Ovar. "É a cidade mais segura do país, ninguém entra nem ninguém sai", brinca Rui Silva, numa conversa com a TSF através do Whatsapp.
A ideia de dar aulas online começou quando, por causa das regras de isolamento, o casal ficou impossibilitado de trabalhar na habitual atividade de "nutrição e bem-estar com exercício físico". Tudo começou "por brincadeira", mas rapidamente Rui e a mulher decidiram "levar a sério" o contacto diário com os seguidores.
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"Quando começámos o primeiro live, há duas semanas, tínhamos 50 e tal pessoas. Atualmente, estamos com picos entre 500 e 600 pessoas. Já chegámos a atingir 670", refere o instrutor. Habitualmente, numa aula presencial estão "30 a 40 pessoas, se for num ginásio maior, e 15 a 20 pessoas nos ginásios familiares". Também por isso, esta experiência de aulas à distância "está a ser muito gratificante, tanto do ponto de vista profissional como social".
Pouco antes do início de cada aula, enquanto ajusta a câmara do telemóvel, Rui Silva vai incentivando quem chega à transmissão a escrever na caixa de comentários de onde é. "Temos pessoas do Canadá, do Brasil, dos Estados Unidos." A interação é uma marca de que não abdica: "Faço a aula como se estivessem pessoas à minha frente, as correções e as dicas são as mesmas". E no final responde aos comentários e aos pedidos de ajuda. "Termino a aula às 18h45 e tenho quase mais uma hora, hora e meia, em frente ao computador porque as pessoas interagem e conversam comigo em privado, tem sido muito bom."
Sublinhando que "não houve nenhuma estratégia especial" para este tipo de aulas, Rui Silva explica que apenas tenta programar as sessões com "estímulos diferentes" para não saturar a audiência. Faz "maioritariamente aulas com peso corporal", o que o obriga a usar, de vez em quando, "algumas garrafas ou garrafões de água para ter algumas cargas externas". Este improviso de material é comum a vários outros vídeos espalhados pela internet, feitos por pequenos e grandes ginásios, autarquias, associações ou personal trainers independentes.
Nestes dias de confinamento, não falta quem queira pôr os outros a fazer exercício. "Todos os ginásios que conheço estão a fazer algo do género, seja em perfil aberto ou privado. E há muitos colegas que, como eu, fazem a título pessoal e gratuito em casa, na garagem ou no jardim". Afinal, "basta ter um telemóvel" e nem é preciso muito espaço em casa. "Só arrumamos o sofá para o lado e temos ali dois ou três metros quadrados, o que dá perfeitamente."
A estética da imagem de vídeo parece não ser a maior preocupação de quem está a dar aulas pela internet. Entre os vários diretos a que a TSF assistiu nos últimos dias, em diversas páginas, apareceram frequentemente imagens em contraluz ou com som de difícil perceção. Os cenários são os lá de casa, por vezes até com o gato ou o cão dos instrutores a aparecer na imagem. Rui Silva confirma que não tem adereços de propósito para as aulas: "Às vezes, os nossos filhos estão a correr de um lado para o outro". O menino tem quatro anos e a menina dez, "mas não há problema nenhum" que apareçam na imagem, brinca o instrutor.
O que mais importa é incentivar à prática de exercício. "Estamos a ter pessoas que habitualmente não frequentam o ginásio por questões financeiras ou familiares, que não praticam exercício físico e que agora começam a fazer algumas coisas, o que é espetacular".
Elogiando o "sentido de partilha" de quem está a dar este tipo de aulas na internet, Rui Silva acredita que estas iniciativas vão ter "um impacto muito grande em termos de cidadania" de modo a que "mais pessoas possam adotar hábitos saudáveis no futuro".
A mesma ideia é partilhada pelo presidente da Associação Portuguesa de Desporto em Família (APDF), para quem "a atividade física é atualmente uma das grande soluções para as pessoas poderem passar o dia em felicidade e terem momentos bons" em casa. Embora sem ter dados estatísticos que o comprovem, José Pastoria acredita que o número de praticantes de exercício físico pode estar a aumentar, apesar do confinamento: "Aqueles que já faziam continuam a fazer e outros que não faziam retomaram ou começaram a fazer".
A APDF organiza neste Dia Mundial da Atividade Física aulas na internet entre as 9h30 e as 20h30, sensibilizando para que este seja o momento de "introduzir novos hábitos de qualidade de vida nas pessoas".
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