Aumento dos salários fazem subir inflação? Declarações de Lagarde são "um embuste"
À TSF, Isabel Camarinha afirma que o que faz aumentar a inflação é "a especulação" e o "aumento das margens de lucro" dos grandes grupos económicos".
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A secretária-geral da CGTP considera que é "um embuste" afirmar que o aumento dos salários contribui para as elevadas taxas de inflação. Ouvida pela TSF, reagindo às palavras da presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, na terça-feira, em Sintra, Isabel Camarinha lembra que não é a primeira vez que responsáveis europeus têm declarações semelhantes. Contudo, os trabalhadores continuam a viver com dificuldades enquanto os grandes grupos económicos continuam a registar lucros enormes.
"Quer o Banco Central Europeu, quer a União Europeia, quer o nosso Governo têm vindo com esse discurso intercaladamente. O que nós verificamos é que não são os salários que aumentam a inflação, é a especulação, é o aumento das margens de lucro. Os grandes grupos económicos da alimentação e da energia continuam a aumentar brutalmente os seus lucros e os trabalhadores, as suas famílias e os pensionistas estão a passar cada vez mais dificuldades", afirma à TSF Isabel Camarinha, sublinhando que as declarações de Lagarde são "um embuste".
"Não são os salários que causam a espiral inflacionista, o que está a causar a espiral inflacionista é a falta de medidas que, no nosso caso, o Governo não toma para impedir que isto continue neste caminho em que quem cruza riqueza empobrece, os grandes grupos económicos e financeiros continuam a lucrar milhões e milhões e milhões de euros, enquanto o próprio país não se desenvolve", defende.
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Portugal "caminha no sentido inverso do caminho do desenvolvimento"
A CGTP convocou, para esta quarta-feira, um dia de luta nacional com várias manifestações e greves por todo o país. Uma das principais reivindicações passa pela subida dos salários.
Isabel Camarinha admite que, este ano, houve trabalhadores com aumentos que lhes permitiram ter melhores condições de vida. Ainda assim, na grande maioria dos casos, os aumentos foram insuficientes.
"O pouco que foi negociado foi em valores que não garantem, de facto, a reposição, quanto mais a melhoria do poder de compra dos trabalhadores. Esta é a questão de fundo. Os aumentos que foram realizados, são insuficientes", defende, referindo que "onde se conseguiu aumentos que melhoraram a vida dos trabalhadores foi onde dos trabalhadores lutaram e obtiveram resultados".
"Felizmente, houve muitos trabalhadores que lutaram, muitas empresas em que os trabalhadores lutaram e conseguiram aumentos salariais, mais de cem euros de aumento para todos e não apenas para os que têm o salário mínimo nacional ou os salários mais baixos da tabela", explica.
A secretária-geral da CGTP afirma que o dia de luta nacional pretende ser um alerta para o rumo que Portugal está a seguir e apela à participação de todos os trabalhadores.
"O nosso país está a caminhar no sentido inverso daquilo que é o caminho do desenvolvimento e os baixos salários, a precariedade, a falta de investimento nos serviços públicos mostram bem isso. Nós precisamos de alterar esta situação. Vamos mudar este rumo. O apelo que se faz é que os trabalhadores participem, se juntem, se unam para exigir resposta e solução para os seus problemas, porque a resposta e a solução são possíveis e são necessárias para melhorar a vida dos trabalhadores e para o desenvolvimento do país", acrescenta.
Segundo Lagarde, a segunda fase do processo inflacionista está "a começar agora a tornar-se mais forte" com o impacto do aumento dos salários.
"Os trabalhadores ficaram, até à data, a perder com o choque inflacionista, tendo sofrido grandes decréscimos dos salários reais, o que está a desencadear um processo sustentado de convergência em alta dos salários, com os trabalhadores a tentar recuperar perdas", assinalou.