Lagarde diz que salários vão subir, mas inflação implica "perda dos salários reais"

Pedro Braz Teixeira
Paulo Alexandrino / Global Imagens
Pedro Braz Teixeira alerta para abrandamento da economia quando efeitos da subida das taxas de juro atingirem as famílias.
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O economista Pedro Braz Teixeira, diretor do Gabinete de Estudos do Fórum para a Competitividade, considera que as declarações de Christine Lagarde são contrariadas pelos dados do próprio Banco Central Europeu (BCE).
Segundo disse esta terça-feira a presidente do BCE em Sintra, na abertura do Fórum do Banco Central, os salários deverão crescer mais 14% entre agora e o final de 2025, mas segundo "as previsões do próprio BCE a inflação acumulada até 2025 será de 20%".
"Portanto, este aumento de 14% dos salários não pode ser considerado um fator muito inflacionista porque, claramente, vai haver uma perda dos salários reais, de acordo com o próprio BCE", nota Pedro Braz Teixeira em declarações esta quarta-feira no Fórum TSF.
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Christine Lagarde disse ainda que é cedo para assistir a um abrandamento das subidas das taxas de juro, admitindo ser muito provável uma nova subida na próxima reunião da instituição de julho. Para Pedro Braz Teixeira, o pior ainda está para vir.
"Todo o efeito restritivo da subida das taxas de juro ainda não chegou completamente às famílias e às empresas, por um lado porque as subidas decididas nos últimos meses ainda não chegaram às famílias e porque ainda vai haver novas subidas, pelo menos em julho e talvez em setembro."
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"Há, assim, um impacto que ainda não se fez sentir completamente e que vai e que vai abrandar a economia europeia, e claramente a economia portuguesa", alerta.
Também Mário Mourão, secretário-geral da UGT, condenou a redução da inflação à custa dos salários.
"Portugal é um país de baixos salários de baixos rendimentos", destaca, defendendo que não faz sentido "dizer que é preciso controlar os aumentos dos salários porque é por aí que a inflação se vai controlar, quando vários especialistas nesta matéria têm dito que o aumento dos salários não é um fator essencial e único do aumento da inflação".
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Por sua vez, Óscar Afonso, diretor da Faculdade de Economia do Porto, defende que o Governo tem um papel a desempenhar.
"Há claramente espaço para uma redução da carga fiscal sobre as famílias, em particular ao nível do IRS, também sobre as empresas, com a redução do IRC ou mesmo das contribuições sociais", defende. "Com isso, melhoraríamos o nível de vida da população e a pressão para aumentar salários, ajudando desta forma a conter a inflação, porque para o trabalhador que efetivamente conta é o salário líquido, mais do que o salário bruto."
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"A inflação tem gerado grandes excedentes orçamentais, portanto o Estado tem arrecadado uma receita que não previa, não é fruto da inflação. É certo que tem aproveitado isso para reduzir o rácio da dívida pública, o que é importante, mas a minha, na minha opinião isso pode ser feito de uma forma bem mais gradual, abrindo espaço para uma redução da tributação, tendo ainda a vantagem de contribuir como um forte incentivo para a redução da participação dos agentes económicos na economia não registada, Que em Portugal corresponde cerca de um terço do PIB oficial", afirma o diretor da Faculdade de Economia do Porto.