Críticas de Costa ao BCE: "O primeiro-ministro tem falta de sensibilidade para o mundo económico"
As palavras de António Costa sobre as medidas aplicadas pelo BCE para fazer face à inflação foram o tema principal do programa da TSF e da CNN Portugal, O Princípio da Incerteza. Lobo Xavier considera "completamente despropositado o primeiro-ministro virar-se contra" o BCE. Já Alexandra Leitão e Pacheco Pereira concordam com a atitude do chefe de Governo.
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O Banco Central Europeu (BCE) tem aumentado as taxas de juro e recomendado aos governos que evitem aumentos salariais, com o objetivo de combater a inflação. O primeiro-ministro, António Costa, criticou as medidas que têm sido aplicadas pelo BCE e defendeu que a instituição liderada por Christine Lagarde não está a compreender o fenómeno da inflação. As palavras do chefe do Governo português subiram a debate no programa da TSF e da CNN Portugal, O Princípio da Incerteza. António Lobo Xavier considera que as afirmações de António Costa foram desajustadas e despropositadas.
"O primeiro-ministro, no meio das suas inúmeras qualidades, tem alguns defeitos ou algumas falhas, entre os quais estão a falta de sensibilidade para o mundo económico e para a realidade macroeconómica", atira, sublinhando que Costa "tem até a desfaçatez de dizer que o Banco Central Europeu não percebe nada porque parte de um pressuposto errado e, portanto, tira conclusões erradas".
"No caso do primeiro-ministro é especialmente grave porque o ciclo político excecional de António Costa é devido integralmente ao Banco Central Europeu. O Banco Central Europeu foi o maior garante da longa vida e da maioria absoluta de António Costa e, portanto, é completamente despropositado o primeiro-ministro virar-se contra o Banco Central Europeu", refere Lobo Xavier.
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Já a socialista Alexandra Leitão defende que António Costa fez bem em mostrar desconforto com as medidas que Lagarde tem vindo a aplicar.
"Ela [Christine Lagarde] diz estas coisas com esta crueza de quem não se importa com as pessoas, mas cabe - ou não - aos governos, pelo menos, aligeirarem as consequências que esta política tem nas suas populações? Não é um dever? Não é um dever garantir que as pessoas não entregam casas, como aconteceu há uns anos atrás? Não é um dever que estas políticas cegas, que uma tecnocrata prova, sejam mitigadas, pelo menos?", questiona Alexandra Leitão.
"Já sei que isso ela [Lagarde] não quer, ela quer é que elas doam mesmo a sério para que tenham as consequências que são pretendidas", reforça a deputada socialista.
Alexandra Leitão considera, por isso, que o primeiro-ministro "fez o que tinha a fazer": "Manifestar uma discordância que eu acho que é legítima ter, com mais tecnicidade ou não, e depois tomar - e espero que venha a tomar - mais medidas no sentido de amenizar o impacto que isto vai ter sobre milhares e milhares de portugueses."
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"O primeiro-ministro dizer que discorda de uma política, que essa política em Portugal que já está com menos de 3% de inflação é uma política errada, pelo menos naquilo que aplica à economia e às consequências sociais em Portugal, e que - isso não disse, mas espero eu - tome medidas para mitigar esse impacto é, bem pelo contrário, aquilo para que foi eleito e ele [o primeiro-ministro] sim, com legitimidade democrática, e é por isso que os políticos têm direito a falar. Caso contrário, o que nós estamos a assistir é, pela mão destas soluções radicais, a uma transferência enorme de rendimentos de baixo para cima", acrescenta.
Opinião semelhante tem Pacheco Pereira, referindo que as medidas aplicadas pelo BCE têm consequências políticas, e, por isso, podem ser criticadas pelos governantes.
"A verdade é que as questões são políticas em primeiro lugar e, portanto, tem todo sentido discutir as posições da senhora Lagarde como posições políticas. Em democracia, é importante que as pessoas tenham conhecimentos técnicos e, no exercício das suas funções, apliquem os conhecimentos técnicos, mas o que nós estamos aqui a ver não é um problema técnico. Nós estamos aqui assistir a um remake do que, desde 2008, tem sido domínio por parte do sistema financeiro dos governos, que todos eles têm medo de mexer no sistema financeiro, têm medo das consequências e das decisões que possam contrariar os interesses da banca. Isso é uma coisa que se tem que discutir, porque parece que há medo em discutir esse aspeto. Uma parte importante das crises que atravessámos nos últimos anos tem origem no sistema financeiro e na banca e, no entanto, parece que não são responsáveis", afirma.
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OUÇA AQUI, NA ÍNTEGRA, O PRINCÍPIO DA INCERTEZA, UM PROGRAMA DA TSF E DA CNN PORTUGAL