Aumentos de 2% na função pública com inflação a 7,4%? "É incompreensível e inaceitável"
À TSF, José Abraão confessa que os funcionários públicos admitem ser "preferível reformarem-se", visto que "terão, no mínimo, garantido para o ano de 2023 aumentos superiores a 4%".
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"Incompreensível e inaceitável." É assim que José Abraão, secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública, vê a ideia lançada pelo primeiro-ministro de propor aumentos na função pública na ordem dos dois por cento, quando está a trabalhar com uma inflação de 7,4 por cento.
Ouvido pela TSF, José Abraão dá conta de funcionários públicos desencantados com o que ouviram na entrevista de António Costa à TVI e CNN Portugal. Muitos ligaram-lhe a dizer que é preferível reformarem-se. José Abraão encara, no entanto, a questão como uma mera hipótese, e diz esperar que a proposta a apresentar no processo de negociação para o próximo Orçamento do Estado seja manifestamente superior.
"As pessoas iam desabafando comigo, dizendo que claramente era preferível reformarem-se, porque terão, no mínimo, garantido para o ano de 2023 aumentos superiores a 4% e não conseguem compreender como é que uma pensão de 1000 euros tem um aumento de 4%, muito aquém daquilo que é a inflação verificada no ano, e um salário de quem está no ativo e trabalha sete ou oito horas por dia tem este eventual desfecho", afirma.
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"Espero que a proposta do Governo a apresentar nas negociações no Orçamento do Estado para o ano de 2023 seja mais consentânea com o repor do poder de compra dos trabalhadores da administração pública, que têm vindo a perder e, nomeadamente, ao longo deste ano e não tão somente com um valor que não sabemos como é que vai ser no futuro, mas que é para nós incompreensível e manifestamente inaceitável que dois por cento seja a referencia para qualquer negociação", explica.
O secretário-geral do Sindicato Trabalhadores da Administração Pública contrapõe que a grande despesa com as progressões foi em 2018 com o descongelamento das carreiras. José Abraão diz que vai aguardar que os sindicatos sejam convocados para a negociação.
"Apesar disto, temos uma expectativa positiva de que, além destas questões de natureza política, haja uma vontade clara por parte do Governo em melhorar os salários, melhorar o poder de compra e evitar aquilo que apenas são promessas no que diz respeito às medidas para todos aqueles trabalhadores e funcionários públicos que hoje vêm a sua prestação ao banco ser aumentada sem nenhuma contrapartida e completamente abandonados a si próprios", acrescenta.
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"PS tem uma opção clara de manter a degradação das condições de vida dos trabalhadores"
Do lado da CGTP, Isabel Camarinha fala de uma opção do Governo pelo empobrecimento.
"Demonstram que o PS tem uma opção clara de manter a degradação das condições de vida dos trabalhadores, dos reformados e pensionistas, em vez de alterar as suas opções e garantir aquilo que é necessário neste momento, que é o aumento geral dos salários de todos os trabalhadores. O Governo, relativamente aos trabalhadores da administração pública e do setor empresarial do Estado, tem não só uma responsabilidade acrescida como a capacidade de poder resolver este problema da perda brutal de poder de compra que todos os trabalhadores no nosso país e os reformados e pensionistas têm vindo a ter", explica em declarações à TSF.
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Isabel Camarinha afirma que, por isso, a luta vai continuar: "Em junho e julho realizaram-se grandes demonstrações e o que decidimos foi que vamos realizar um mês de mobilização e luta entre 15 de setembro e 15 de outubro, com manifestações a 15 de outubro em Lisboa e no Porto, em que os trabalhadores, reformados e pensionistas vão colocar esta exigência de resposta. A resposta não está a ser dada e não é por não haver condições, porque há condições. Temos condições no nosso país para que as pessoas tenham uma vida digna, para que sejam garantidos os direitos salariais de uma retribuição que garanta o acesso às necessidades dos trabalhadores e pensões que garantam o envelhecimento com dignidade aos reformados e pensionistas."
Em entrevista à TVI e CNN Portugal, o primeiro-ministro assumiu que acredita que a inflação "será superior a 6%" e afirmou que o Governo está "a trabalhar em 7,4%". No entanto, "os funcionários públicos não vão ser aumentados em 7,4%".
"O combate contra a inflação é dos mais difíceis. É sempre muito difícil encontrar um equilíbrio em que os rendimentos aumentam o suficiente para que as pessoas possam combater a subida dos preços, mas não aumentem demasiado para não entrarmos numa espiral inflacionista", argumentou António Costa.
O chefe de Governo indicou que "o referencial que se deve ter é chegar o mais rapidamente possível ao objetivo a longo prazo" que, neste caso, "são os 2%".
* Notícia atualizada às 09h23