Autocarros mais lentos? Associação Zero lamenta que transportes "não sejam prioridade" e pede "medidas urgentes"

Foto: Leonardo Negrão/Global Imagens (arquivo)
Em declarações à TSF, Francisco Ferreira fala de "vontade política" para "implementar soluções" e fazer com que as cidades sejam amigas das pessoas
Os transportes públicos continuam a não ser "uma prioridade" e os utentes têm razão para se queixar. Quem o diz é Francisco Ferreira, presidente da associação ambientalista Zero e professor no Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, na sequência dos dados que constam do Plano de Atividades e Orçamento da Carris para 2026 e que indicam que a velocidade média de circulação da Carris foi de 13,66 km/hora, a mais lenta de sempre na rede de autocarros que serve a capital. Em declarações à TSF, o ambientalista considera que falta "vontade política" para fazer com que as cidades sejam amigas das pessoas.
Nunca os autocarros da Carris andaram tão devagar como em 2025 e, pelo menos até junho do próximo ano, vai ser ainda pior. O aumento do tráfego rodoviário depois da pandemia e o início de grandes obras na cidade de Lisboa são razões apontadas para a lentidão dos autocarros.
"É incompreensível e só mostra como damos prioridade ao automóvel. Por outro lado, não têm sido construídas novas vias dedicadas para autocarro, o que permitiria aumentar a velocidade de circulação em alguns acessos. Continuamos a ter cidades feitas mais para o automóvel do que para as pessoas e para o transporte público. O que está a falhar, acima de tudo, é a vontade política de implementar soluções", explica à TSF Francisco Ferreira.
O presidente da Zero pede, por isso, "medidas urgentes" ao Governo e à câmara de Lisboa.
"Sendo a própria Câmara Municipal quem administra, indiretamente, a Carris, não se percebe como é que não tem uma política integrada de desincentivo do uso do automóvel, principalmente no centro da cidade, que está muito bem servido de transportes públicos, para de uma vez por todas termos cidades mais amigas das pessoas e onde a resposta do transporte público seja muito mais eficaz, porque estamos a andar em sentido contrário", sublinha.
No primeiro trimestre, os autocarros vão abrandar para uma velocidade média de 13,58 km/hora. Entre abril e junho, a média será de 13,65 km/hora e, apenas no final de 2029, deverão ser atingidos os 13,9 km/hora.
Há milhares de carros a circular nos corredores bus ou estacionados junto às paragens dos autocarros. Em apenas seis meses, a Carris detetou mais de três mil viaturas em infração. Ainda assim, a empresa prevê um aumento da procura no próximo ano, com a entrada em funcionamento de novos autocarros e tripulantes.
A Carris estima que transportou, este ano, quase três milhões de passageiros.