Bancos consideram que extensão das dificuldades "não é aquela que se pretende fazer crer"
Associação Portuguesa de Bancos diz que banca procura facilitar a vida dos clientes na renegociação de créditos, "mas não faz milagres". Sobre dificuldades das famílias, Vítor Bento sinaliza o crescimento do consumo privado para sustentar que "extensão das dificuldades não é aquela que se pretende fazer crer".
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As dificuldades "obviamente" existem, mas a associação que representa os bancos portugueses não considera que sejam tão grandes quanto "se pretende fazer crer". Em audição parlamentar, o presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB) vinca que os números do consumo privado do ano passado não revelam uma extensão das dificuldades e até nota que esse crescimento não se deve aos mais ricos da população.
"Não é verdade que os resultados que os bancos tiveram em 2022 fossem num cenário de gravidade social do resto da economia. Aquilo que os dados económicos mostram, divulgados ainda há pouco tempo, é que o ano de 2022 foi um ano que economicamente correu muito bem para todos os setores", começa por sublinhar Vítor Bento notando que "o consumo privado das famílias aumentou como não aumentava desde 1990" e que tal "não é propriamente um sinal de dificuldade".
Notando que em 2023 os dados poderão ser outros, o representante dos bancos nacionais destaca que no ano passado "o PIB cresceu como não crescia desde 2021, o rendimento disponível das famílias estabilizou, não obstante a inflação, não obstante a perda de termos de troca que o país sofreu" e que "o consumo das famílias aumentou à volta de 6%, coisa que não acontecia desde 1991".
Sublinhando que "obviamente não exclui que haja famílias em situação de dificuldade", em termos do país Vítor Bento considera que a realidade é outra e até rebate críticas de alguns partidos de "insensibilidade social".
"Eu não disse que os portugueses não passavam por dificuldades, obviamente que os portugueses passam dificuldades, mas temos de ter a noção das proporções do que é que é grave, do que é que é menos grave e do que é que não é grave", nota o presidente da APB.
"Se o consumo das famílias aumentou 6%, não foram os ricos que aumentaram 6% do consumo das famílias. Teve de haver uma distribuição muito geral por todas as famílias desse aumento do consumo, porque não são os ricos, [eles] almoçam e jantam uma vez por dia, mesmo nas autoestradas, mesmo que tenham muitos carros, só andam num carro de cada vez", aponta para concluir que "um crescimento do consumo daquela dimensão tem de ter uma expressão quantitativa muito significativa e, portanto, significa que a extensão das dificuldades não é aquela que se pretende fazer crer".
Chamado ao parlamento pelo PSD para falar sobre a atuação do setor bancário na comercialização ou pedidos de renegociação de crédito à habitação e o "desajustamento" dos juros nos depósitos a prazo em face das condições de mercado, Vítor Bento confirma que houve cerca de 17 mil pedidos de renegociação de créditos nos vários bancos nacionais.
Neste ponto em particular, Vítor Bento defende que toda a informação de que dispõe é de que "os bancos apresentaram sempre a maior disponibilidade para colaborar com os seus clientes, facilitando-lhes a vida na medida do possível". No entanto, considerou também que "os bancos não podem fazer milagres" porque "os bancos estão sujeitos a uma série de regras do ponto de vista de regulação económica e supervisão bancária que têm de respeitar e que, obviamente, têm de gerar resultados para poder sobreviver".
Realçando várias vezes que a rentabilidade dos bancos deve ser motivo de satisfação da parte da sociedade, Vítor Bento tenta rebater também a questão tantas vezes mencionada na comunicação de lucros excessivos na banca.
"Não reconheço que haja lucros excessivos, quando muito, os lucros podem ser legítimos ou ilegítimos. Não vejo nenhuma situação de ilegitimidade dos lucros que possam ter sido criados, não vejo nenhum fundamento devidamente e racionalmente fundamentado de qualquer excesso que aí possa haver", afirma.
Relativamente às comissões por serviços bancários, o presidente da APB diz ficar admirado, no caso, pelo PSD não se preocupar "com as comissões que o Estado cobra pelos mesmos serviços que querem impedir que os bancos cobrem". "O Estado cobra muito mais em muitos casos e acho muito estranho que o senhor deputado não se comece por preocupar [por aí], sobretudo quando, no caso do Estado, nós já pagamos impostos para que o Estado forneça os serviços públicos que os cidadãos necessitam".