A fronteira entre Barrancos e Encinasola passou a abrir duas vezes por semana, após ter sido encerrada a 16 de março para evitar a propagação da Covid-19.
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Até ao final deste mês, os automobilistas podem usar o acesso entre Barrancos e Encinasola às segundas e quintas, mas com hora marcada. Das 6h00 às 8h00 e das 17h00 às 19h00. Mas para os barranquenhos que trabalham em Espanha sabe a pouco. Queriam ter acesso todos os dias da semana. É que estão a dez minutos do emprego, mas, com o desvio por Vila Verde de Ficalho, demoram quase duas horas a chegarem ao trabalho.
O som da corrente que fecha a fronteira entre Barrancos e Encinasola deixa um clima de desilusão no concelho Alentejano.
"As pessoas trabalham cinco dias por semana e a fronteira só abre dois dias. Que lógica tem isto? Alguém pensou mal as coisas", diz Domingos Mondragão, o presidente da junta, para quem o dia 16 de março mudou a vida a cerca de 20 habitantes do concelho alentejano.
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Desde que as fronteiras foram repostas, os trabalhadores transfronteiriços passaram a ficar a mais de 120 quilómetros dos empregos, com a agravante de terem de circular por estradas degradadas, através de Vila Verde de Ficalho (Serpa).
Que o diga Rui Moreira, acabado de chegar de mais um dia de trabalho. É mecânico numa oficina de Higuera la Real e desta vez aproveitou a fronteira aberta para evitar a extensa viagem a que está obrigado há mais de dois meses. Admite, por isso que os dois dias de fronteira aberta lhe sabem a pouco e que os horários também são apertados, deixando alguns barranquenhos sem possibilidades de trabalharem em Espanha.
"Eu negociei com a minha empresa um novo horário para apanhar a fronteira aberta, mas há pessoas que não conseguem. Entram às seis da manhã, quando a fronteira ainda está a abrir, e saem às duas da tarde, quando a fronteira só volta a abrir às cinco. Não compensa", resume.
Em sentido inverso, também se ouvem queixas. Carlos é um espanhol a trabalhar em Portugal e ainda chegou a tempo de aproveitar o acesso entre Barrancos e Encinasola aberto, mas foi por apenas três escassos minutos. "Trabalhamos um dia inteiro e depois temos que vir a correr para conseguir passar", lamenta.
No posto de fronteira estão agentes da GNR e do SEF, que se deslocaram a partir de Lisboa, enquanto as entradas em Espanha são fiscalizadas por elementos da Guardia Civil que se deslocaram de Huelva.
O tráfego é escasso, mas tem sido utilizado por trabalhadores transfronteiriços, à média de 10 a 12 carros por turno, segundo revelou uma agente do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.
Ainda assim, no bairro mais próximo da raia, há quem prefira que o trânsito continue calmo. Júlia refere que, enquanto a pandemia não passar, mais vale assim. "Nós compramos tudo lá e se isto volta ao que era pode haver problemas de contágios. Precisamos de Espanha, mas não queremos arriscar", justifica.
Tanto Barrancos como Encinasola não registaram qualquer caso de Covid-19 até à data.