Bastonário dos Médicos pede "estratégia" para começar a tratar doentes para lá da Covid-19
Miguel Guimarães lembra que, em termos de números, a morbilidade "é mais importante" do que a mortalidade.
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A Ordem dos Médicos considera que as medidas anunciadas pelo Ministério da Saúde para tentar travar os efeitos negativos da Covid-19 no tratamento de outras doenças valem de pouco.
"Anunciado objetivamente ainda não foi nada", nota, em declarações à TSF Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos. "Os planos que estão a existir, e que eu conheço, são dos hospitais"
Isto depois de a ministra da Saúde ter dito que alguns hospitais vão retomar as consultas programadas já na semana que se inicia em 4 de maio, enquanto outros só vão retomar as consultas "mais para adiante".
Marta Temido salientou que a atividade do SNS não relacionada com a pandemia "tem de ser retomada de forma faseada, com recurso à tele-saúde e à prescrição eletrónica", e que os profissionais de saúde devem trabalhar sempre protegidos.
Para Miguel Guimarães, é preciso "uma estratégia" para começar a tratar os doentes com outras patologias que não a Covid-19, começando pelos prioritários.
Também é necessário "um plano para os doentes menos urgentes" e uma campanha de de comunicação que tranquilize os utentes, para que não tenham medo de ir ao médico, ir ao hospital ir ao serviço de urgência, a uma consulta ou exame".
O bastonário dos médicos sublinha que os impactos de centrar da atividades dos serviços de saúde na Covid-19 vão muito além da mortalidade.
Não há estudos diz, sobre "a pessoa que pode ficar cega porque não teve o acompanhamento ou não conseguiu, ou teve medo de ir à consulta de oftalmologia", por exemplo. "As situações são imensas - a morbilidade é muito mais importante, em termos de número, do que a própria mortalidade", alerta Miguel Guimarães.
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Até ao final de março, registou-se um decréscimo de 320 mil consultas médicas nas unidades de cuidados de saúde primários, de 180 mil consultas médicas hospitalares e nove mil cirurgias programadas.
Em consequência, de acordo com um estudo da Ordem dos Médicos, que analisou o período entre os dias 1 de março e 22 de abril, o número de mortes registado em Portugal pode chegar a um valor que representa quase cinco vezes mais do que os atribuídos à Covid-19, que esta segunda-feira se fixavam em 928.
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