Mário Centeno afasta quaisquer divergências com António Costa e lembra que o tempo de pedir dinheiro acabou. Este é um orçamento de "prudência" e "responsabilidade".
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Mário Centeno garante que não há batalhas internas no seio do Governo. Isso "é um mito", defende, e pode ser contrariado pelos pelos indicadores positivos da economia.
Não só "não há nenhuma dificuldade na gestão política do Governo neste momento", como as negociações decorrem como habitual, assegura: não há nenhuma matéria que não seja discutida "antes, durante e depois com o primeiro-ministro".
"Não existe tal coisa", reiterou o ministro das Finanças, acusando a jornalista que levantou a questão de fazer análises políticas com base declarações de fontes não identificadas. "Nunca antes um orçamento foi apresentado tão depressa. Acha que com batalhas internas isso era possível?"
Questionado em conferência de imprensa sobre se a negociação do Orçamento do Estado para 2020 foi mais difícil, Mário Centeno sorriu: "É preciso saber se há algum que seja fácil de fazer."
Uma coisa é certa, diz, "este grau de credibilidade parece que se torna fácil, mas não é". Foi preciso fazer escolhas e definir prioridades, com restrições orçamentais, algo que durante muito tempo os governantes do país pareceram esquecer, atira. "Estávamos sempre disponíveis para pedir dinheiro aos mesmos, mas esse mundo, e esse tempo, acabou."
Para descrever todas as medidas previstas no Orçamento, duas palavras: "prudência" e "responsabilidade": diz Mário Centeno que as regras ditam "que não coloquemos à frente aquilo que são os desenvolvimentos do país". É caso para recordar 2009 - ano em que o governo de José Sócrates decidiu aumentar os funcionários públicos 2,9%, valor previsto para a taxa de inflação - como "um bom exemplo de como perante a expectativa do aumento dos preços se tomaram um conjunto de decisões que não se confirmaram."
O ministro das Finanças garante, por isso, que não abdica "da responsabilidade um único minuto" e lembra que tanto os escalões de IRS como todos os impostos são atualizados em função da inflação.
Para os partidos que queiram fazer alterações ao Orçamento, em particular aos propõem uma redução do IVA da eletricidade, fica um recado: têm de explicar como financiam as suas propostas e que outras medidas têm de cair.
"Isto não quer dizer que as propostas sejam limitadas na imaginação", ressalva. "Todos aqueles que falam em propostas que alterem o equilíbrio orçamental têm de explicar a todos os portugueses o que farão com as outras prioridades ou a falta delas que queiram plasmar no documento."
Segundo Centeno, o custo de uma redução generalizada do IVA da eletricidade pode ir de 450 milhões de euros, caso passe para a taxa intermédia, até um valor entre 800 e 1.000 milhões de euros, caso se reduza o IVA da eletricidade para a taxa mais baixa. "A partir daqui é só fazer as contas."
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Para o ministro das Finanças, este é um "orçamento histórico: não pelos prazos, mas pelos resultados", o primeiro em democracia com previsão de excedente orçamental, apenas possível graças a uma "trajetória de confiança e responsabilidade".
Mário Centeno destaca a posição "credível" de Portugal no panorama económico, até porque, se assim não fosse, "não conseguiria reduzir o enorme peso que ainda tem com a dívida pública" e cumprir o objetivo de chegar ao final da legislatura com uma dívida pública abaixo dos 100% do PIB.
"Atingimos um patamar absolutamente histórico no saldo estrutural e atingimos o objetivo de médio prazo. Pelo quarto ano, não há surpresas. É isto que eu chamo credibilidade", reforçou.
O governante destacou ainda a "percentagem de PIB em exportações e crescimento absolutamente recorde" e o bom desempenho de Portugal quando comparado com economias da sua dimensão, face à desaceleração da economia global.
A economia portuguesa "cresce hoje mais do que a zona euro porque investe mais do que a zona euro, exporta mais do que zona euro e tem o seu crescimento menos sustentado em consumo público", defendeu.