BE critica opção "lamentável" de Costa, mas vai a jogo na revisão constitucional
Mariana Mortágua deu a conhecer as linhas gerais do projeto do Bloco de Esquerda para revisão constitucional, mas não sem atacar o Partido Socialista e o primeiro-ministro de "polarização com o Chega" e de fugir do debate da crise social e do "mar de escândalos".
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O Bloco de Esquerda esteve à espera até à última que o PS recuasse e não alinhasse no processo de revisão da Constituição aberto pelo Chega, mas, como tal não aconteceu, não vai faltar à chamada com propostas que vão desde o voto aos 16 anos de idade ou a criação do Serviço Nacional de Cuidados. No entanto, não o faz sem duras críticas aos socialistas.
"Bem sei que este é e devia ser o momento para discutir o Orçamento do Estado, mas temos consciência de que não é no OE que se concentra a atenção mediática e pública. E isto porque o PM decidiu legitimar e valorizar uma iniciativa do partido Chega para um processo de revisão constitucional", começa por dizer a deputada Mariana Mortágua em conferência de imprensa.
Para o partido, "é lamentável que o primeiro-ministro tenha escolhido este caminho", notando que a opção poderia ter sido a de rejeitar participar neste processo, "como rejeitou no passado", e que poderia "ter protegido o debate de revisão constitucional das ideias violentas que são as propostas do Chega, ideias de ataque aos direitos humanos e ataque aos princípios da própria Constituição".
"O primeiro-ministro escolhe fazer do processo de revisão constitucional uma polarização com o Chega e com André Ventura, mesmo que com essa polarização esteja, de facto, a promover a extrema-direita em Portugal e achamos lamentável que essa tenha sido a escolha", destaca Mortágua sublinhando que António Costa e o governo estão também a utilizar este processo para "fugir ao debate sobre a crise social" e do "mar de escândalos em que se tem vindo a envolver". E tendo o PS aceitado o debate nestes termos, o Bloco garante que vai chegar-se à frente para "consagrar novas e atualizadas reivindicações de proteção social, de igualdade e de respeito pelo ambiente".
Entre as prioridades bloquistas, no campo dos direitos sociais, o partido quer "introduzir o respeito pelo género, densificar o combate à xenofobia e o respeito pelas pessoas com deficiência". Além disso, pretendem criar, à semelhança do Serviço Nacional de Saúde, um Serviço Nacional de Cuidados "que possa consagrar o direito ao cuidado das pessoas com doença, dos mais velhos e que hoje é feito de forma informal, tantas vezes por mulheres e tantas vezes sem quaisquer proteção e direitos".
"Queremos também reforçar a salvaguarda do acesso à saúde e do acesso à habitação que são dois pontos de crise e que são nevrálgicos do sistema de proteção social em Portugal e no Mundo", nota a deputada para quem é importante ainda "introduzir de forma transversal na Constituição a defesa do ambiente, da natureza e dos seus recursos e de como pode e deve ser protegida".
Mariana Mortágua termina a apresentação destas linhas gerais com "reivindicações antigas e novas", desde logo a do voto aos 16 anos de idade e do alargamento dos direitos de voto aos imigrantes, mas também um novo direito de "participação dos trabalhadores nos lucros das empresas".