Associação Portuguesa Contra a Leucemia tenta esclarecer doentes sobre o processo de aprovação e comparticipação de medicamentos inovadores.
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Cada vez mais e cada vez mais caros. A Associação Portuguesa Contra a Leucemia (APCL) avisa que aos preços que são conhecidos nenhum serviço nacional de saúde do mundo conseguirá pagar os tratamentos inovadores que estão em desenvolvimento para este e outro tipo de cancros.
Manuel Abecasis, que além de presidente da associação foi pioneiro, há mais de três décadas, nos transplantes de medula óssea em Portugal, explica que já não estamos a falar das imunoterapias produzidas por fármacos (comprimidos ou injeções) como medicamentos clássicos, mas da imunoterapia associada às terapias celulares relacionadas com os linfócitos T do próprio doente que são educados em laboratório para combater as suas células leucémicas.
Se o primeiro tipo de tratamento já está bem divulgado e custa cerca de 10 mil euros por mês por doente, no segundo, ainda mais inovador, com células do sistema imunitário, estamos a dar os primeiros passos em Portugal tal como nos restantes países da Europa. O problema será o preço.
Preços perfeitamente assustadores
"Os preços que têm sido falados genericamente rondam verbas perfeitamente assustadoras - entre 300 a 500 mil euros por uma injeção -, o que tem levantado uma enorme preocupação das agências europeias reguladoras de medicamentos, pois não há nenhum serviço nacional de saúde que consiga suportar estas despesas", explica o médico e diretor do Diretor Departamento Hematologia do IPO de Lisboa.
O especialista sublinha que tem falado com colegas sobre o assunto na Alemanha, Espanha e até nos Estados Unidos da América, que funciona muito com base em seguros, estão preocupados. "Até as companhias de seguros estão a encarar com muita cautela, pois sabem que, se isto for largamente aplicado, não e suportável", detalha.
Orçamentos da saúde levados à ruína?
"Estamos num ponto de viragem na oncologia hemato-oncológica (leucemias e linfomas), mas também vai chegar aos outros tipos de tumores em que será preciso encontrar um entendimento para tratar estes doentes sem levar à ruína o orçamento para a saúde de um país". Manuel Abecasis acredita que as coisas ainda estão numa fase "incipiente" e que é preciso chegar a um entendimento com a indústria farmacêutica para que estes tratamentos cheguem aos doentes com linfomas e leucemias que deles precisem: "Nunca serão muitos doentes, mas esse número poderá subir muito quando se chegar a tumores muito mais frequentes como no pulmão ou no estômago".
Associação tenta informar doentes
Depois de receber vários pedidos de informação, para tranquilizar os doentes e famílias que com frequência ouvem ou leem sobre terapêuticas inovadoras, a Associação Portuguesa Contra a Leucemia promoveu, no início desta semana, uma sessão de esclarecimento e debate para os doentes hemato-oncológicos, sobreviventes, familiares, cuidadores e profissionais de saúde.
"Muitas vezes, as informações que saem nos jornais são muito preliminares e não correspondem à realidade verdadeira do interesse de um determinado medicamento", argumenta o médico.
Ouvir falar num tratamento que pode salvar uma vida mas não ter acesso a ele pode ser angustiante, admite Manuel Abecasis, pelo que a ideia é sobretudo explicar às pessoas o processo de acesso e aprovação oficial dos medicamentos inovadores.
O médico sublinha que, por muito que se queira acelerar a aprovação destes medicamentos e do seu reembolso, "é uma tarefa difícil e que tem de ser ponderada, pois é preciso avaliar com rigor os benefícios que efetivamente trazem" para usar da melhor forma possível o dinheiro disponível para a saúde.
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