Caravanistas obrigados a sair de parques de campismo mudam-se para zonas ilegais
Os mais de 200 parques de campismo a funcionar em Portugal continental, que acolhiam cerca de 10 mil utentes, vão encerrar como medida de combate à propagação da Covid-19. Muitos turistas não têm para onde ir.
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A partir desta sexta-feira, por despacho da secretária de Estado do Turismo, os autocaravanistas e outros turistas têm de abandonar os parques de campismo porque os espaços vão ser encerrados, como medida de prevenção de propagação da Covid-19.
A presidente do grupo de setor de Campismo e Caravanismo, Hotelaria de Ar Livre e Caravanismo da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) e administradora da Orbitur, explica que os turistas, confrontados com a exigência da tutela para abandonarem os parques, encontraram outras formas para viverem estes dias.
"Começaram a sair dos parques mas não pondo pés a caminho e dirigindo-se aos seus países de origem. Muitos dos que saíram estão em parques ilegais, estão em terrenos vedados onde se concentram e os riscos para a saúde pública estão aí", garante.
Em declarações à TSF, Beatriz Santos refere que "alguns recusam-se a sair" e muitos estão ansiosos e aturdidos com a resolução da tutela.
A administradora da Orbitur não entende a decisão já que "os parques têm hectares de terreno onde as pessoas estavam perfeitamente distanciadas umas das outras, sem haver riscos de se cruzarem".
Neste momento, os mais de 200 parques de campismo a funcionar em Portugal continental acolhiam cerca de 10 mil utentes que ficaram sem ter para onde ir.
"Há pessoas que não têm outra casa, não têm uma casa à qual regressar. Aquela é a sua casa, é o seu estilo de vida. São pessoas que circulam pelos diferentes parques de campismo, pelos vários países", refere.
A Orbitur pediu esclarecimentos junto da Secretaria de Estado do Turismo que confirmou as medidas anunciadas no despacho.
Uma delas prevê que os utentes dos parques de campismo "que, no momento da declaração de estado de emergência (...) residam a título permanente nestes estabelecimentos turísticos, possam neles permanecer para assegurar a resposta à necessidade habitacional".
Beatriz Santos explica que o caso dos utentes dos parques espalhados pelo país não se adequa a esta exceção, já que os turistas não permanecem sempre no mesmo parque.
A Orbitur lamenta a decisão de encerramento dos parques de campismo, pondo em causa a viabilidade económica "do único setor na área do turismo que estava, de facto, a funcionar".
Beatriz Santos acrescenta que estes utentes "são turistas que nós acarinhamos porque contribuem para reduzir a sazonalidade do turismo em Portugal e, neste momento, estamos a correr com eles".
Questionada pela TSF, a secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, explica que a tutela está a organizar o repatriamento destes turistas aos países de origem por via aérea.
"Aquilo que está a ser feito, em articulação com [o ministério] da Administração Interna e com o posto de comando distrital de Faro, é identificar alguns espaços, nomeadamente nas imediações do aeroporto internacional de Faro, para que estes autocaravanistas possam aparcar as suas viaturas, dando-lhes as melhores condições para depois seguirem viagem até aos seus países de destino", refere.
Rita Marques explica que tentaram incluir algumas exceções no despacho que regulamenta a situação dos utentes dos parques de campismo, como é o caso dos residentes em parques de campismo mas, para cumprir o estado de emergência,
não foi possível abrir ressalvas para os utentes estrangeiros.
"Se têm ou não casa no seu país, enfim, é uma situação que a cada um diz respeito. Agora, tratando-se de cidadãos que estão cá em parques de campismo e com esta determinação do encerramento, temos que arranjar as melhores formas para garantir que essas pessoas possam sair com tranquilidade", explica.
A secretária de Estado do Turismo acrescenta que vão aumentar as medidas de fiscalização, "de modo a evitar que os autocaravanistas possam aparcar em locais indevidos, nomeadamente junto de enseadas, junto de praias, etc".
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