Centro de Onco-Oftalmologia de Coimbra tratou mais de 80 crianças em dez anos
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Criado há dez anos, o Centro de Referência em Onco-Oftalmologia da Unidade Local de Saúde de Coimbra, o único no país, tratou mais de 300 adultos e 80 crianças. O coordenador do centro defende que quanto mais cedo o tumor for diagnosticado, mais fácil é tratá-lo.
Clément Canton teve um tumor ocular maligno em criança. Foi um gene herdado da mãe que acabou por passar também ao seu filho. “Fizemos um estudo genético. Ele tinha três semanas e já sabíamos que tínhamos que tratar”, afirma.
A viver, na altura, em Toulouse, em França, e com deslocações mensais a Paris, a cinco horas de comboio, a família mudou-se para Portugal, onde vive há quatro anos. “No início, era um protocolo pesado para nós, mas entrou nos hábitos da família. E já sabemos que agora estamos aqui todos os meses”, sublinha.
Clément Canton admite que chegaram a Coimbra “com muito receio”. “Vínhamos do Institut Curie, que tem prestígio. Foi uma mudança radical, mas foi uma surpresa muito agradável.”
Novamente pai, Clément tem os dois filhos a serem seguidos no centro de Coimbra, o único no país dedicado ao tratamento de oncologia ocular.
Segundo o coordenador do centro, Guilherme Castela, hoje em dia, “devido à melhoria dos cuidados de saúde, aumentou o número de tumores hereditários”. O médico adianta que, neste momento, 50% são esporádicos e os outros 50% são hereditários. “Os hereditários, normalmente, são bilaterais, mas também podem ser unilaterais”, detalha.
Em idade pediátrica, o retinoblastoma é o tumor mais comum, com cerca de seis casos por ano em Portugal. Nos adultos é o melanoma ocular, com 40 casos por ano.
Em nenhuma das situações, há lista de espera para tratamento no centro de Coimbra.
O retinoblastoma mata. É um tumor que rapidamente mata. Nós observamos a criança e fazemos o plano terapêutico e em uma semana estamos a tratar as crianças. Não pode haver espera
Nos adultos, explica o coordenador, “também mata” e é um tumor de “crescimento mais lento”.
Em termos de terapêutica, a mais preconizada é a quimioterapia na artéria oftálmica. “Tem uma grande vantagem que é conseguirmos uma maior concentração de quimioterapia no olho, que é onde está o tumor, e isso é muito bom. Por outro lado, reduz todos aqueles efeitos secundários da quimioterapia que nós estamos habituados”, afirma, apontando a perda de cabelo ou infeções. “Tudo isso reduz a zero ou quase zero”, acrescenta.
Guilherme Castela reconhece que o diagnóstico precoce é importante e sublinha as campanhas que têm sido feitas nesse sentido. “Quanto mais cedo for diagnosticado, mais pequenos são os tumores, mais fáceis de tratar, de preservar o olho e até preservar visão”, observa.
