André Ventura avisa Marcelo Rebelo de Sousa de que nomear qualquer outro ministro para liderar o Governo seria "uma traição às suas próprias palavras".
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O líder do Chega, André Ventura, pediu esta terça-feira ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que convoque o mais rápido possível as "necessárias eleições antecipadas" e avisou o chefe de Estado que nenhum outro ministro está em condições de assumir a liderança do Governo, classificando qualquer indicação de Belém nesse sentido como uma "traição" de Marcelo às suas próprias palavras.
O deputado referia-se às palavras de Marcelo Rebelo de Sousa aquando da tomada de posse do primeiro-ministro que está agora de saída, de que "esta não era uma maioria absoluta do Partido Socialista, era uma maioria absoluta de António Costa e que a saída de António Costa provocaria necessariamente a devolução ao país da palavra e aos eleitores da decisão."
Confiando que o chefe de Estado vá convocar eleições, Ventura defende que neste momento "não é possível substituir um primeiro-ministro por outro qualquer ministro deste Governo", seja Fernando Medina, José Luís Carneiro ou Ana Catarina Mendes.
"A solução de nomear a título definitivo um outro ministro, que só vejo que pudesse ser Fernando Medina ou José Luís Carneiro, como primeiro-ministro era uma fraude, um engano aos portugueses e uma grande traição, mas não era aos partidos, era às suas palavras há dois anos", apontou Ventura.
Na reação à demissão de António Costa, o líder do Chega, André Ventura saudou a tomada de decisão do primeiro-ministro demissionário, que seguiu "a única saída que existia" e desafiou então o Presidente da República a "iniciar procedimentos" para realizar as "necessárias eleições antecipadas".
"Os portugueses devem ser chamados novamente às urnas para decidir se querem manter este Governo ou renová-lo", e o Chega diz-se pronto para ser "uma alternativa para acabar com esta governação socialista e sobretudo para acabar com o lastro de corrupção" no país.
Ventura deixou o assunto nas mãos de Marcelo Rebelo de Sousa, pedindo-lhe que o resolva "o mais depressa possível" e marcando eleições: "Qualquer outra solução atrasará irremediavelmente o processo político do país."
"Estamos prontos para governar", garantiu, "e Portugal não ficará sem alternativa política".
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O que tinha dito Marcelo?
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, tinha avisado que nesta legislatura, com maioria absoluta do PS, a eventual saída de António Costa do cargo de primeiro-ministro, que agora se verifica, levaria à dissolução do parlamento.
Em 30 de março de 2022, no discurso que fez na cerimónia de posse ao XXIII Governo Constitucional, o terceiro chefiado por António Costa, o chefe de Estado deixou um aviso público ao primeiro-ministro de que não seria "politicamente fácil" a sua substituição a meio da legislatura.
"Deram a maioria absoluta a um partido, mas também a um homem, vossa excelência, senhor primeiro-ministro, um homem que, aliás, fez questão de personalizar o voto, ao falar de duas pessoas para a chefia do Governo", disse Marcelo Rebelo de Sousa.
"Agora que ganhou, e ganhou por quatro anos e meio, tenho a certeza de que vossa excelência sabe que não será politicamente fácil que esse rosto, essa cara que venceu de forma incontestável e notável as eleições possa ser substituída por outra a meio do caminho", acrescentou, dando a entender que nesse caso convocaria legislativas antecipadas.
Em 24 de janeiro deste ano, quando passaram sete anos desde a sua eleição como Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa reiterou esse aviso, em termos ainda mais definitivos: "Se mudar o primeiro-ministro, há dissolução do parlamento".
Esta terça-feira, o primeiro-ministro apresentou a demissão ao Presidente da República, que a aceitou, depois de o Ministério Público ter anunciado que é alvo de inquérito autónomo no Supremo Tribunal de Justiça sobre projetos de lítio e hidrogénio.