Cirurgias a mais? Bastonário dos médicos defende que ministro disse "uma coisa e o seu contrário"
Miguel Guimarães explica que o número de cirurgias disparou porque, durante o combate à Covid-19, "ficou muita coisa para trás".
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O bastonário da Ordem dos Médicos defende que o ministro da Saúde disse esta tarde "uma coisa e o seu contrário" ao admitir que podem estar a ser feitas cirurgias a mais nos hospitais portugueses.
Esta tarde, o ministro Pizarro assinalou que, eventualmente, alguns doentes poderiam ser tratados através de um "método conservador", mas ressalvou não ter dúvidas de que as indicações cirúrgicas seguem todas as normas.
"Não há ninguém operado que não o seja por um médico lhe colocar a indicação cirúrgica e acredito que, em todos os casos, é feito com base nas legis artis", ou seja, nas boas normas de práticas cirúrgicas, explicou também.
São estas declarações que levam o bastonário Miguel Guimarães a perguntar na TSF: "Em que é que ficamos? Há aqui duas coisas que são opostas."
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Pizarro "põe dúvidas sobre se as cirurgias que estão a ser feitas têm todas indicação cirúrgica - ou seja, se os doentes não podiam ser tratados de forma não cirúrgica -, mas a seguir diz que tem a certeza, que acredita ou que acha, que todos os doentes que foram operados tinha indicação formal para fazer cirurgia", assinala o líder da OM, que vê nestas declarações duas ideias em confronto.
As declarações do ministro surgem depois de, no ano passado, os hospitais portugueses terem acolhido 758 mil cirurgias, um número recorde depois de já ter sido também atingido um em 2021. E Miguel Guimarães avança com uma explicação.
A subida no número de intervenções acontece "porque ficaram muitos doentes para trás", em especial na época em que o país centrou atenções na luta contra a Covid-19, em que "ficou muita coisa para trás".
"Nós deixamos de fazer milhares e milhares de cirurgias e milhares e milhares de diagnósticos, para não chegar a milhões, deixámos os rastreios todos para trás e por aí adiante", assinala o bastonário.
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Para o bastonário, não há dúvidas de que o número de cirurgias aumentou "não porque se esteja a operar mais do que o que se deve, mas porque tivemos muitos doentes que ficaram para trás e que foram entretanto diagnosticados".
Miguel Guimarães dá o exemplo dos tempos de espera, que eram "muito superiores aos chamados tempos máximos de resposta garantida", o que levava a que não fossem operados "muitos doentes que se podia operar".
Assim, se o desempenho melhorou "e alguns hospitais do SNS estão a fazer um grande esforço, nomeadamente a operar ao sábado e até ao domingo" para tentar recuperar, "é natural que se façam mais cirurgias".
"E não me admira que, ainda durante mais um ano ou dois, possa fazer-se mais cirurgias", lança desde já.