Cirurgias programadas descem em 78%. "Está em causa a saúde dos doentes não-Covid"

"Muitos hospitais começaram a captar algumas das salas de bloco para o acesso a ventiladores"
Estela Silva/Lusa
O bastonário da Ordem dos Médicos mostra-se preocupado com a desmarcação de intervenções cirúrgicas de doentes programados, alguns dos quais prioritários, e acredita ser necessária a aplicação de um programa excecional.
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As consultas e as cirurgias estão a ser afetadas, tal como as urgências, de acordo com o relatório da Entidade Reguladora da Saúde divulgado na segunda-feira à noite. As cirurgias programadas diminuíram em 78% em abril em comparação com 2019.
No setor privado, por exemplo, em comparação com a média mensal da atividade cirúrgica de 2019 com o de 2020, uma redução de perto de 40%.
Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos, olha com preocupação para estes números, que, diz, prejudicam quem não é doente Covid. "Está em causa a saúde dos doentes não-Covid. Muitos doentes que precisam de uma cirurgia são doentes que precisam de cuidados intensivos."
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O bastonário explica à TSF que, "a determinada altura, e até por indicação do Ministério da Saúde, muitos dos hospitais começaram a captar algumas das salas de bloco, não pelas salas de bloco em si, mas para o acesso a ventiladores destinado a doentes com Covid-19 que deles necessitavam". Essa estratégia levou, no entanto, à "desmarcação de muitos doentes programados, entre os quais há doentes prioritários e não-prioritários", pelo que Miguel Guimarães exorta o sistema de saúde a "fazer uma recuperação muito rápida dessa situação".
No entanto, o representante da Ordem dos Médicos reconhece que a recuperação só vai acontecer com um programa excecional, "um programa de recuperação próprio, a executar dentro do Serviço Nacional de Saúde, contratando mais pessoas para ajudarem, nomeadamente as várias áreas de especialidade, fazendo isto fora do horário de trabalho - incluindo fins de semana -, como é evidente".
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"Eventualmente, se o SNS não tiver capacidade de resposta para rapidamente recuperar dessa situação, o Ministério da Saúde tem de equacionar a possibilidade de recorrer ao setor privado e social, como já faz através dos vales de cirurgia, quando os doentes ultrapassam o tempo máximo de resposta garantido", considerou o bastonário. "A saúde está sempre a gerar doentes, está sempre a gerar diagnósticos e cirurgias. Isto é diário, não pára."
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