CNA defende que Alqueva seja "pivô no abastecimento" de barragens do Algarve e Alentejo
Joaquim Manuel Lopes diz à TSF que a seca "vai ser um berbicacho de todo o tamanho".
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A Confederação Nacional dos Agricultores (CNA) afirma que a seca em Portugal é um problema muito grave e que não se resolve com as medidas anunciadas esta segunda-feira pela ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes. Para a CNA, é preciso levar água do Alqueva para outras barragens das zonas mais afetadas do Algarve e do Alentejo.
"Depois de uma pandemia, vem mais uma guerra, vem agora uma seca. Isto vai ser um berbicacho de todo o tamanho. Portanto, é preciso tomar outras medidas, nomeadamente, no caso do Baixo Alentejo e do Algarve, a recarga de barragens como a do Monte da Rocha e Campilhas. Não nos podemos dar ao luxo de ter milhares de hectares por explorar por falta de água e porque ficará eventualmente caro trazer água do Alqueva para estas barragens. É urgente que isso aconteça, que o Alqueva possa ser pivô no abastecimento de algumas destas barragens", defendeu Joaquim Manuel Lopes à TSF.
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O membro da direção da CNA revela que as dificuldades para alimentar os animais já são evidentes e, para resolver isso, são precisos apoios a fundo perdido.
"Algumas barragens estão abastecidas de água com a força do inverno, mas o volume de água no solo desapareceu rapidamente com estas temperaturas e, neste momento, as culturas do outono e do inverno foram todas e as que não foram, os animais já as consumiram ou vão preparar-se para as consumir com as medidas anunciadas hoje pelo Ministério. E as próprias pastagens naturais estão claramente no fim. Portanto, isto cria um problema gravíssimo de alimentação animal (...) Isto impunha medidas de outro tipo, não só estas que a ministra anuncia, mas medidas que coloquem dinheiro a fundo perdido nestes agricultores e nesta gente toda que está em dificuldades", considera.
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Além disso, afirma que os apoios são sempre tardios: "Chega sempre tarde. Não tenho nenhuma dúvida sobre isso. Eu estive em 2004 e 2005 no abastecimento da palha aqui no Alentejo. Foram anos de seca muito complicados, tivemos de trazer palha de França. O Ministério, na altura, fez exatamente o mesmo. Atribuiu por aí uns dinheiros, dizendo: 'Comprem.' Quase ao estilo: 'Leva 25 tostões e levem-nos à porta do restaurante e alimentem-nos.'"
"Isto não é possível assim. Tem de ser com medidas muito objetivas e concretas e têm de ser medidas viradas para o abastecimento concreto. Senão, vamos ter problemas outra vez, se isto se mantiver. Quando chegarmos ao pico do verão, isto vai ser muito complicado", vaticina.
Sobre os grandes consumos de água, Joaquim Manuel Lopes conta uma história: "Um dia perguntaram-me se, se fosse ministro da Agricultura, mandava arrancar os olivais. Não, seria uma estupidez da minha parte. Nem pensar. Não tenho nenhuma dúvida de que isto tem de ser controlado e evitado. Há medidas para evitar isso."
A ministra da Agricultura e Alimentação, Maria do Céu Antunes, informou esta segunda-feira ter assinado o despacho que reconhece a situação de seca em 40% do território nacional - 67 concelhos.
"Isso permite-nos, junto da Comissão Europeia, dizer que estamos em situação de seca", informou Maria do Céu Antunes, no Fundão, onde assistiu ao leilão das primeiras Cerejas do Fundão 2023 e à apresentação da campanha de promoção do fruto.
Segundo a ministra da tutela, os dados técnicos permitiram assinar o despacho de declaração do estado de seca, o que torna possível "acionar um conjunto de medidas no âmbito dos apoios aos agricultores".