Dessalinização ou transvase de água? Especialistas explicam soluções para combater seca

Portugal vive atualmente uma situação de seca grave
Miguel Pereira/Global Imagens
O professor universitário Joaquim Poças Martins defende que a dessalinização tem de ser colocada em prática. Já o ex-bastonário da Ordem dos Engenheiros defende o o transvase da água.
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A seca está já espalhada por grande parte do território continental português e cada vez mais se fala em soluções para minimizar o impacto da falta de água. A construção de centrais de dessalinização é uma das soluções para mitigar o problema com a escassez de água.
Em novembro, o Governo anunciou a construção de uma infraestrutura deste género, no Algarve, que deverá estar pronta em 2026. O professor universitário Joaquim Poças Martins defende que esta solução tem de ser colocada em prática e sublinha que o custo da água vinda de uma central de dessalinização já é equivalente ao custo da água corrente.
"A dessalinização tem custos significativos e só aparece quando outras soluções mais baratas não são exequíveis ou não há mesmo. Por exemplo, quando não chove não há solução. As barragens que existem não têm capacidade suficiente, esgotam-se e também deixam de ser uma solução. A dessalinização é uma origem de água infinita e totalmente garantida. Há uns anos os custos eram muito mais elevados. Com o tempo, os custos têm vindo a baixar. Em Israel e em Singapura conseguem dessalinizar a um preço de cerca de 50 cêntimos por metro cúbico. É um valor, por exemplo, corrente em Portugal, pelo qual as empresas do grupo Águas de Portugal vendem aos municípios. Uma família gasta cerca dez metros cúbicos por mês. O impacto de passar a ter água dessalinizada para uma família média seria mais cinco euros por mês", explicou à TSF Joaquim Poças Martins.
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O ex-secretário de Estado do Ambiente adianta, ainda assim, que a dessalinização é um processo caro e que apenas é rentável nesta altura, para consumo doméstico.
"A dessalinização tem uma capacidade infinita, mas só tem justificação económica para o abastecimento público e para o turismo. Para agricultura também dá, por exemplo, para as framboesas, mirtilo, coisas de alto valor acrescentado e está a ser pensada uma também para a zona do Mira, no Alentejo, tanto quanto sei. Temos água virtual. Neste momento a situação só não é pior porque nós importamos praticamente todo o trigo e uma grande parte do milho, cereais e óleo de girassol. Se não importássemos a água precisávamos de ter em Portugal mais cinco Alquevas", defendeu o professor universitário.
Outra das soluções para enfrentar a seca é o transvase da água, ou seja, a transferência de água entre bacias. Um dos defensores desta ideia é Carlos Mineiro Aires, antigo bastonário da Ordem dos Engenheiros.
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"É um caminho feito com soluções que visam passar a água. Pode ser através de condutas, mas a maior parte é por sistemas naturais. É passar a água de bacia para bacia para que a água chegue às bacias onde não há água. Esquecemo-nos que já há transvase em Portugal. Há um transvase da bacia do Douro para a bacia do Tejo e há um transvase grande da bacia do Guadiana para a bacia do Sado", esclareceu Carlos Mineiro Aires.
Quando defendeu esta ideia, Carlos Mineiro Aires foi alvo de várias críticas, nomeadamente por, segundo diziam, querer desviar água do Norte para regar o Sul. Para o engenheiro estas críticas não fazem qualquer sentido e lembra que são idênticas às que fazemos à gestão da água do lado espanhol.
"Está mais do que estudado. Isto é um transvase que vem desde a bacia do Douro e vai ter à bacia do Tejo, portanto é algo que está mais do que estudado, todos sabem. Foram duas coisas que provocaram reação: se houver a capacidade de armazenamento, nós temos, como como portugueses, obrigação de resolver em conjunto o problema, mas há um problema aqui. Com posicionamentos destes estamos a corroborar com o que os espanhóis fazem. Não pode ser", acrescentou o ex-bastonário da Ordem dos Engenheiros.
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Portugal vive atualmente uma situação de seca grave, sendo as regiões do Alentejo e do Algarve as que se encontram em situação mais crítica, estando o sotavento (leste) algarvio em seca severa.
O barlavento (oeste) também sofre com o agravamento da falta de chuva e escassez de água, região que acomoda a barragem da Bravura, que se encontra apenas com 13% da sua capacidade de armazenamento de água.