Os solos estão mais secos em Espanha e no sul de França. Em Portugal também já se sente a chegada antecipada da seca.
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O sul da Europa está a preparar-se para um verão de seca intensa, com algumas regiões já a sofrerem com falta de água e os agricultores a esperarem as piores colheitas das últimas décadas. À medida que as alterações climáticas tornaram a região mais quente e seca, os anos consecutivos de seca esgotaram também as reservas de água subterrânea.
Em Espanha e no sul de França, os solos tornaram-se mais secos e os baixos níveis de água dos rios e albufeiras estão a ameaçar a produção de energia hidroelétrica deste verão. Com a subida das temperaturas nesta época do ano, os cientistas avisam que a Europa está a caminho de mais um verão duro, depois de ter vivido o mais quente de que há registo no ano passado e que alimentou uma seca que vários investigadores da União Europeia disseram ser a pior dos últimos 500 anos.
Este ano, até agora, é Espanha o país que enfrenta a situação mais grave.
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"A situação de seca vai agravar-se este verão", alertou à Reuters Jorge Olcina, professor de análise geográfica na Universidade de Alicante, em Espanha.
Nesta fase também há poucas hipóteses de a precipitação resolver a seca.
"Nesta altura do ano, a única coisa que podemos ter são tempestades pontuais e locais que não vão resolver o défice de precipitação", afirmou Olcina.
Já o ministro espanhol da Agricultura, Luis Planas, alertou que "a situação resultante desta seca é de tal magnitude que as consequências não podem ser resolvidas apenas com fundos nacionais", de acordo com uma carta de 24 de abril enviada à Comissão Europeia.
Alterações climáticas agravam pior seca das últimas décadas
O sul da Europa não é, no entanto, a única região a sofrer com uma grave escassez de água. O Corno de África também está a enfrentar a pior seca das últimas décadas enquanto na Argentina uma seca histórica afetou as culturas de soja e milho.
A seca será mais frequente e grave na região mediterrânica - onde a temperatura média é atualmente 1,5ºC mais elevada do que há 150 anos -, de acordo com as previsões dos cientistas sobre o impacto das alterações climáticas na região.
"Em termos do sinal das alterações climáticas, isto encaixa-se perfeitamente naquilo que esperávamos", afirmou Hayley Fowler, professora de impactos das alterações climáticas na Universidade de Newcastle, no Reino Unido.
Apesar de as previsões não serem recentes, a preparação para as consequências das alterações climáticas está atrasada. Muitas regiões agrícolas ainda não adotaram métodos de poupança de água, como a irrigação de precisão, nem mudaram para culturas mais resistentes à água, como os girassóis.
"Os governos estão atrasados, as empresas estão atrasadas. Algumas nem sequer estão a pensar mudar o modelo de consumo, estão apenas a tentar encontrar algumas tecnologias milagrosas que tragam água", contou Robert Vautard, cientista climático e diretor do Instituto Pierre-Simon Laplace, em França.
E também Portugal está a sentir a chegada antecipada da seca, com cerca de 90% do território continental do país afetado e um quinto do território com seca grave, quase cinco vezes mais do que o registado há um ano.
A ministra da Agricultura e Alimentação, Maria do Céu Antunes, anunciou, a 8 de maio, ter assinado o despacho que reconhece a situação de seca severa e extrema em 40% do território nacional, no sul do país.
A 10 de maio, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) divulgou que a situação de seca meteorológica se agravou em Portugal continental no mês de abril, estando 89% deste território em seca, 34% da qual em seca severa e extrema.