Portugal desperdiça o equivalente a três meses de consumo água em meio urbano por ano
O especialista em hidráulica Nelson Carriço diz que existe investigação que permite aumentar a eficiência na utilização da água, mas aponta "razões políticas" para não ser aplicada no terreno.
Corpo do artigo
São desperdiçados em Portugal o equivalente a três meses de consumo de água por ano devido à ineficiência dos sistemas de água. A convicção é de Nelson Carriço, professor de hidráulica geral e hidráulica urbana na Escola Superior de Tecnologia do Barreiro, do instituto politécnico de Setúbal.
Em declarações à TSF, o especialista em hidráulica reconhece que há perdas que não se conseguem evitar, mas sublinha que esta deve ser uma aposta para evitarmos o desperdício de água.
Se fosse possível reduzir as perdas no setor urbano, seria possível "garantir o abastecimento à população por pelo menos três meses", aponta Nelson Carriço. E muito mais no caso do setor agrícola, onde o desperdício nem é contabilizado.
"Obviamente não se consegue eliminar totalmente as perdas, porque há sempre alguma percentagem de perdas que irá sempre existir, mas alguma coisa tem que ser feita num combate contra as ineficiências", defende. "Temos de ser mais eficientes utilizar a água."
Além disso, "não podemos combater a seca quando ela acontece, as medidas têm que ser tomadas antes", alerta o especialista.
Nelson Carriço dá o exemplo de Israel, onde todas as gotas de água são aproveitadas.
"Israel é um país que também é sujeito a bastante seca e que tem feito um trabalho notável no combate das ineficiências. Tem apostado em tecnologias mais avançadas, no desenvolvimento de aplicações informáticas, por exemplo para ajudar os agricultores a saber quando é que tem de que regar ou não têm que regar."
TSF\audio\2023\05\noticias\23\nelson_carrico_3_exemplos_la_fora
O especialista adianta que têm sido desenvolvidos vários trabalhos de investigação sobre esta questão também em Portugal. Ainda assim, Nelson Carriço lamenta que o poder político aproveite pouco aquilo que se faz nas universidades e politécnicos.
"Nós já sabemos como é que podemos poupar água, e ser mais eficientes, mas ainda há um longo percurso a seguir", aponta Nelson Carriço.
"O que acontece em Portugal tem mais a ver com razões políticas do que propriamente com a investigação, porque em Portugal faz-se investigação, mas depois aplicar a investigação - sair dos laboratórios das universidades para o terreno é mais difícil", considera.