Com "erros e cicatrizes", Pedro Nuno oficializa candidatura ao PS, elogia Costa e agradece a Assis
Recebido em clima de festa na sede do PS, o antigo ministro agradeceu até a "sindicalistas" e deixou um toque à direita que "não cumpre promessas", antecipando que não vai também cumprir a de não se coligar a partidos "populistas, racistas e xenófobos".
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O antigo secretário de Estado e ministro socialista Pedro Nuno Santos oficializou esta segunda-feira a candidatura à liderança do PS numa cerimónia em que surgiu acompanhado de Francisco Assis, numa tentativa de se aproximar ao centro, e avisou que os socialistas não vão passar os próximos quatro meses a discutir um processo judicial, afirmando que "mais importante do que ter consciência dos erros é saber o que fazer com eles".
"Os acontecimentos recentes", assinalou, "levaram António Costa a demitir-se das funções de primeiro-ministro e também de secretário-geral do PS. É neste quadro que, aberto um processo eleitoral interno para a eleição dos órgãos do Partido, eu apresento a minha candidatura", confirmou logo na fase inicial do seu discurso, arrancando aplausos e já após ter sido recebido em clima de festa pelos apoiantes.
Sem deixar de agradecer a Francisco Assis o apoio demonstrado pública e presencialmente, Pedro Nuno Santos reconheceu que este é um momento "particularmente difícil" para o partido e, entre saudações iniciais, deixou uma mais vincada aos "sindicalistas", arrancando gargalhadas e mais aplausos.
Num momento em que o partido ficou sem líder na sequência da investigação a António Costa pelo Supremo Tribunal de Justiça, o agora candidato afirmou "sem margem para quaisquer dúvidas que o combate à corrupção" deve ser uma tarefa prioritária do Estado, mas também que a presunção de inocência é essencial.
"Estas matérias são fundamentais e a justiça é central para o funcionamento de uma democracia de qualidade. Mas o PS não vai passar os próximos quatro meses a discutir um processo judicial", avisou.
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Chapéus deixou de haver muitos, mas Pedro Nuno também diz reinventar-se
Apresentando-se como alguém munido de "inconformismo, combatividade e vontade de fazer acontecer", Pedro Nuno Santos não deixou também de reconhecer "erros e cicatrizes" no seu percurso, deixando, no entanto, a crítica aos que se limitam a "manter o que existe", porque "esses não cometem erros".
"Cada um é o resultado da educação que recebeu, do meio em que cresceu e das experiências que teve. Eu sou natural de São João da Madeira", lançou então, começando a apresentar-se como alguém de uma "terra com a palavra labor" no escudo e da qual contou a história para se garantir capaz de "criar e de fazer, de cair e de reerguer".
São João da Madeira, sublinhou, é "terra de empresários e trabalhadores" e "existe fruto do trabalho e do esforço criativo do seu povo", começando por ser o "principal pólo da indústria chapeleira" em Portugal até que, fruto da evolução dos tempos, os chapéus deixaram de se usar e a indústria entrou em crise. Daí, os trabalhadores e empresários do concelho substituíram essa indústria pela do calçado.
"Como o mundo não pára, o setor do calçado hoje é só mais um entre muitos. A capacidade de criar e de fazer, de cair e de reerguer faz parte da identidade de ser sanjoanense", assinalou para fazer o seu retrato.
Os elogios a Costa, "um dos melhores políticos portugueses"
Em 2014, recordou, foi "em bom tempo" um dos primeiros a apoiar António Costa e, desde aí, teve "oportunidade de trabalhar com um dos melhores políticos portugueses", elogiou, destacando o trabalho do primeiro-ministro nas florestas e combate à pandemia, mas também no crescimento económico, redução da dívida e crescimento do emprego.
"António Costa foi o líder que derrubou os muros erguidos entre o PS e os outros partidos da esquerda parlamentar, foi ele quem teve a iniciativa de desfazer o bloqueio que colocava o PS em desvantagem face a uma direita que se conseguia entender para governar", mas o seu maior desígnio - e escolheu usar uma expressão do próprio, "um abuso" assumido - foi "emprego, emprego, emprego".
"É verdade que ainda há muito por fazer, e que são muitos os problemas que afligem as famílias portuguesas, mas seria errado e injusto esquecer o legado que é deixado ao país pelos governos liderados por António Costa", assinalou.
Salários, habitação, um "Portugal inteiro"
A primeira grande preocupação apresentada neste final de tarde foi com os "salários dignos", que diz valorizarem trabalhadores e serem uma forma de travar a saída dos jovens do país, reforçando também a administração pública. "Não teremos salários dignos no presente e pensões dignas no futuro sem empresas fortes e rentáveis", sendo para isso necessária uma "economia sofisticada" com apoio "sistemático" à inovação nas empresas, cujos desafios "não devem ser ignorados".
Seguiu-se a habitação, tema em que Pedro Nuno Santos vê as famílias "esmagadas pela inflação e pelo aumento das taxas de juro" e que não se encerra "só num teto".
"É o nosso primeiro direito porque sem ele dificilmente conseguiremos garantir os outros", avisou, recordando o seu próprio trabalho como ministro e o lançamento do "maior plano de investimento público em habitação da história da nossa democracia", do qual jã foram entregues 2500 casas, mas estando o país ainda "muito longe do parque público" necessário. O apoio às rendas foi também recordado por Pedro Nuno Santos, que elegeu como essencial o diálogo entre inquilinos, famílias, proprietários e bancos.
O terceiro pilar do discurso foi o da valorização do interior, com o socialista a apontar que "damo-nos ao luxo de não aproveitarmos plenamente mais de 70% do nosso território". Por isso, disse querer construir "um país inteiro", ouvindo as populações e autarcas destas zonas, "o povo que nunca desistiu das suas terras". Neste "Portugal inteiro", inclui também a Madeira e os Açores, que "sabem que podem continuar a contar com o PS".
O toque ao PSD e o trunfo da idade
Já de olho no futuro combate político, apontou à direita, que acusou de não cumprir as promessas que faz, lembrando os cortes nos salários e pensões, na saúde e na educação e o aumento de impostos. A mesma direita, notou, que "ainda agora nos promete que não fará acordos com a direita populista, racista e xenófoba, quando é precisamente isso que se prepara para fazer", lançou, referindo-se ao Chega.
E com o país a caminho dos 50 anos do 25 de Abril, Pedro Nuno Santos assinalou que esta "será a primeira vez que o país poderá eleger um líder que já nasceu em liberdade" - nasceu em 1977 - e que viveu "quase toda a sua vida numa sociedade com as instituições essenciais de um Estado de direito democrático e social: Eleições livres, liberdade de expressão e de associação, uma justiça independente, uma escola pública que garanta a educação de todos sem olhar à origem social, um SNS que não pergunta se o doente tem dinheiro para pagar o tratamento, uma Segurança Social pública que protege todos, independentemente dos azares da vida."
O candidato socialista notou a necessidade de "consolidar estas conquistas", assegurando que há "bases essenciais para gozar a liberdade que devia ser de todos" e que tal só pode ser feito com um PS "unido e forte".
Precisamente nessa dimensão da união ou divisão do partido, rejeito que esteja em curso um conflito "entre a moderação e o radicalismo", referindo-se a José Luís Carneiro e a si, mas que "o que está em causa é quem num dado momento está em melhores condições de unir o partido".
No fecho do discurso, desejou "força" aos camaradas presentes: "Temos umas eleições para vencer. Viva o PS, viva Portugal."